São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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ENTREVISTA

Lupus tem nova alternativa de tratamento, diz reumatologista

DA REPORTAGEM LOCAL

Pacientes com lupus já podem utilizar menos cortisona e substituí-la por uma droga -mofetil micofenolato- já utilizada no caso de rejeição de transplantes. No país, há cerca de 4 milhões de portadores de lupus eritematoso sistêmico (LES), uma doença crônica de causa desconhecida que afeta o sistema imunológico.
A pessoa desenvolve anticorpos que reagem contra as células normais, ou seja, torna-se "alérgica" dela mesmo. Podem ser afetados a pele (manchas e lesões), as articulações (artrite), os rins, o pulmão e outros órgãos.
Segundo o médico Morton Scheinberg, 58, clínico e pesquisador em reumatologia e imunologia do Instituto de Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, a nova alternativa de tratamento foi uma das principais novidades do último congresso internacional de lupus, realizado no mês passado em Nova York (EUA).
Ele afirma que a droga bloqueia a exacerbação do sistema imune no lupus e mostrou ser promissora para o tratamento de diversas manifestações da doença.
A seguir, alguns trechos da entrevista concedida à Folha. (CC)

 

Folha - O que muda no tratamento do lupus com essa droga?
Morton Scheinberg -
O tratamento clássico do lupus envolve doses variáveis de cortisona e de ciclofosfamida [uma medicação imunossupressora]. No caso de certas manifestações clínicas no rim, no sangue e no sistema nervoso central, é necessário adicionar também outras drogas imunossupressoras.
A substância mofetil micofenolato, utilizada para evitar a rejeição de transplantes, parece substituir a cortisona com vantagens no controle das manifestações renais em casos em que o tratamento tradicional não surte efeito, o que acontece em um terço dos casos. Atualmente o médico tem mais flexibilidade para o diagnóstico e novos recursos de tratamento para esse mal que afeta tantos brasileiros.
Outra droga é a Rituximab, também usada no tratamento de gânglios linfáticos (linfoma). Há evidências acentuadas de que ela pode debelar os casos de inflamação dos rins que não respondem ao tratamento convencional.

Folha - Em que estágio o lupus é diagnosticado hoje no Brasil?
Scheinberg -
A doença, quando intensa em suas manifestações, é detectada rapidamente, apesar de às vezes estar em estágios mais avançados. Mas, quando há poucos sintomas, pode ser confundida com outros tipos de reumatismo e o tempo de diagnóstico fica bem variável.

Folha - Esses medicamentos estão disponíveis na rede pública?
Scheinberg -
Os pacientes que dependem do sistema público [rede básica de saúde] talvez tenham dificuldade de utilizar os novos medicamentos, entretanto é inevitável que eles terão acesso devido à eficácia comprovada desses medicamentos. Os pacientes que são atendidos pelos convênios médicos devem reivindicar que seus planos cubram os custos da droga.

Folha - Durante o congresso, foi criado também o Dia Internacional do Lupus, em 10 de maio. Em que isso pode ajudar os doentes?
Scheinberg -
É uma forma de conscientizar os pacientes, familiares e os serviços públicos que tratam doenças crônicas para a importância do diagnóstico precoce e o acompanhamento dos doentes. Já sabemos que existe uma maior incidência de arteriosclerose e osteoporose em pacientes com lupus e ambas condições podem ser prevenidas com a identificação precoce da doença.
É preciso também atenção para as manifestações clínicas mais graves da doença, que ocorrem em pacientes da raça negra e de origem hispânica.


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