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São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2003

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VIOLÊNCIA

Moradores do morro localizado na zona norte do Rio dizem que só policiais atiraram; versão oficial é divergente

Ação da polícia na Mangueira deixa 5 mortos

FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

Cinco supostos traficantes foram mortos a tiros de fuzis numa operação da Polícia Civil, ontem de manhã, no morro da Mangueira (zona norte do Rio).
Após as mortes, moradores protestaram atirando pedras contra 50 policiais militares que reforçavam a segurança nas entradas da favela. Cerca de 20 pessoas, a maioria mulheres, tentaram fechar a rua Visconde de Niterói, na base do morro. A polícia lançou uma bomba de gás lacrimogêneo e dispersou o grupo. Ninguém ficou ferido.
O objetivo da incursão, segundo a polícia, era prender Cássio Monteiro das Neves, o Cássio da Mangueira, apontado como gerente-geral do tráfico na favela.
Cerca de 40 policiais da Divisão de Capturas Sul e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) entraram no morro pouco antes das 8h e seguiram em direção ao topo. A polícia tinha informações de que o traficante estaria numa casa na localidade conhecida como Candelária.
A partir daí, a versão oficial e a dos moradores divergem. De acordo com a polícia, a equipe foi atacada a tiros por seguranças de Cássio. Já segundo os moradores, só a polícia atirou e as cinco pessoas foram mortas após serem rendidas. No Buraco Quente, na entrada da favela, moradores comentavam que o horário escolhido para iniciar a operação coincidiu com a descida de crianças para as escolas.
O secretário de Esportes, Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, está sendo investigado por causa de um suposto pedido de trégua ao tráfico que teria feito ao tenente-coronel Erir da Costa Filho, ex-comandante do 4º Batalhão da PM. Chiquinho diz que só pediu para que não fossem realizadas ações nos horários de entrada e saída de estudantes.
O coordenador de Polícia Especializada, Alan Turnówski, que comandou a operação, disse que não houve incidentes com crianças nem com trabalhadores. Ele também negou que as vítimas tenham sido mortas quando já estavam rendidas: "O que houve foi um tiroteio muito ferrenho".
Foram mortos Ricardo Francisco Viana, 31, o Blau-Blau, Sandro Francisco da Silva, 34, o Caubi, Max Mburde de Oliveira, 16, Carlos Henrique Assumpção, o Neném, e Luiz Cláudio da Silva Paes, o Claudão.
Segundo a polícia, Caubi, seria o "gerente do branco" (cocaína) e tinha passagens pela polícia, assim como Blau-Blau. A polícia não havia informado sobre os antecedentes dos outros três até a conclusão desta edição.
Na operação, foi preso Robson Carlos Ferreira, que estaria foragido. Um fuzil, duas pistolas, um revólver, 5 kg de maconha e pequena quantidade de haxixe foram apreendidos. A polícia divulgou ter recuperado duas motos e dois carros roubados.
O delegado Roberto Dias afirmou ter recebido a informação de que Cássio e Leandro Monteiro Reis, o Pit Bull, foram baleados no confronto.
O comércio ficou fechado o resto do dia na Visconde de Niterói e no largo do Pedregulho. Segundo policiais do 22º Batalhão, a ordem teria sido dada por traficantes da Mangueira.
Turnówski disse que novas ações devem ocorrer nos próximos dias para dar cumprimento a 29 mandados de prisão expedidos contra traficantes da Mangueira. Em maio, Turnówski comandou a operação no morro da Mineira (Catumbi, zona norte) em que oito supostos traficantes morreram.


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