São Paulo, sábado, 13 de maio de 2006

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EDUCAÇÃO

Ato parou a avenida 23 de Maio por 20 minutos e depois seguiu para o largo São Francisco, onde ocupou as salas de aula

Grupo pró-cota invade faculdade da USP

FERNANDA BASSETTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 3.000 alunos e integrantes da ONG Educafro pararam ontem por cerca de 20 minutos a avenida 23 de Maio, na altura do vale do Anhangabaú, e invadiram as salas da Faculdade de Direito da USP para reivindicar o sistema de cotas nas universidades públicas.
O ato, que pegou de surpresa a PM e a CET, foi anunciado antecipadamente no site da entidade, que trabalha com cursos pré-vestibular comunitários.
Por volta das 19h, horário de trânsito intenso, eles bloquearam a passagem de carros em ambos os sentidos. Deitaram no chão, ergueram faixas e gritavam pedindo igualdade de direitos. Segundo a PM, o ato foi pacífico. "Temos pessoal suficiente para retirar todos daí de qualquer jeito", disse o tenente Daora, que comandou a mobilização policial.
Segundo Eduardo Pereira Neto, coordenador da Educafro, o grupo pretendia paralisar a avenida durante 13 minutos, num ato simbólico para "lembrar a farsa do 13 de maio de 1888" [abolição da escravatura], mas o ato se estendeu. Após liberar a avenida, o grupo, estimado em 600 pessoas pela PM, seguiu para o prédio da Faculdade de Direito e ocupou as salas de aula, que tiveram de ser suspensas. Os vigias tentaram em vão impedir a entrada dos manifestantes, que quebraram os vidros da entrada principal.
Com megafones nas mãos, os manifestantes pediam mais agilidade na discussão do sistema de políticas alternativas para os afrodescendentes e buscavam o apoio público do diretor da faculdade, Eduardo Marchi.
"O negro e o pobre estão cansados de discursos. Queremos que a USP adote um sistema de cotas para o próximo vestibular. Essa manifestação foi um exercício de cidadania para mostrar que somos capazes de parar São Paulo a qualquer momento", disse Pereira Neto.
Ao tentar conversar com os manifestantes, Marchi foi vaiado. "Todos da Educafro já sabem que sou favorável ao sistema de cotas. Acho lamentável que, sem avisar a faculdade, eles entrem aqui de forma tão violenta. Isso só depõe contra a causa legítima, que são as cotas."
Entre os alunos, as opiniões eram divergentes. "Acho a manifestação legítima e sou a favor de cotas para negros e estudantes de baixa renda", disse Gabriel Vinícius Moura, 23, aluno do segundo ano.
Fábio, aluno do primeiro ano que não quis dar o nome completo, disse que o fato de os manifestantes invadirem as salas de aula fez ele ser contra as cotas.


Colaborou VINICIUS SEGALLA


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