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Tributo a patrocinadores divide direito da USP
Portaria de ex-diretor e atual reitor com a nomeação foi aprovada pela congregação da faculdade, mas os opositores já recorreram
Nomes de ex-alunos cujas famílias bancaram reformas são dados a salas, gerando polêmica
UIRÁ MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Duas salas ultramodernas e
construídas ao custo aproximado de R$ 1 milhão cada uma estão no centro de uma polêmica
na tradicional Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo. A discussão mobiliza
alunos, ex-alunos, professores,
ex-diretores e o atual diretor da
quase bicentenária instituição.
Os atores envolvidos debatem a pertinência de atribuir às
duas novas salas os nomes do
advogado (José Martins) Pinheiro Neto (1917-2005) e do
banqueiro Pedro Conde (1922-2003), ex-alunos da faculdade,
cujas famílias doaram a quantia
necessária para as reformas.
Os nomes foram estabelecidos por portaria do ex-diretor
João Grandino Rodas (atual
reitor da universidade) e aprovados pela congregação da faculdade, mas os opositores já
recorreram dessa decisão.
Alegam problemas formais,
como o descumprimento dos
ritos legais para aceitação da
doação, e questionam a conveniência de dar às salas nomes
de pessoas que não foram professores da faculdade, rompendo com tradição da casa.
Segundo Antonio Magalhães
Gomes Filho, diretor da faculdade, a única sala de aula que
não tinha nome de ex-professor era a Visconde de São Leopoldo -ex-ministro de dom
Pedro 1º, ele teve papel fundamental na instituição dos cursos jurídicos no país, em 1827.
Mas o diretor não é contra a
nomeação: "Não vejo nenhum
inconveniente em aceitar recursos privados para ter boas
salas, e essas novas são ótimas.
Os nomes são uma forma normal de agradecimento. Nos
EUA esse processo é bastante
comum".
Antiquada, não
Para o ex-diretor Rodas, a
discussão sobre os nomes é
"muito empobrecedora": "A faculdade é tradicional, mas não
precisa ser antiquada. Minha
gestão [agosto de 2006 a janeiro de 2010] buscou modernizar
a faculdade. Quando assumi, tínhamos dois projetores".
Rodas faz questão de destacar que a construção das novas
salas "faz parte de um contexto
mais amplo". Em sua gestão, o
currículo da faculdade foi alterado, exigindo um número
maior de salas de aula.
Dentro do mesmo processo,
ele determinou a mudança da
biblioteca da faculdade para
um prédio anexo -o que também foi objeto de críticas.
O professor Sérgio Salomão
Shecaira é um dos que se
opõem "à forma como tudo foi
feito". Para ele, o deslocamento
da biblioteca e a nomeação das
salas "causaram muita perplexidade" e "colocaram a faculdade em pé de guerra".
"Não sou contra a entrada de
dinheiro privado na universidade. Mas é preciso ter critérios. Não vejo por que criar exceção na tradição para esses
dois nomes, sobretudo para um
banqueiro. Há um custo político muito alto", diz.
Transparência
Professor de direito penal,
Shecaira afirma que o ex-diretor poderia ser processado por
improbidade administrativa
"pela forma como conduziu a
transferência da biblioteca, colocando em risco o patrimônio
público, e por ter ocultado o
contrato de doação com a família de Pedro Conde".
Rodas afirma que não houve
segredo quanto ao contrato.
"Tanto assim que a ex-presidente do Centro Acadêmico XI
de Agosto foi testemunha."
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