São Paulo, terça-feira, 13 de junho de 2006

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1.978 tiros mataram 492 pessoas em SP

Dados do Cremesp mostram que, no auge da crise dos atentados do PCC, cada vítima recebeu, em média, quatro disparos

Bairro do Capão Redondo, na periferia da zona sul paulistana, foi o que mais registrou mortes por arma de fogo durante o conflito


FABIANE LEITE
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

As 492 pessoas mortas por armas de fogo no Estado de São Paulo durante a crise da segurança pública causada pela facção criminosa PCC receberam um total de 1.978 tiros, média de quatro disparos em cada caso, segundo dados do Conselho Regional de Medicina do Estado baseados nos 23 IMLs paulistas, entre 12 e 20 de maio. De acordo com o presidente do conselho, Desiré Callegari, no pior caso, uma vítima recebeu um total de 22 tiros. Para efeito de comparação, durante o massacre do Carandiru, quando 111 presos morreram no presídio homônimo em 1992, a média de tiros foi de cinco por vítima. As 492 mortes analisadas incluem não só as vítimas de confrontos com a polícia e os agentes de segurança mortos durante a crise como também "homicídios gerados por conflitos sociais e outros decorrentes da violência cotidiana". O órgão também verificou o número de tiros recebido por vítima nas cidades onde a violência foi maior. Os piores casos ficaram concentrados no litoral sul do Estado, região considerada de forte influência do PCC e também com histórico de abusos da polícia. Em Santos, houve pico de 8,3 tiros por óbito no dia 15 de maio, a segunda-feira em que começou a reação das forças de segurança aos ataques do PCC. No Guarujá, o pico foi de 8,25 tiros por óbito, no dia 16. Segundo levantamento feito pela reportagem em boletins de ocorrência de Santos, na maior parte dos casos de homicídio, exceto quando as vítimas eram agentes de segurança, a polícia relatou já ter se deparado com as vítimas caídas ao chão, atingidas por disparos. Em São Paulo, o pico de número de tiros ocorreu no dia 13 de maio, sábado, um dia após o início dos ataques: foram 6,9 tiros por óbito, indica o conselho. Em Guarulhos, a média foi de 5,8 tiros/óbito no dia 15. "Passamos por um período de catástrofe, que não segue a linha de anos anteriores", afirmou o presidente do Cremesp. Na quinta-feira passada, afirmou Callegari, o conselho autorizou o enterro de 34 corpos de vítimas de arma de fogo mortas no período de crise que eram mantidas nos dois IMLs da capital, as últimas que passaram por análises dos legistas.

Explosão de mortes
Em nove dias, o Estado registrou uma média de 55 mortes por arma de fogo por dia. No segundo trimestre de 2005 (período que inclui o mês de maio), segundo a Secretaria da Segurança Pública, houve média de 23 homicídios/dia no Estado. O Cremesp analisa os dados sobre as mortes durante os conflitos para auxiliar as autoridades e garantir que haja transparência nas investigações, afirmou Callegari, presidente do conselho. O bairro do Capão Redondo, na periferia da zona sul paulistana, foi o que mais registrou mortes por arma de fogo durante a crise -13 casos-, seguido por São Mateus, na zona leste, com 11 vítimas. "Não me surpreende o que ocorreu. Sempre encobriram os crimes aqui. Houve divulgação de que não há mais violência, mas, na verdade, ela está migrando para os locais mais distantes do Capão", diz Paulo Roberto Clemente da Silva, 41, vice-presidente da ONG Capão Cidadão, que atua na prevenção à violência no bairro. Segundo ele, um dos casos mais graves, durante a onda de violência, foi o sumiço de um rapaz que voltava de uma festa e foi levado por desconhecidos. O conselho não divulgou os nomes e laudos do IML sobre as vítimas alegando questão ética. A Secretaria da Segurança não se manifestou sobre a avaliação do órgão. A pasta confirma as mortes de 122 pessoas em conflitos com a polícia entre os dias 12 e 19 de maio. "Se a lista é essa, devo admitir que seja [verdadeira]", afirmou ontem o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), sobre os dados do Cremesp.


Colaboraram MARIANA CAMPOS, da Agência Folha, e RICARDO GALLO, da Reportagem Local

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