São Paulo, quarta-feira, 13 de junho de 2007

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GILBERTO DIMENSTEIN

Sonhos num parque

Lineu Passeri apresenta hoje a idéia de criar um museu da música popular brasileira, usando recursos interativos

L INEU PASSERI CURSOU arquitetura na USP, fez mestrado em acústica e, depois de formado, estudou numa faculdade de música, na qual aprendeu a tocar contrabaixo e a fazer arranjos. Ele vai mostrar, hoje, como a mistura dos aprendizados resultou em um sonho.
Quer criar um museu da música popular brasileira, usando recursos interativos. Passeri apresentará a sua idéia a um grupo de paulistanos metidos em uma briga: eles querem transformar um terreno de 24 mil m2, com uma reserva de mata atlântica, no começo da rua Augusta, em um parque público -a área já foi ocupada pelo Colégio Equipe, mas é usada hoje como estacionamento.
Alguns integrantes desse grupo procuram alternativas para o uso do parque e tentam, assim, convencer a prefeitura a desapropriar o terreno. "Quem sabe nossos sonhos se casam", arrisca Passeri.

 

Até pouco tempo atrás, música e arquitetura caminhavam separadas na vida de Passeri, apesar de ele encará-las profissionalmente. Ele tinha realizado uma consultoria em acústica para o Sesc Vila Mariana e uma para a Estação Pinacoteca. "A vontade de fazer o museu começou nessas duas experiências." Ganhou, porém, contornos mais definidos quando Passeri aceitou o convite para consultor, mais uma vez em acústica, do Museu do Futebol, cuja inauguração está prevista para 2008 - será uma espécie de versão esportiva do Museu da Língua Portuguesa. "Vi as incríveis possibilidades das novas tecnologias." Em seu projeto, o espectador vai caminhando por alas, cada qual dedicada a uma fase da música popular brasileira. Em um corredor, por exemplo, ele se sente desfilando no sambódromo do Rio, experimentando a realidade virtual. "As imagens devem ter altíssima definição, e o som tem de ser limpo. Quero que o espectador se sinta como se estivesse na avenida ao lado de todas aquelas mulatas sambando ao som da bateria da Mangueira."
Em outras alas, será possível assistir, da "platéia", aos famosos shows da tropicália e aos festivais que lançaram nomes como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Gal Costa. "Esse é o melhor jeito de manter a memória da MPB."
 

Na visão de Passeri, o parque, na Augusta, seria adequado. Até por uma questão histórica: nos tempos do Equipe, durante o regime militar, aquele foi um dos pontos mais badalados da música popular brasileira. Além disso, está próximo da região central, que se revitaliza com investimentos culturais; a vizinha praça Roosevelt está se transformando em um pólo de teatro alternativo. "Mas, mesmo que não seja possível usar aquele local, a idéia do museu continua de pé", concede.
Não é uma briga fácil. O terreno é avaliado em R$ 30 milhões, mas a prefeitura, até agora, não se mostrou disposta a desapropriá-lo. Um grupo de moradores, usando como bandeira o fato de que aquela mata é tombada, já obteve 10 mil assinaturas e vem conseguindo brecar vários projetos comerciais. Esses dois sonhos - o parque e o museu- revelam um esforço solidário e criativo de moradores de São Paulo, mas ainda estão longe de sair do papel. Não existe dinheiro para o memorial nem para o parque.
A idéia é que, assim como no caso dos museus da Língua Portuguesa e do Futebol, criados em áreas tombadas pelo patrimônio histórico, apareça alguém disposto a colocar a mão no bolso.

gdimen@uol.com.br


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