São Paulo, terça-feira, 13 de maio de 2008

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HENRIQUE SCHÜTZER DEL NERO (1959-2008)

E a mente inquieta do jovem psiquiatra

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ainda bem que você não sabe matemática, senão perderia meu emprego", brincou o professor Newton da Costa com o jovem psiquiatra Henrique Del Nero, diz a viúva, ao indicá-lo para assumir o Grupo de Ciência Cognitiva da USP, em 1990. "Era um exagero." Mas a "mente inquieta" já não tinha limite.
Paulistano afeito ao tênis, jogou até os 17, quando o filho de anglicanos e presbiterianos resolveu ser ateu. Trocou Deus pela medicina. No quarto ano começou filosofia; acabou ambas e especializou-se em psiquiatria.
Havia mais de 20 anos, tinha consultório com a mulher. Mas "gostava mais de estudar que de trabalhar". Fez mestrado em filosofia para entender "o problema da mente na ciência cognitiva". Quando a internet chegou ao país, já participava de palestras sobre a novidade.
Pois tinha paixão pelo novo, "fosse uma TV de plasma ou sistemas de modelagem cerebral" -que estudou no doutorado em engenharia eletrônica da Escola Politécnica. Sua sina era tentar entender como o computador imitaria o cérebro, "não o contrário". Hoje lecionava, pesquisava e pintava. "Tinha um "quezinho" de Pollock", nas telas de 4 m2 em acrílico. Só em casa, são 40, mais as 15 do consultório e os dados de presente; "todos abstratos".
Na última sexta, quando a mulher desceu para o café com os filhos -são quatro-, ele roncava. Ao voltar, achou-o morto, após um infarto fulminante. Tinha 48.
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