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anticotas
"Isso só servirá para pôr um pobre contra o outro"
DA REPORTAGEM LOCAL
Militante do movimento
sindical desde os anos 80, o
negro José Carlos Miranda,
43, é um dos signatários do
manifesto "113 cidadãos anti-racistas contra as leis raciais", que se opõe à política
de cotas: "Eu moro em um
bairro pobre e considero um
absurdo admitir que uma vaga de emprego disputada por
dois miseráveis seja dada a
alguém por um critério de
cor da pele. Isso só servirá
para colocar um pobre contra outro e para deixar patrões e governos de mãos livres para seguir em sua política de total irresponsabilidade social".
"Discordo totalmente dessa tentativa de racialização
da sociedade brasileira. A sociedade não é dividida entre
negros e brancos e sim entre
exploradores e explorados."
Segundo Miranda, "o que
impede, por exemplo, os negros de entrarem nas boas
universidades não é a raça. É
a renda. São os negros com
renda mais elevada que entram na universidade, seja
pelas cotas, ou não. Essa é a
prova de que a exclusão se dá
pela pobreza, independentemente de cor".
"A cota racial, na medida
em que cria privilégios para
os negros, abre uma fissura
racialista que não existe
atualmente", diz ele. "Nunca
houve, no Brasil, essa idéia
segregacionista de bairro negro, como foi o Harlem, em
Nova York. Para quê copiar
essas coisas?"
Para o sindicalista, o aumento da presença de negros
nas universidades deveria
ser feito pela melhoria da escola pública. "Enquanto as
escolas públicas de ensino
fundamental e médio forem
a sucata educacional que são
hoje, não são só os negros
que serão impedidos de chegar às universidades de qualidade. Também os alunos
brancos e pobres ficarão
sempre de fora."
"Não será com a criação de
privilégios para estudantes
com cor de pele negra que se
resolverá o problema da exclusão social", diz ele.
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