São Paulo, sábado, 13 de maio de 2006

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SEGURANÇA

Líderes da facção devem ficar em São Paulo por um período de dez a 20 dias; rebeliões no interior fizeram 24 reféns

Polícia pretendia isolar a cúpula do PCC

DA REPORTAGEM LOCAL

Antes do início da nova onda de ataques comandada pelo PCC, a polícia paulista tinha a intenção de manter a cúpula da facção criminosa isolada na sede do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), em São Paulo, por um período de dez a 20 dias, antes de encaminhá-la para Presidente Venceslau, como fez com mais de 700 presos.
A necessidade de manter os líderes em São Paulo para que prestassem depoimento seria o pretexto para cortar os canais de comunicação entre os líderes e os integrantes da facção.
A Folha apurou que a transferência foi decidida por conta das informações de que o PCC, o maior grupo criminoso organizado do Estado, tinha um plano para atacar lideranças políticas.
A transferência dos presidiários, iniciada anteontem e concluída ontem, ocorreu exatamente um dia após os delegados Godofredo Bittencourt e Rui Ferraz Fontes, do Deic, prestarem depoimento sobre as ações do grupo aos deputados da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Tráfico de Armas, em Brasília (DF). A sessão foi secreta.
A Secretaria da Administração Penitenciária não informou os critérios para as transferências, mas a Folha apurou que a penitenciária de Presidente Venceslau será transformada em uma unidade específica para o PCC.
O presídio passou por uma reforma de R$ 5 milhões, que começou em setembro de 2005, após um motim que o destruiu. Com a reforma, a capacidade da unidade passou de 852 para 1.248 presos.
A Secretaria da Administração Penitenciária não divulgou a lista de presos transferidos para Presidente Venceslau, mas informou que os critérios para a transferência foram "administrativos", para inibir rebeliões e motins nas 144 unidades prisionais do Estado. Antes dos levantes de ontem, a SAP já tinha registrado 13 rebeliões e 27 motins neste ano.
Até a conclusão desta edição, o Deic mantinha um forte esquema de segurança no prédio. O trecho da av. Zachi Narchi, na zona norte, onde fica o prédio foi fechado ao trânsito. Carros da polícia foram usados como barricada para cercar o edifício. O temor era uma possível operação de resgate.

Rebeliões
Logo após as transferências da cúpula do PCC para São Paulo, a facção comandou duas rebeliões, em Avaré (262 km a oeste de São Paulo) e em Iaras (282 km a noroeste da capital), iniciadas por volta das 16h30 de ontem.
Em ambas os detentos fizeram 12 agentes penitenciários reféns, segundo a Secretaria da Administração Penitenciária. Um agente foi liberado no começo da noite por causa dos ferimentos. Ele foi medicado e seu quadro é estável.
Armados com revolveres e pistolas, os rebelados estão no telhados dos prédios. As unidades estariam completamente destruídas. Até a conclusão desta edição, não tinham feito reivindicações.
Logo no início da rebelião, quando a polícia tentou entrar na unidade de Avaré, o capitão André Luiz de Oliveira foi baleado na perna. Ele passava bem.
Em Iaras, os detentos atearam fogo à cozinha do presídio. Os diretores das duas unidades negociavam, até a conclusão desta edição, o fim dos motins.
O presídio de Iaras abriga hoje 435 presos, mas tem capacidade para 792. Avaré 1 tem capacidade para 520 detentos. Abriga só 154, pois parte do presídio está em reforma. Era lá que Marcola estava até ontem.
Em janeiro, Marcola foi transferido para Avaré após uma tentativa frustrada de resgate no complexo penitenciário de Presidente Bernardes (589 km de SP).
Em março, foram divulgadas fotos em que Marcola aparece usando um celular dentro do presídio. Ele aparece em uma fotografia tirada por outro celular.


Colaboraram THIAGO REIS, da Agência Folha, e a Folha Ribeirão


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