São Paulo, domingo, 13 de junho de 2010

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Famílias se unem após troca de bebês em Goiás

Mães agora vivem em casas vizinhas e criam seus dois filhos juntas

Um dos casais chegou a se separar porque a criança não tinha características do pai; troca foi em 2009

LUIZA BANDEIRA
ENVIADA ESPECIAL A NERÓPOLIS (GO)

Dizem que mãe é uma só. Por isso, quando descobriu-se que os bebês de Queila Fagundes, 22, e Elaine Oliveira, 28, haviam sido trocados havia mais de um ano na maternidade, a Justiça mandou que destrocassem.
Mas os bebês choraram e tiveram febre. Elas também não se acostumaram.
Desistiram da destroca. "Ah, não tem jeito. Vai ter que criar assim: com duas mães e dois pais. É só uma família agora", diz Queila.
Passado um mês da destroca, as famílias moram agora na cidade de Nerópolis (33 km de Goiânia). As casas foram dadas por uma dupla sertaneja mato-grossense, que viu a história na mídia.
A casa azul de Queila fica a cinco minutos, a pé, da casa verde de Elaine. É na verde onde elas passam a maior parte do tempo, porque o bebê criado por Elaine, Davidson Samuel, sempre chora com a mãe biológica, Queila.
Mas na hora de dormir fica tudo como sempre foi: Davidson, com Elaine, e Lucas Daniel, com Queila.
As duas dizem que eles vão saber da história.

DESCOBERTA
A troca dos bebês aconteceu em 25 de março de 2009, no hospital Santa Lúcia, em Goiânia, e foi descoberta no dia 30 de abril deste ano.
Queila estava separada do marido. Ela desconfiava que ele estava com outra. Não reataram porque ele dizia que estava revidando na mesma moeda: o filho, branco, não podia ser dele, pardo.
Queila diz que foi humilhada pela família dele. Pegou dinheiro emprestado para fazer exame de DNA. Tinha certeza de que o resultado daria que Daniel era filho do marido. Mas o laudo mostrou: o menino não era filho de nenhum dos dois.
Foi quando o hospital procurou Elaine, que havia dado à luz a um menino no mesmo dia. Contaram da troca dos bebês e lhe pediram para fazer o DNA. Disseram que era improvável que a criança trocada fosse a sua.
Fez o DNA sem medo. Tinha certeza de que o filho era dela. Mas deu negativo.
Além do exame de DNA, o dedo mindinho do pé de Davidson foi uma espécie de tira-teima da confusão. O dele é sobreposto ao dedo "vizinho", característica da família de Queila.
Na hora do parto, meio inconsciente, ela ouviu enfermeiras dizendo que seu filho tinha a marca genética.
Gravou a informação e, já no quarto, pediu que tirassem a meia do menino para ver se era mesmo o dela. A troca já havia acontecido, mas mesmo assim disseram que sim. Ficou tranquila.
Elaine também reparou no dedinho do pé de Davidson quando o viu pela primeira vez, na incubadora. Pensou: "Meu filho tem esse dedo, agora ninguém vai poder trocá-lo". Não sabia que a troca já havia acontecido.
No primeiro dia em que as mães se encontraram, já com a notícia de que os bebês poderiam ter sido trocados, Queila pediu para Elaine tirar a meia de Davidson. Ao ver o dedinho do pé do filho biológico, caiu no choro.
Queila diz que a troca dos bebês foi útil. Para ela, Daniel veio para salvá-la, e Elaine veio para salvar Davidson.
Queila teve uma parada cardíaca no parto. Acordou e voltou à vida com o choro de Daniel, após a troca.
Mas ela, ainda fragilizada, talvez não tivesse forças para salvar Davidson. É aí que Elaine entra na história.
O menino tinha falta de ar e não melhorava. Elaine e sua família tiveram que lutar para transferi-lo. Davidson foi diagnosticado com pneumonia e ficou internado sete dias. Quase morreu, mas Elaine conseguiu salvá-lo.


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