São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2008

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anticotas

"Isso só servirá para pôr um pobre contra o outro"

DA REPORTAGEM LOCAL

Militante do movimento sindical desde os anos 80, o negro José Carlos Miranda, 43, é um dos signatários do manifesto "113 cidadãos anti-racistas contra as leis raciais", que se opõe à política de cotas: "Eu moro em um bairro pobre e considero um absurdo admitir que uma vaga de emprego disputada por dois miseráveis seja dada a alguém por um critério de cor da pele. Isso só servirá para colocar um pobre contra outro e para deixar patrões e governos de mãos livres para seguir em sua política de total irresponsabilidade social".
"Discordo totalmente dessa tentativa de racialização da sociedade brasileira. A sociedade não é dividida entre negros e brancos e sim entre exploradores e explorados."
Segundo Miranda, "o que impede, por exemplo, os negros de entrarem nas boas universidades não é a raça. É a renda. São os negros com renda mais elevada que entram na universidade, seja pelas cotas, ou não. Essa é a prova de que a exclusão se dá pela pobreza, independentemente de cor".
"A cota racial, na medida em que cria privilégios para os negros, abre uma fissura racialista que não existe atualmente", diz ele. "Nunca houve, no Brasil, essa idéia segregacionista de bairro negro, como foi o Harlem, em Nova York. Para quê copiar essas coisas?"
Para o sindicalista, o aumento da presença de negros nas universidades deveria ser feito pela melhoria da escola pública. "Enquanto as escolas públicas de ensino fundamental e médio forem a sucata educacional que são hoje, não são só os negros que serão impedidos de chegar às universidades de qualidade. Também os alunos brancos e pobres ficarão sempre de fora."
"Não será com a criação de privilégios para estudantes com cor de pele negra que se resolverá o problema da exclusão social", diz ele.


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