São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2000


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TRANSPORTE
Comissão do Senado aponta irregularidades na indicação de bancos
Esquema obriga empresas de ônibus a pedir empréstimo

DO "AGORA SÃO PAULO"

A Prefeitura de São Paulo condiciona a liberação de verbas para as empresas de ônibus a empréstimos junto a bancos indicados. O esquema vem sendo utilizado desde 98 e caracteriza tráfico de influência.
Só nos dois primeiros meses de 2000, os empréstimos movimentaram R$ 33,7 milhões. Das 52 empresas de ônibus que prestam serviço à prefeitura, 40 contraíram empréstimos com dois bancos em janeiro.
De acordo com avaliação preliminar da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, a operação apresenta fortes indícios de irregularidade.
Se as empresas tivessem tomado empréstimos a juros que estão na média do mercado, os empresários teriam economizado quase R$ 2 milhões apenas em janeiro e fevereiro.
Para tomar os empréstimos, eles tiveram que registrar em cartório uma procuração que autorizava o banco a movimentar livremente até 30% da remuneração da SPTrans. A reportagem obteve uma cópia da procuração.
Segundo empresários, o esquema começou no final de 98, quando o Transurb avisou que a prefeitura não tinha dinheiro para pagar as empresas e que a única forma de cobrir a folha de pagamento e o gastos com 13º salário seria pedir empréstimo de dois bancos indicados pela administração, o BicBanco e o Banco Pine S/A.
"A prefeitura me devia um valor e me informou que eu teria um crédito no mesmo valor em determinado banco", disse um empresário que não quis ser identificado. Os juros praticados na operação foram de 5,49%, valor acima da média cobrada no mercado na época, que era de 4,92%.
Um executivo da SPTrans, que também não quis ser identificado, estranhou a participação dos bancos. "Se a Secretaria das Finanças não tinha dinheiro para repassar à SPTrans, como é que os bancos tinham tanta certeza que os empréstimos seriam pagos?", disse.

Outro lado
O diretor-executivo do Pine, Luiz Cláudio Dela Rosa, do Banco Pine S/A negou que a prefeitura tivesse intermediado as negociações de crédito com as empresas de ônibus. Quanto aos juros cobrados das empresas, os diretores os consideram normais. "Cada operação de crédito é avaliada separadamente", disse.
A reportagem contatou o BicBanco, mas não obteve resposta ao pedido de entrevista.
O ex-diretor financeiro da SPTrans Emiliano Leal da Cunha nega o tráfico de influência entre a prefeitura e bancos de crédito. Cunha deixou o cargo na última quarta-feira.
O Transurb informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que considera um "grande absurdo" a possibilidade de a prefeitura e o sindicato terem intermediado as transações com os bancos.


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