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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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TRANSPORTE

Segundo Ministério Público, presidente e dois diretores teriam movimentação financeira incompatível com a renda

Promotor quer abrir contas de sindicalistas

PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público Federal decidiu pedir ontem a quebra do sigilo bancário do presidente do sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo, Edivaldo Santiago, e de outros dois integrantes da diretoria-executiva da entidade, Edvaldo Gomes de Oliveira, o Dentinho, e Francisco Xavier da Silva Filho, conhecido como Chiquinho.
O pedido foi feito com base em dossiê da Receita Federal. O documento, segundo a Promotoria, aponta que os três teriam movimentação financeira incompatível com a renda.
Os dados foram obtidos depois que a Procuradoria da República em São Paulo pediu a comparação entre a renda declarada pelos três, além de outros seis diretores da entidade, e a movimentação financeira, que pode ser estimada em razão da cobrança de CPMF. Com a quebra do sigilo bancário, os promotores querem, por meio de extratos detalhados, saber a origem do dinheiro.
A conclusão dos dossiês dos outros seis investigados será enviada ao Ministério Público até o final da semana. Todos os nove sindicalistas são investigados por crimes contra a organização do trabalho e contra a ordem tributária, desobediência a ordem judicial e formação de quadrilha.
A investigação começou com base em reportagem publicada pela Folha, no início do mês, mostrando que Dentinho possui uma casa em Itu (a 103 km de São Paulo) avaliada por ele mesmo em R$ 380 mil. Já Chiquinho possui um Celta e um Audi A3 1.8 -cujo modelo mais barato, ano 97, custa cerca de R$ 28 mil. Os dois têm renda mensal de cerca de R$ 2.000, já incluída a ajuda de custo do sindicato.

Outra denúncia
Ontem, um ex-diretor do sindicato dos motoristas e cobradores, Marco Antonio Coutinho Silva, 36, acusou a atual diretoria da entidade -inclusive Edivaldo Santiago- de cobrar propina para realizar greves na cidade.
Sem mostrar documentos, Silva afirmou -em entrevista à Rede Globo- que uma greve na cidade pode custar de R$ 800 mil a R$ 1 milhão. O dinheiro, supostamente pago por empresários do setor, seria rateado entre a diretoria do sindicato. O objetivo das greves -foram nove durante a gestão Marta Suplicy (PT)- seria forçar aumento das tarifas de ônibus.
"O Edivaldo dizia: tem que ter greve amanhã de qualquer forma. E todo mundo vai ganhar o seu "cala-boca" [propina]", afirmou, durante a entrevista.
Silva, que alega ter presenciado alguns desses acordos, também afirmou que as propinas são uma forma de os empresários controlarem os "ânimos nas garagens" e evitarem, com isso, depredações e paralisações motivadas por reivindicações salariais.
O Ministério Público Estadual informou que chamará Silva para depor. Ele está escondido -há mais de um ano- em uma cidade do Nordeste por conta das ameaças que alegou receber.
Segundo José Carlos Blat, promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), as informações do ex-sindicalista serão checadas.
"Estamos realizando investigações e diligências. Mas, se todas as informações forem verídicas, estaremos diante de um sindicato do crime", afirmou.
A advogada de Silva, Zilda de Fátima Galdino Pinheiro, foi procurada pela Folha. Afirmou que não conseguiu localizar o cliente, mas que ele falaria hoje.
Marta Suplicy disse que as acusações feitas pelo ex-sindicalista comprovam que há um conluio entre sindicalistas e empresários. "É um sindicato dirigido por pessoas que não são honestas, que, ao invés de defenderem os direitos dos trabalhadores, defendem seus bolsos e não se portam honestamente, prejudicando milhões."


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