São Paulo, domingo, 13 de junho de 2010

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ANÁLISE

Em discussão, a precariedade da educação rural no Brasil

MARIA ISABEL ANTUNES-ROCHA
ESPECIAL PARA A FOLHA

As pesquisas atuais denunciam a precariedade física e pedagógica das escolas rurais. Esse não é um tema recente. No início do século 20, educadores já registravam o abandono em que se encontravam em todo o território nacional.
Ao longo do tempo, os governos e organizações da sociedade civil se empenharam em implantar políticas e projetos visando alterar essa realidade. Nos governos de Getúlio Vargas, por exemplo, investiram-se recursos elevados na educação rural.
Em que pese todo o empenho, ainda não se conseguiu implantar uma educação de qualidade no meio rural.
As razões do fracasso foram imputadas, quase que exclusivamente, ao baixo nível da formação docente, às classes multisseriadas, à escassez de material pedagógico e à multiatividade do professor, entre outros.
Trataram a escola como produtora e produto da precariedade. Não se aproximaram das condições concretas em que ela está situada.
Na realidade, como problema maior, a maioria das ações até então implantadas viu apenas a escola, e não o seu entorno.
A escola não é neutra. Ela possui vínculos muito estreitos com a dinâmica de produção da sociedade. Logo, as análises e proposições sobre as escolas rurais não podem prescindir de tratar das tensões históricas que definem sua existência. Como exemplo, a questão da posse e do uso da terra.
Dessa forma, faz-se necessário refletir sobre o lugar ocupado pelos seus usuários. Historicamente, planejaram-se escolas para eles, e não com a participação efetiva deles. Sendo assim, a escola revelada pelas pesquisas evidencia um projeto de educação construído de forma distanciada das necessidades dos povos que demandam escola pública no meio rural.
A tarefa é possível. Na última década, movimentos sociais e sindicais, universidades, instituições públicas e organizações não governamentais se articularam em torno do movimento pela educação do campo.
Esse movimento tem como princípios abrir as portas da escola para o meio que lhe cerca e trazer a ela as vozes daqueles a quem se destina.


Maria Isabel Antunes-Rocha é professora-adjunta na Faculdade de Educação da UFMG e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Educação do Campo


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