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Governo vai criar cotas para bolsas de pesquisa científica
Serão abertas 600 vagas para estudantes que ingressaram nas universidades públicas por meio de ações afirmativas
Beneficiários terão direito a
R$ 300 mensais pelo período
de um ano; objetivo da
medida é estimular alunos
a virarem pesquisadores
EDUARDO SCOLESE
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal irá instituir pela primeira vez cotas em
bolsas de pesquisa. Num programa de iniciação científica,
serão criadas 600 vagas exclusivas para alunos que ingressaram nas universidades públicas
por meio de ações afirmativas,
como cotas raciais (para alunos
negros) e sociais (para estudantes oriundos de escola pública).
As novas vagas farão parte de
uma linha do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
Científica, o Pibic, que já oferece todo ano aproximadamente
20 mil bolsas no país.
O lançamento acontece hoje,
data que marca os 121 anos da
Abolição no Brasil. Será assinado um termo de cooperação entre a Secretaria da Igualdade
Racial da Presidência e o CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), ligado ao Ministério da
Ciência e Tecnologia.
Assim como já ocorre nas demais linhas do Pibic, os beneficiários terão direito a R$ 300
mensais no período de um ano.
O orçamento dessa linha é de
R$ 2,1 milhões, sendo R$ 1,8
milhão em recursos do CNPq e
o restante da Igualdade Racial.
Normalmente, para obter a
bolsa de iniciação científica, o
candidato tem que estudar em
alguma instituição credenciada
no programa do CNPq.
A seleção dos estudantes é
feita pela própria universidade,
a partir de um projeto de pesquisa. A regra também valerá
para quem pleitear uma vaga
por meio da cota.
Projeto-piloto
A nova medida é tratada pelo
governo federal como um projeto-piloto. Caso seja bem sucedida, a ideia é expandi-la em
outras áreas.
Na esfera federal, uma iniciativa parecida ocorre desde
2002 no Instituto Rio Branco,
do Itamaraty, por meio de um
programa de bolsas-prêmio
para estimular o ingresso de
afrodescendentes na carreira
diplomática.
No caso da bolsa de iniciação
científica, o objetivo é estimular universitários a virarem
pesquisadores e tornar mais
eficiente a pós-graduação, reduzindo o período de realização de um mestrado ou doutorado. Poderão aderir à nova linha as universidades públicas
que já adotam políticas de
ações afirmativas.
"Essa bolsa é um marco na
manutenção de estudantes nas
universidades. O nosso dilema
não é apenas com a entrada,
mas também com a permanência deles. Esses alunos [que ingressam por ações afirmativas]
terão a chance de se interessar
pela ciência", afirma Martvs da
Chagas, subsecretário de Políticas de Ações Afirmativas da
Secretaria da Igualdade Racial.
O CNPq não soube informar
quantos estudantes do Pibic
hoje são negros ou entraram na
universidade por meio de ações
afirmativas.
Considerando todo o ensino
superior do país, os números do
IBGE mostram que os negros e
pardos são 38% dos alunos de
graduação, embora sejam metade da população, pela Pnad
de 2007. No mestrado e no
doutorado, que o governo quer
incentivar, só um terço dos estudantes é negro.
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