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Ônibus atrai mais leitor que biblioteca fixa
Em fevereiro, veículos da prefeitura adaptados reuniram média superior à de 23 bibliotecas tradicionais de São Paulo
Ônibus tem 180 leitores por dia em bairro carente da zona leste, mais que a média registrada na biblioteca mais visitada da cidade
GABRIELA GASPARINI
DO "AGORA"
Não há biblioteca pública no
Jardim Helena (zona leste da
cidade de São Paulo), e a mais
próxima fica a cerca de quatro
quilômetros do bairro. Talvez
seja por esse motivo que os moradores da região, que tem a segunda menor renda mensal do
município -R$ 864-, sejam os
que mais frequentam os ônibus
equipados pela prefeitura para
funcionar como bibliotecas em
bairros da periferia da capital.
Até a biblioteca mais visitada
da cidade em fevereiro, a Monteiro Lobato, que é infantil e fica no centro, recebeu menos
frequentadores por dia em média do que o ônibus que vai ao
Jardim Helena uma vez por semana. No bairro da zona leste,
180 leitores visitaram o veículo
por dia. Na Monteiro Lobato, a
média diária foi de 166 -4.320
no mês-, segundo a prefeitura.
O Jardim Helena, entretanto, não é a única região da cidade aonde os livros chegam de
transporte público. Ao todo, todos os meses, quatro ônibus levam de 4.000 a 6.000 volumes
cada um a 28 endereços sem biblioteca. O acervo total dos veículos é de 140 mil volumes.
Em fevereiro, o público dos
quatro ônibus biblioteca foi de
4.827 leitores, totalizando
7.167 empréstimos (6.211 livros
e 956 revistas). Assim, cada veículo foi procurado por, em média, 1.207 pessoas.
Nesse mesmo período, 23 das
50 bibliotecas da capital tiveram menos frequentadores do
que a média verificada nos ônibus. Enquanto cada veículo recebeu em média 40 leitores por
dia (é bom lembrar que os 180
do Jardim Helena entram na
conta, mas o bairro é o que tem
maior público, e as paradas ali
são semanais), essas 23 bibliotecas fixas receberam 35, ou
924 visitantes no mês.
A falta de outras opções de lazer na periferia é um dos motivos que atraem os leitores aos
ônibus, segundo a professora
de biblioteconomia da Fespsp
(Fundação Escola de Sociologia
e Política de São Paulo) Maria
das Mercês Apóstolo.
Para a especialista, esses veículos levam a biblioteca a quem
não pode ir até ela, seja por falta
de tempo, de conhecimento ou
de dinheiro. "A biblioteca móvel leva cultura às regiões que
não têm. Por ser despojada,
dentro do ônibus, a relação com
os leitores é mais simples."
É o que aconteceu com a menina Giovanna Campos, 8.
Atraída pelo ônibus colorido
perto da sua casa, na Vila Penteado (zona norte), convenceu
a mãe a levá-la ao local. "Pedi
para deixar eu ler", afirmou. A
mãe, a vendedora Márcia Campos, conta que no bairro não há
muitos locais de lazer para levar a menina.
Maria das Mercês disse que a
situação é diferente nas bibliotecas fixas, que precisam atrair
o leitor. "As pessoas vão à biblioteca mais próxima. Às vezes, o público da região mudou,
e a biblioteca, não", afirmou.
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