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Prédios "engolem" quadras de futebol
Pelo menos cinco delas fecharam em seis meses, compradas por cifras milionárias para darem lugar a edifícios
Com falta de terrenos disponíveis, quadras de tênis e colégios também viram alvo do interesse das construtoras
RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO
A expansão do mercado
imobiliário ameaça um clássico do lazer em São Paulo: o
futebol de final de semana.
Quadras particulares de
futebol se transformaram na
bola da vez das construtoras.
Nos últimos seis meses, ao
menos cinco fecharam, compradas por cifras milionárias
para darem lugar a edifícios.
Resultado: uma legião de
jogadores têm de buscar outro local para jogar. São os
"sem-quadra" (leia ao lado).
É no centro expandido que
se concentram as investidas
-Lapa, Vergueiro, Bom Retiro, entre outros.
Em um espaço de 6.500 m2
no Bom Retiro, por exemplo,
um discreto cartaz informa
que as atividades se encerrarão em agosto. O valor de
venda, não divulgado, chega
aos milhões. Cerca de 600
pessoas jogam no local.
A menos de um quilômetro dali, um vigilante e um
cão bravo tomam conta de
uma imensa área com grama
sintética pelo chão -outra
quadra, fechada em janeiro.
É o mesmo cenário de uma
quadra no Tatuapé, que vai
virar centro comercial.
Cerca de 50 quadras desapareceram em dois anos, estima a Federação Paulista de
Futebol 7 - Society, como é
chamada a modalidade praticada nas quadras de grama
sintética. O "7" corresponde
ao número de jogadores: um
goleiro e mais seis. Restam
600 quadras na Grande SP.
No ramo desde 1982, o empresário Cláudio Sparapani,
55, é pessimista. "Daqui a
cinco anos, vai ser muito difícil jogar numa região mais
central. Não vai ter mais quadra. Será preciso ir para a periferia ou para fora de SP."
SEM FUTURO
Dono de quatro quadras,
Sparapani atribui o fenômeno ao setor imobiliário aquecido e, também, ao poderio
econômico das construtoras.
Há um ano e meio, ele teve
de fechar uma unidade na
zona sul porque o imóvel foi
vendido. Preço do negócio:
R$ 6,3 milhões por 2.900 m2.
Como tinha contrato de aluguel em vigor, o empresário
foi indenizado por sair.
Falta terreno. Daí o mercado imobiliário ter passado a
buscar áreas "alternativas"
para implantar os prédios,
disse Celso Amaral, diretor
da Amaral D'Ávila, empresa
de avaliação. Ele cita também quadras de tênis e pequenos colégios como objeto
da cobiça das construtoras.
Em relação ao passado, há
em SP mais terrenos com
"potencial construtivo", segundo o SindusCon (sindicato da construção civil). Isso
se deve, entre outras razões,
a mudanças no zoneamento
que permitem construir acima do limite, diz a entidade.
A compra das quadras é
atrativa para todos os envolvidos -exceto os boleiros.
O construtor compra um
terreno limpo, sem precisar
gastar muito com demolições. Quem vende tira proveito do mercado imobiliário
aquecido para lucrar.
E, ainda que não seja proprietário do terreno, o dono
da quadra também ganha
-ao ser indenizado pela quebra do contrato de aluguel.
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