São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2000


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INFÂNCIA PERDIDA
Internos se amotinam por oito horas
Monitora é jogada de cima do telhado em rebelião na Febem

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Internos da Febem Tatuapé (zona leste de São Paulo) se rebelaram ontem por oito horas e jogaram uma monitora de cima do telhado. Eles mantiveram quatro funcionários como reféns e deixaram 5 das 16 unidades parcialmente destruídas.
No final da tarde, pelo menos 40 dos 110 menores da Febem de Franco da Rocha (região metropolitana) também se amotinaram. Segundo a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, não houve fugas, reféns nem feridos. Às 18h30, a situação ainda não havia sido controlada.
O motim no Tatuapé começou por volta das 3h, após uma tentativa de fuga liderada pelos jovens da UE-4 (Unidade Educacional). Funcionários dizem que pelo menos 15 conseguiram escapar, informação não confirmada pela Febem.
A rebelião se espalhou por outras quatro unidades (UE-1, UE-2, UE-14 e UE-13), envolvendo cerca de 400 dos quase 1.200 internos. Essas alas fazem parte do chamado circuito grave do complexo, que abriga aqueles adolescentes considerados mais violentos.
Entre os funcionários rendidos estava Inês de Souza Gonçalves, 39. Depois de passar mal, ela foi empurrada por menores de cima do telhado da UE-4. Caiu de uma altura de seis metros.
Inês quebrou as pernas e fraturou uma vértebra da coluna. Ela vai ficar 24 horas em observação em um hospital de Santa Cecília (região central).
A monitora trabalha há 15 anos na Febem. "Ela era muito respeitada. Os meninos tomaram perfume, álcool e ficaram fora de controle", disse o presidente do sindicato dos funcionários, Antonio Gilberto da Silva.
Os rebelados atearam fogo em colchões e jogaram telhas nos carros estacionados no pátio. Policiais militares que fazem a segurança no local chegaram a dar tiros para o alto na tentativa de controlar a situação.
Os menores do seguro da UE-12 (que abriga os jurados de morte) tiveram que subir no telhado para não serem agredidos. Eles arrancaram as telhas da unidade para atirá-las contra os outros.
A tropa de choque da PM chegou à Febem por volta das 7h. Os cerca de 45 policiais não chegaram a entrar nos prédios.
A rebelião foi controlada às 11h, após negociação com funcionários. A tropa de choque permaneceu no complexo durante a tarde. O clima era considerado tenso.
"O controle é relativo. As trancas foram quebradas e a coisa pode explodir a qualquer momento", disse o comandante do policiamento de choque, Osvaldo de Barros Júnior.
No final da tarde, dez internos maiores de 18 anos foram levados para o 81º DP (Belém), que fica ao lado da Febem. Segundo o padre Júlio Lancellotti, da Pastoral do Menor, eles seriam indiciados por tentativa de homicídio, depredação de patrimônio e corrupção de menores. Lancellotti disse ter a informação de que dois jovens ficaram feridos durante a rebelião.


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