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Negro ainda vive em região de porto, diz IBGE
Pesquisa mostra alta concentração de pretos e pardos próximos aos portos que atuaram como receptores de escravos
Governo pretende usar dados do instituto para produzir políticas que visem a inclusão e a redução da desigualdade racial no país
EDUARDO SCOLESE
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A distribuição da população
negra no Brasil reflete ainda
hoje a ocupação do país durante o período da escravidão, como mostra estudo feito pelo
IBGE a pedido da Secretaria
Especial da Igualdade Racial da
Presidência da República.
A partir dos dados do Censo
de 2000, os pesquisadores
apontaram uma coincidência
entre a alta concentração de
população negra (pretos e pardos autodeclarados ao IBGE) e
os portos que atuaram como
receptores de escravos: São
Luís (MA), Salvador (BA), Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ).
A capital fluminense tem
9,4% de pretos e 30,8% de pardos, enquanto Porto Alegre
(RS) tem apenas 8,7% de pretos
e 7,8% de pardos.
O trabalho do IBGE, obtido
pela Folha, aponta ainda a permanência dos negros em regiões para as quais eles se deslocaram de acordo com o desenvolvimento da economia
durante a escravidão, como o
litoral nordestino e o interior
do Maranhão e do Piauí.
"Esse mapa possibilita a
identificação espacial da população negra no Brasil, e isso
certamente vai ajudar os nossos gestores a produzir políticas públicas que visem a inclusão e a redução da desigualdade
racial no país", disse à Folha o
ministro Edson Santos (Igualdade Racial).
Hoje, em cerimônia no Planalto, o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva receberá o mapa
das mãos do ministro. No mesmo evento, será lançado um selo-postal em comemoração aos
cinco anos de criação da Secretaria Especial da Presidência.
Sob Lula, será a primeira vez
que o 13 de Maio será tema de
solenidade oficial. Há, no movimento negro, correntes que
não vêem motivos para comemorar essa data, pelo fato de,
segundo eles, a Lei Áurea, assinada 120 anos atrás pela princesa Isabel, não ter abolido de
fato a escravidão no Brasil.
"É um processo incompleto.
Mas a abolição foi um marco
em nossa história. Nós deixamos de ser tratados enquanto
coisas no Brasil e é evidente
que isso foi uma vitória", afirma o ministro. "O movimento
abolicionista colocou em xeque
o poder no Brasil. Foi um movimento amplo. Há de se celebrar e de se reverenciar a data
do 13 de Maio", completa.
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