São Paulo, domingo, 13 de junho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Prédios "engolem" quadras de futebol

Pelo menos cinco delas fecharam em seis meses, compradas por cifras milionárias para darem lugar a edifícios

Com falta de terrenos disponíveis, quadras de tênis e colégios também viram alvo do interesse das construtoras

RICARDO GALLO
DE SÃO PAULO

A expansão do mercado imobiliário ameaça um clássico do lazer em São Paulo: o futebol de final de semana.
Quadras particulares de futebol se transformaram na bola da vez das construtoras. Nos últimos seis meses, ao menos cinco fecharam, compradas por cifras milionárias para darem lugar a edifícios.
Resultado: uma legião de jogadores têm de buscar outro local para jogar. São os "sem-quadra" (leia ao lado).
É no centro expandido que se concentram as investidas -Lapa, Vergueiro, Bom Retiro, entre outros.
Em um espaço de 6.500 m2 no Bom Retiro, por exemplo, um discreto cartaz informa que as atividades se encerrarão em agosto. O valor de venda, não divulgado, chega aos milhões. Cerca de 600 pessoas jogam no local.
A menos de um quilômetro dali, um vigilante e um cão bravo tomam conta de uma imensa área com grama sintética pelo chão -outra quadra, fechada em janeiro.
É o mesmo cenário de uma quadra no Tatuapé, que vai virar centro comercial.
Cerca de 50 quadras desapareceram em dois anos, estima a Federação Paulista de Futebol 7 - Society, como é chamada a modalidade praticada nas quadras de grama sintética. O "7" corresponde ao número de jogadores: um goleiro e mais seis. Restam 600 quadras na Grande SP.
No ramo desde 1982, o empresário Cláudio Sparapani, 55, é pessimista. "Daqui a cinco anos, vai ser muito difícil jogar numa região mais central. Não vai ter mais quadra. Será preciso ir para a periferia ou para fora de SP."

SEM FUTURO
Dono de quatro quadras, Sparapani atribui o fenômeno ao setor imobiliário aquecido e, também, ao poderio econômico das construtoras.
Há um ano e meio, ele teve de fechar uma unidade na zona sul porque o imóvel foi vendido. Preço do negócio: R$ 6,3 milhões por 2.900 m2. Como tinha contrato de aluguel em vigor, o empresário foi indenizado por sair.
Falta terreno. Daí o mercado imobiliário ter passado a buscar áreas "alternativas" para implantar os prédios, disse Celso Amaral, diretor da Amaral D'Ávila, empresa de avaliação. Ele cita também quadras de tênis e pequenos colégios como objeto da cobiça das construtoras.
Em relação ao passado, há em SP mais terrenos com "potencial construtivo", segundo o SindusCon (sindicato da construção civil). Isso se deve, entre outras razões, a mudanças no zoneamento que permitem construir acima do limite, diz a entidade.
A compra das quadras é atrativa para todos os envolvidos -exceto os boleiros.
O construtor compra um terreno limpo, sem precisar gastar muito com demolições. Quem vende tira proveito do mercado imobiliário aquecido para lucrar.
E, ainda que não seja proprietário do terreno, o dono da quadra também ganha -ao ser indenizado pela quebra do contrato de aluguel.


Texto Anterior: Há 50 Anos
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.