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TRANSPORTE
Segundo Ministério Público, presidente e dois diretores teriam movimentação financeira incompatível com a renda
Promotor quer abrir contas de sindicalistas
PALOMA COTES
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Federal
decidiu pedir ontem a quebra do
sigilo bancário do presidente do
sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus de São Paulo,
Edivaldo Santiago, e de outros
dois integrantes da diretoria-executiva da entidade, Edvaldo Gomes de Oliveira, o Dentinho, e
Francisco Xavier da Silva Filho,
conhecido como Chiquinho.
O pedido foi feito com base em
dossiê da Receita Federal. O documento, segundo a Promotoria,
aponta que os três teriam movimentação financeira incompatível com a renda.
Os dados foram obtidos depois
que a Procuradoria da República
em São Paulo pediu a comparação entre a renda declarada pelos
três, além de outros seis diretores
da entidade, e a movimentação financeira, que pode ser estimada
em razão da cobrança de CPMF.
Com a quebra do sigilo bancário,
os promotores querem, por meio
de extratos detalhados, saber a
origem do dinheiro.
A conclusão dos dossiês dos outros seis investigados será enviada
ao Ministério Público até o final
da semana. Todos os nove sindicalistas são investigados por crimes contra a organização do trabalho e contra a ordem tributária,
desobediência a ordem judicial e
formação de quadrilha.
A investigação começou com
base em reportagem publicada
pela Folha, no início do mês,
mostrando que Dentinho possui
uma casa em Itu (a 103 km de São
Paulo) avaliada por ele mesmo
em R$ 380 mil. Já Chiquinho possui um Celta e um Audi A3 1.8
-cujo modelo mais barato, ano
97, custa cerca de R$ 28 mil. Os
dois têm renda mensal de cerca de
R$ 2.000, já incluída a ajuda de
custo do sindicato.
Outra denúncia
Ontem, um ex-diretor do sindicato dos motoristas e cobradores,
Marco Antonio Coutinho Silva,
36, acusou a atual diretoria da entidade -inclusive Edivaldo Santiago- de cobrar propina para realizar greves na cidade.
Sem mostrar documentos, Silva
afirmou -em entrevista à Rede
Globo- que uma greve na cidade
pode custar de R$ 800 mil a R$ 1
milhão. O dinheiro, supostamente pago por empresários do setor,
seria rateado entre a diretoria do
sindicato. O objetivo das greves
-foram nove durante a gestão
Marta Suplicy (PT)- seria forçar
aumento das tarifas de ônibus.
"O Edivaldo dizia: tem que ter
greve amanhã de qualquer forma.
E todo mundo vai ganhar o seu
"cala-boca" [propina]", afirmou,
durante a entrevista.
Silva, que alega ter presenciado
alguns desses acordos, também
afirmou que as propinas são uma
forma de os empresários controlarem os "ânimos nas garagens" e
evitarem, com isso, depredações e
paralisações motivadas por reivindicações salariais.
O Ministério Público Estadual
informou que chamará Silva para
depor. Ele está escondido -há
mais de um ano- em uma cidade do Nordeste por conta das
ameaças que alegou receber.
Segundo José Carlos Blat, promotor do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), as informações
do ex-sindicalista serão checadas.
"Estamos realizando investigações e diligências. Mas, se todas as
informações forem verídicas, estaremos diante de um sindicato
do crime", afirmou.
A advogada de Silva, Zilda de
Fátima Galdino Pinheiro, foi procurada pela Folha. Afirmou que
não conseguiu localizar o cliente,
mas que ele falaria hoje.
Marta Suplicy disse que as acusações feitas pelo ex-sindicalista
comprovam que há um conluio
entre sindicalistas e empresários.
"É um sindicato dirigido por pessoas que não são honestas, que, ao
invés de defenderem os direitos
dos trabalhadores, defendem seus
bolsos e não se portam honestamente, prejudicando milhões."
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