São Paulo, domingo, 13 de abril de 2008

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Caso Isabella Nardoni abala crianças, dizem psicólogos

Suspeitas sobre pai e madrasta da menina confundem "segurança interna" dos pequenos

Recomendação é que pais filtrem as informações e desacreditem a hipótese de que parentes tenham responsabilidade no crime

CLÁUDIA COLLUCCI
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO

DA REPORTAGEM LOCAL

"Não pode, mãe, não pode o pai matar a filha." Desde a morte da menina Isabella Nardoni, 5, essa frase tem sido repetida insistentemente por Milena, 9. A mãe, Nadeje Mendes, 34, tenta acalmar a filha, explicando que esses crimes são raros e que não há provas de que o pai tenha sido o responsável pela morte da garota.
Mesmo sem saber, Nadeje segue uma das recomendações de psicólogos sobre como os pais devem tratar desse espinhoso assunto com os filhos. Regra número um: filtrar o que os pequenos vêem na TV. Regra número dois: desacreditar até que haja provas concretas e que o caso seja solucionado.
Para Ana Bahia Bock, professora de psicologia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) e ex-presidente do Conselho Federal de Psicologia, a repercussão do crime esbarra em dois acordos muito bem estabelecidos na sociedade brasileira: o de que a criança deve ser protegida e o de que os pais são os principais responsáveis por essa segurança. "A informação de que um pai pode ter matado a própria filha desestabiliza a criança", afirma Bock.

Conversa
Segundo a psicóloga, os pais devem conversar com os filhos no sentido de contrapropor as suspeitas que recaem sobre o pai e a madrasta de Isabella. "Nesse momento, como não há certeza de nada, tem que desacreditar."
Caso haja comprovação da participação do pai ou da madrasta no crime, Bock defende que os pais expliquem aos filhos que existem casais que podem fazer isso, mas que são casos muito raros.
Beatriz Belluzzo Brando Cunha, coordenadora da comissão de psicologia e educação do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, diz que "é preciso deixar claro para as crianças que coisas ruins acontecem, mas não em todos os lugares, nem com todas as pessoas".
"É preciso que os pais entendem até onde foi a representação disso para a criança."

Justiça
A psicóloga Malu Feitosa também concorda com essa abordagem. Para ela, se a criança não puder ser poupada das informações sobre o crime, tem que ser convencida de que esses casos são exceções e de que a Justiça vai se encarregar de punir o culpado.
Feitosa explica que, diante de tantas informações desencontradas e conflitantes sobre o crime, o sistema interno de segurança da criança fica abalado.
Pai de dois garotos, o empresário Maurício de Almeida, 36, conta a resposta que o filho mais velho, de sete anos, deu depois de receber uma repreensão: "Você não vai me atirar pela janela, né?" E o pai diz ainda não saber como reagir.


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