WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Sempre de blazer, branco, quando dava, Adelino Nascimento subia ao palco, com as dançarinas de pouca roupa. Olhava a platéia ensandecida, antecipando a música. "Pegue o telefone, diz que me ama. Diz que adora, não me engana. Você é tudo, que eu mais quero. Vem me escutar." Tinha, então, certeza de que conseguira o que queria. Era um rei da música brega.
O "cantor apaixonado do povão" nasceu Eunocelino Araújo do Nascimento, um entre nove irmãos pobres de Turiaçu (PI) que trabalhavam na roça. "Mas dizia que seria cantor", diz o irmão. O sucesso veio quando o pai vendeu um terreno e pagou a gravação do "tape", em 1981, que enviou a um empresário em São Paulo. Ele gostou e gravou seu disco. Logo veio o boom de shows, de Aracaju a Boa Vista. "Músicas românticas de tocar em cabaré. Ou "brega chique'", diz o irmão.
Não colou, porém, para elegê-lo prefeito de Maracaçumé (MA), em 1996. Desistiu então da política e seguiu a carreira de músico, gravando um disco atrás do outro e vivendo a boemia que pedira a Deus. "Bebia muito", especialmente cerveja -até descobrir a cachaça com coca-cola, mistura da qual virou fã, especialmente durante as longas partidas de bilhar com os amigos.
Segundo o cálculo dos irmãos, era casado pela segunda vez e tinha sete filhos, um neto e "uma asma terrível". Na quarta, fazia um show, quando passou mal. Morreu na quinta, aos 52.

obituario@folhasp.com.br

Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Polícia de São Paulo usa ciência para solucionar crimes hediondos
Índice