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OMS agora vê risco de epidemia de Aids
Kevin De Cock, diretor da entidade, diz que foi "mal interpretado" e que heterossexuais estão sob ameaça epidêmica
Em entrevista dada para o "Independent", Cock dizia que a epidemia de Aids entre os heterossexuais não existia mais; jornal nega erro
DA REPORTAGEM LOCAL
O epidemiologista Kevin M.
De Cock, diretor do departamento de HIV/Aids da OMS
(Organização Mundial da Saúde), alegou anteontem que foi
"mal interpretado" nas declarações que deu ao jornal britânico "Independent", no domingo, em que afirmava que a epidemia global de Aids entre os
heterossexuais não existe mais.
No texto, ele havia dito que as
estratégias de prevenção de organizações de combate à doença podem ter sido mal focadas.
"Enquanto antes era considerado um risco para populações
de todo o mundo, reconhece-se
hoje que, fora da África subsaariana, o vírus ficou confinado a
grupos de alto risco -homossexuais masculinos, usuários de
drogas injetáveis, prostitutas e
seus clientes."
As declarações foram reproduzidas pela Folha e vários jornais no mundo. O "Independent" diz que a entrevista foi
gravada e nega que haja erro.
Em nota enviada anteontem à
mídia internacional, Cock diz
que a reportagem do "Independent" foi equivocada, mas não
cita qual foi o erro.
A Folha apurou que as declarações de Cock foram duramente criticadas por representantes de governos e de entidades de defesa dos pacientes
com HIV/Aids que participaram nesta semana de uma reunião da ONU para analisar os
progressos no combate ao HIV.
Na nota, Cock afirma que a
epidemia global de Aids não
acabou. "No final de 2007, havia uma estimativa de que 33,2
milhões de pessoas estavam vivendo com HIV/Aids. Cerca de
2,5 milhões de pessoas vão se
infectar neste ano e 2,1 milhões
vão morrer de Aids. A Aids continua sendo a principal causa
de morte na África", afirma.
Cock diz que no mundo o
HIV é largamente difundido
em relações heterossexuais. Ao
"Independent" ele havia dito
que, fora da África subsaariana,
"é muito improvável que ocorra uma epidemia heterossexual
em outros países."
Agora, na nota, ele não fala
em epidemia, mas diz que a
transmissão heterossexual
continua entre profissionais do
sexo, seus clientes e parceiros
deles. "Além disso, prisioneiros, usuários de drogas injetáveis, homens que fazem sexo
com homens também podem
estar envolvidos em relacionamentos heterossexuais."
Ele diz que, respectivamente
na África subsaariana e no Caribe, quase 60% e 48% dos
adultos com HIV/Aids são mulheres. Cock encerra a nota dizendo que a Aids continua sendo a doença infecciosa que
mais desafia a saúde global.
"Sugerir o contrário é irresponsável e enganoso", disse.
Para o médico-infectologista
Caio Rosenthal, a retratação da
OMS foi fundamental. "Aquelas declarações representaram
um retrocesso para todo trabalho que foi feito até hoje em
termos de prevenção."
"Como, de repente, muda toda a epidemiologia da Aids?
Agora sim, com a retratação, as
coisas voltam para o seu devido
lugar", diz o médico.
Segundo ele, as declarações
de Cock e suas repercussões
"caíram como uma bomba" entre seus pacientes, especialmente mulheres heterossexuais que se infectaram com
seus parceiros.
(CLÁUDIA COLLUCCI)
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