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Caso Isabella Nardoni abala crianças, dizem psicólogos
Suspeitas sobre pai e madrasta da menina confundem "segurança interna" dos pequenos
Recomendação é que pais filtrem as informações e desacreditem a hipótese de que parentes tenham responsabilidade no crime
CLÁUDIA COLLUCCI
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Não pode, mãe, não pode o
pai matar a filha." Desde a morte da menina Isabella Nardoni,
5, essa frase tem sido repetida
insistentemente por Milena, 9.
A mãe, Nadeje Mendes, 34, tenta acalmar a filha, explicando
que esses crimes são raros e
que não há provas de que o pai
tenha sido o responsável pela
morte da garota.
Mesmo sem saber, Nadeje
segue uma das recomendações
de psicólogos sobre como os
pais devem tratar desse espinhoso assunto com os filhos.
Regra número um: filtrar o que
os pequenos vêem na TV. Regra
número dois: desacreditar até
que haja provas concretas e que
o caso seja solucionado.
Para Ana Bahia Bock, professora de psicologia da PUC
(Pontifícia Universidade Católica) e ex-presidente do Conselho Federal de Psicologia, a repercussão do crime esbarra em
dois acordos muito bem estabelecidos na sociedade brasileira: o de que a criança deve ser
protegida e o de que os pais são
os principais responsáveis por
essa segurança. "A informação
de que um pai pode ter matado
a própria filha desestabiliza a
criança", afirma Bock.
Conversa
Segundo a psicóloga, os pais
devem conversar com os filhos
no sentido de contrapropor as
suspeitas que recaem sobre o
pai e a madrasta de Isabella.
"Nesse momento, como não
há certeza de nada, tem que
desacreditar."
Caso haja comprovação da
participação do pai ou da madrasta no crime, Bock defende
que os pais expliquem aos filhos que existem casais que podem fazer isso, mas que são casos muito raros.
Beatriz Belluzzo Brando Cunha, coordenadora da comissão
de psicologia e educação do
Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, diz que "é preciso deixar claro para as crianças que coisas ruins acontecem,
mas não em todos os lugares,
nem com todas as pessoas".
"É preciso que os pais entendem até onde foi a representação disso para a criança."
Justiça
A psicóloga Malu Feitosa
também concorda com essa
abordagem. Para ela, se a criança não puder ser poupada das
informações sobre o crime, tem
que ser convencida de que esses casos são exceções e de que
a Justiça vai se encarregar de
punir o culpado.
Feitosa explica que, diante de
tantas informações desencontradas e conflitantes sobre o
crime, o sistema interno de segurança da criança fica abalado.
Pai de dois garotos, o empresário Maurício de Almeida, 36,
conta a resposta que o filho
mais velho, de sete anos, deu
depois de receber uma repreensão: "Você não vai me atirar pela janela, né?" E o pai diz
ainda não saber como reagir.
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