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São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2003

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DESIGUALDADE

Diferença nos rendimentos em relação aos brancos quase não mudou na última década; situação de mulheres melhorou

Salários de negros são 50% mais baixos

Ed Viggiani - 01.fev.2000/Folha Imagem
Trabalhadoras de uma confecção, em Formiga (MG), fazem ginástica antes de começar o trabalho


IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na última década, a situação econômica dos negros, comparada à dos brancos, manteve-se praticamente a mesma. Pesquisa da OIT (Organização Internacional do Trabalho) divulgada ontem mostra que um negro recebe, em média, 50% do salário de um branco no Brasil. Em 1992, a taxa equivalia a 51%.
O dado esconde uma discriminação maior quando se leva em conta o aumento no grau de escolaridade dos negros. Em 92, 23% dos negros economicamente ativos e maiores de 16 anos tinham mais de sete anos de estudo. Em 2001, eram 35%.
Isso quer dizer que os trabalhadores negros não conseguiram melhorar de vida, mesmo com o aumento da escolaridade.
No corte por ano de escolaridade, os negros que mais perderam na década passada foram os que tinham de 11 a 14 anos de estudo. Nessa faixa, o salário correspondia a 71% do de um branco em 92. Em 2001, valia 68%.

Desemprego
A taxa de desemprego também prejudicou de forma mais incisiva os negros. Enquanto o desemprego entre brancos economicamente ativos maiores de 16 anos cresceu de 5,7% para 8,1% de 92 para 2001, o aumento entre negros foi de 6,9% para 10,6%. Já as mulheres negras são as que mais estão excluídas do mercado de trabalho. Em 2001, 13,8% estavam desempregadas, contra 8,6% em 92.
Na pesquisa, o salário recebido pelos homens brancos é utilizado como padrão por ser maior que todos os outros. O salário das mulheres negras, com 16 anos ou mais, por exemplo, equivalia a 39% do padrão, em 2001. Em 1992, era 37%.
Há outros dados que denotam a discriminação. Mesmo com maior nível de escolaridade, as mulheres (independentemente de cor) recebiam, em 2001, 71% do salário de um homem. Em 2002, o valor cresceu para 79%.
Mulheres com 15 ou mais anos de estudo ganhavam 57% do salário de um homem em 92 -61% em 2001. A maior variação aconteceu com os que têm até três anos de estudo: de 70% para 85%.
O ministro do Trabalho, Jaques Wagner, afirmou que o governo federal levará em conta as desigualdades de salário e acesso a trabalho para negros e mulheres nas suas políticas, mas evitou antecipar detalhes.

"Visão afirmativa"
Em relação à distribuição de programas sociais, o governo poderá dar prioridade para negros. A idéia é analisada pela secretária especial de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, e é bem-vista pela Presidência.
"Se a maioria da população pobre no Brasil é negra, obviamente os projetos sociais do governo têm que incluir essa visão afirmativa racial", afirmou.
Ainda não estão definidos prazos, metas e qual será a metodologia adotada.


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