São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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Ônibus atrai mais leitor que biblioteca fixa

Em fevereiro, veículos da prefeitura adaptados reuniram média superior à de 23 bibliotecas tradicionais de São Paulo

Ônibus tem 180 leitores por dia em bairro carente da zona leste, mais que a média registrada na biblioteca mais visitada da cidade


GABRIELA GASPARINI
DO "AGORA"

Não há biblioteca pública no Jardim Helena (zona leste da cidade de São Paulo), e a mais próxima fica a cerca de quatro quilômetros do bairro. Talvez seja por esse motivo que os moradores da região, que tem a segunda menor renda mensal do município -R$ 864-, sejam os que mais frequentam os ônibus equipados pela prefeitura para funcionar como bibliotecas em bairros da periferia da capital.
Até a biblioteca mais visitada da cidade em fevereiro, a Monteiro Lobato, que é infantil e fica no centro, recebeu menos frequentadores por dia em média do que o ônibus que vai ao Jardim Helena uma vez por semana. No bairro da zona leste, 180 leitores visitaram o veículo por dia. Na Monteiro Lobato, a média diária foi de 166 -4.320 no mês-, segundo a prefeitura.
O Jardim Helena, entretanto, não é a única região da cidade aonde os livros chegam de transporte público. Ao todo, todos os meses, quatro ônibus levam de 4.000 a 6.000 volumes cada um a 28 endereços sem biblioteca. O acervo total dos veículos é de 140 mil volumes.
Em fevereiro, o público dos quatro ônibus biblioteca foi de 4.827 leitores, totalizando 7.167 empréstimos (6.211 livros e 956 revistas). Assim, cada veículo foi procurado por, em média, 1.207 pessoas.
Nesse mesmo período, 23 das 50 bibliotecas da capital tiveram menos frequentadores do que a média verificada nos ônibus. Enquanto cada veículo recebeu em média 40 leitores por dia (é bom lembrar que os 180 do Jardim Helena entram na conta, mas o bairro é o que tem maior público, e as paradas ali são semanais), essas 23 bibliotecas fixas receberam 35, ou 924 visitantes no mês.
A falta de outras opções de lazer na periferia é um dos motivos que atraem os leitores aos ônibus, segundo a professora de biblioteconomia da Fespsp (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo) Maria das Mercês Apóstolo.
Para a especialista, esses veículos levam a biblioteca a quem não pode ir até ela, seja por falta de tempo, de conhecimento ou de dinheiro. "A biblioteca móvel leva cultura às regiões que não têm. Por ser despojada, dentro do ônibus, a relação com os leitores é mais simples."
É o que aconteceu com a menina Giovanna Campos, 8. Atraída pelo ônibus colorido perto da sua casa, na Vila Penteado (zona norte), convenceu a mãe a levá-la ao local. "Pedi para deixar eu ler", afirmou. A mãe, a vendedora Márcia Campos, conta que no bairro não há muitos locais de lazer para levar a menina.
Maria das Mercês disse que a situação é diferente nas bibliotecas fixas, que precisam atrair o leitor. "As pessoas vão à biblioteca mais próxima. Às vezes, o público da região mudou, e a biblioteca, não", afirmou.


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