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Famílias se unem após troca de bebês em Goiás
Mães agora vivem em casas vizinhas e criam seus dois filhos juntas
Um dos casais chegou
a se separar porque a criança não tinha características do pai; troca foi em 2009
LUIZA BANDEIRA
ENVIADA ESPECIAL A NERÓPOLIS (GO)
Dizem que mãe é uma só.
Por isso, quando descobriu-se que os bebês de Queila Fagundes, 22, e Elaine Oliveira,
28, haviam sido trocados havia mais de um ano na maternidade, a Justiça mandou
que destrocassem.
Mas os bebês choraram e
tiveram febre. Elas também
não se acostumaram.
Desistiram da destroca.
"Ah, não tem jeito. Vai ter
que criar assim: com duas
mães e dois pais. É só uma família agora", diz Queila.
Passado um mês da destroca, as famílias moram
agora na cidade de Nerópolis
(33 km de Goiânia). As casas
foram dadas por uma dupla
sertaneja mato-grossense,
que viu a história na mídia.
A casa azul de Queila fica a
cinco minutos, a pé, da casa
verde de Elaine. É na verde
onde elas passam a maior
parte do tempo, porque o bebê criado por Elaine, Davidson Samuel, sempre chora
com a mãe biológica, Queila.
Mas na hora de dormir fica
tudo como sempre foi: Davidson, com Elaine, e Lucas
Daniel, com Queila.
As duas dizem que eles
vão saber da história.
DESCOBERTA
A troca dos bebês aconteceu em 25 de março de 2009,
no hospital Santa Lúcia, em
Goiânia, e foi descoberta no
dia 30 de abril deste ano.
Queila estava separada do
marido. Ela desconfiava que
ele estava com outra. Não
reataram porque ele dizia
que estava revidando na
mesma moeda: o filho, branco, não podia ser dele, pardo.
Queila diz que foi humilhada pela família dele. Pegou dinheiro emprestado para fazer exame de DNA. Tinha certeza de que o resultado daria que Daniel era filho
do marido. Mas o laudo mostrou: o menino não era filho
de nenhum dos dois.
Foi quando o hospital procurou Elaine, que havia dado
à luz a um menino no mesmo
dia. Contaram da troca dos
bebês e lhe pediram para fazer o DNA. Disseram que era
improvável que a criança trocada fosse a sua.
Fez o DNA sem medo. Tinha certeza de que o filho era
dela. Mas deu negativo.
Além do exame de DNA, o
dedo mindinho do pé de Davidson foi uma espécie de tira-teima da confusão. O dele
é sobreposto ao dedo "vizinho", característica da família de Queila.
Na hora do parto, meio inconsciente, ela ouviu enfermeiras dizendo que seu filho
tinha a marca genética.
Gravou a informação e, já
no quarto, pediu que tirassem a meia do menino para
ver se era mesmo o dela. A
troca já havia acontecido,
mas mesmo assim disseram
que sim. Ficou tranquila.
Elaine também reparou no
dedinho do pé de Davidson
quando o viu pela primeira
vez, na incubadora. Pensou:
"Meu filho tem esse dedo,
agora ninguém vai poder trocá-lo". Não sabia que a troca
já havia acontecido.
No primeiro dia em que as
mães se encontraram, já com
a notícia de que os bebês poderiam ter sido trocados,
Queila pediu para Elaine tirar
a meia de Davidson. Ao ver o
dedinho do pé do filho biológico, caiu no choro.
Queila diz que a troca dos
bebês foi útil. Para ela, Daniel veio para salvá-la, e Elaine veio para salvar Davidson.
Queila teve uma parada
cardíaca no parto. Acordou e
voltou à vida com o choro de
Daniel, após a troca.
Mas ela, ainda fragilizada,
talvez não tivesse forças para
salvar Davidson. É aí que
Elaine entra na história.
O menino tinha falta de ar
e não melhorava. Elaine e
sua família tiveram que lutar
para transferi-lo. Davidson
foi diagnosticado com pneumonia e ficou internado sete
dias. Quase morreu, mas
Elaine conseguiu salvá-lo.
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