|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CASO RICHTHOFEN
Associação de criminalistas quer que Promotoria investigue caso
Suzane algemada à parede é tortura, afirma entidade
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Acrimesp (Associação dos
Advogados Criminalistas do Estado de São Paulo), por intermédio
do presidente de seu Conselho
Superior, o advogado Ademar
Gomes, 63, requereu ontem ao
Ministério Público a abertura de
inquérito para apurar denúncia
de tortura contra Suzane von
Richthofen, que confessou ter
participado do assassinato dos
pais Manfred, 49, e Marísia Richthofen, 50, em outubro de 2002.
A situação de tortura a que se
refere a denúncia da Acrimesp
aconteceu durante a noite de anteontem, depois de Suzane ter sua
prisão preventiva decretada.
Levada ao DHPP (departamento de homicídios), em São Paulo,
a jovem passou a noite sentada
em uma cadeira, algemada com
as mãos para frente.
Segundo descrição do delegado
José Masi, da algema presa aos
pulsos de Suzane saía uma corrente que, na outra extremidade,
estava ligada a uma argola fixada
na parede. O delegado justificou a
manutenção de Suzane nessas
condições, e não na carceragem,
como acontece normalmente,
porque não havia cela disponível.
"Não se justifica que autoridades policiais se julguem no direito
de fazer uma pessoa passar mais
de 12 horas sentada, algemada a
uma argola pendurada na parede", disse Gomes.
A Justiça determinou o retorno
de Suzane à cadeia a pedido do
Ministério Público, que considerou que, além da possibilidade de
fuga, ela representava um risco
para seu irmão, Andreas.
A decisão ocorreu após entrevista dela ao "Fantástico" -na
qual seus advogados a orientam a
chorar- e depois da divulgação
de que ela entrou na Justiça para
administrar os bens dos pais, sob
a alegação de que seu irmão estava "dilapidando" o patrimônio.
Pela lei 9.455, de 1997, é crime de
tortura a autoridade policial "submeter alguém, sob sua guarda,
poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a
intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
pessoal ou medida de caráter preventivo". A pena prevista para os
autores do crime é de dois a oito
anos de reclusão. "Tratamento
atroz tem de ser punido. O agente
policial não pode, por causa do
clamor público, desrespeitar a
condição humana dessa maneira", afirmou o advogado.
O médico-legista Luiz Fernando
Zantut, que foi chamado para
examinar Suzane na manhã seguinte à prisão dela, disse que a
jovem aparentava "estar bem,
descansada e nutrida".
Segundo o conselheiro da Acrimesp, "todos os jornais noticiaram o tratamento degradante a
que Suzane foi submetida. Agora,
o Ministério Público tem de investigar. Uma vez comprovada a
tortura contra a jovem, o Estado
poderá ainda ter de responder
por danos físicos e morais."
O advogado Hélio Bicudo, célebre por sua histórica defesa dos
direitos humanos, disse que somente quando existe risco de fuga
ou de violência por parte do preso
(contra si ou contra outrem) é que
se devem usar as algemas.
O juiz aposentado Luiz Flávio
Gomes disse que as condições em
que Suzane foi mantida são de
quinto mundo.
A Secretaria da Segurança Pública afirmou, por intermédio de
sua assessoria, que só comentará
o assunto, quando notificada
oficialmente.
Texto Anterior: Assassinato de 7 na Sé continua sem solução Próximo Texto: Jovem fica presa ao menos até 2ª Índice
|