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HENRIQUE SCHÜTZER DEL NERO (1959-2008)
E a mente inquieta do jovem psiquiatra
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Ainda bem que você não
sabe matemática, senão perderia meu emprego", brincou o professor Newton da
Costa com o jovem psiquiatra Henrique Del Nero, diz a
viúva, ao indicá-lo para assumir o Grupo de Ciência Cognitiva da USP, em 1990. "Era
um exagero." Mas a "mente
inquieta" já não tinha limite.
Paulistano afeito ao tênis,
jogou até os 17, quando o filho de anglicanos e presbiterianos resolveu ser ateu. Trocou Deus pela medicina. No
quarto ano começou filosofia; acabou ambas e especializou-se em psiquiatria.
Havia mais de 20 anos, tinha consultório com a mulher. Mas "gostava mais de
estudar que de trabalhar".
Fez mestrado em filosofia
para entender "o problema
da mente na ciência cognitiva". Quando a internet chegou ao país, já participava de
palestras sobre a novidade.
Pois tinha paixão pelo novo, "fosse uma TV de plasma
ou sistemas de modelagem
cerebral" -que estudou no
doutorado em engenharia
eletrônica da Escola Politécnica. Sua sina era tentar entender como o computador
imitaria o cérebro, "não o
contrário". Hoje lecionava,
pesquisava e pintava. "Tinha
um "quezinho" de Pollock",
nas telas de 4 m2 em acrílico.
Só em casa, são 40, mais as 15
do consultório e os dados de
presente; "todos abstratos".
Na última sexta, quando a
mulher desceu para o café
com os filhos -são quatro-,
ele roncava. Ao voltar,
achou-o morto, após um infarto fulminante. Tinha 48.
obituario@folhasp.com.br
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