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AIDS
Objetivo é pressionar o governo brasileiro a enfrentar indústrias farmacêuticas; São Paulo também terá manifestação hoje
Atos nos EUA pedem a quebra de patentes
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
Entidades internacionais aliaram-se a ONGs brasileiras e lançaram protestos em Nova York,
Washington e Paris para pressionar o governo brasileiro a quebrar
a patente de três medicamentos
contra a Aids.
Hoje os ativistas fazem uma manifestação em frente à representação do Brasil nas Nações Unidas,
em Manhattan, em Nova York.
Outro ato está programado para
Washington. Ontem, um grupo já
havia protestado diante da embaixada parisiense. No Brasil, a
manifestação está programada
para as 13h de hoje, na praça da
República, em São Paulo.
"Tivemos muitas discussões sobre criticar ou não o Brasil, mas
nesse caso achamos que eles [o
governo] estão abrindo mão de
sua autoridade moral", disse à Folha Shanti Avirgan, ativista da
ONG Act Up, que considera o país
um "modelo para os outros" na
questão da Aids.
Esses grupos afirmam que o governo brasileiro havia fixado um
prazo de um mês, no dia 15 de
março, para a quebra de patentes
de três medicamentos contra a
Aids, caso as empresas farmacêuticas não cedessem os direitos de
fabricação dos remédios. Essas
três drogas consomem em torno
de 80% da verba gasta na medicação de combate à doença, hoje em
torno de R$ 560 milhões.
Passado quase um mês do fim
do ultimato, de acordo com as
ONGs nacionais e estrangeiras, o
governo do Brasil ainda não tomou nenhuma medida. "Vamos
lançar um apelo para que o Brasil
mostre seus dentes e não faça
mais promessas vazias", disse
Shanti. No início da semana, a organização francesa Médicos Sem
Fronteiras já tinha acusado o Brasil de ser um "tigre sem dentes",
que apenas ameaça, mas não quebras as patentes.
Regra da OMC
As entidades querem que o Brasil utilize uma regra da Organização Mundial do Comércio que
autoriza a quebra de patentes em
casos de emergência nacional.
Em Paris, dois representantes
da dúzia de manifestantes foram
recebidos por uma funcionária da
embaixada. Hoje, deve haver cerca de 15 pessoas na manifestação
em Nova York, e a representação
do Brasil na ONU já disse que
uma pequena delegação deve ser
recebida, informaram as ONGs.
Quando, no meio da semana,
mais de cem entidades da sociedade civil cobraram do Brasil a
quebra de patentes, o governo
classificou o pedido de "ingênuo". Para as entidades, no entanto, o pioneirismo do Brasil no
passado é importante não só para
manter a atual política em relação
à Aids como para os demais países do mundo. "O sucesso do programa brasileiro só foi possível
pela produção local de genéricos.
Essa política baixou os preços da
medicação retroviral internacionalmente. O Ministério da Saúde
precisa se erguer contra as farmacêuticas, não apenas pelo povo
brasileiro, mas pelas pessoas com
Aids ao redor do mundo", disse
Sean Barry, da Health Gap (Global Access Project).
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