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Saulo atribui ataques a divulgação de lista
Secretário da Segurança afirma que publicação de "falsa" relação com detentos que iriam para prisão federal inspirou ações
Ele afirmou que não haverá bandeira branca para os criminosos e que o governo estadual não ficará refém da situação gerada pelo PCC
LUÍSA BRITO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O secretário da Segurança
Pública de São Paulo, Saulo de
Castro Abreu Filho, disse, em
entrevista coletiva ontem, que
a nova onda de ataques do PCC
ocorreu em razão da publicação de uma "falsa lista" com o
nome de 40 presos que seriam
transferidos para o presídio federal de Catanduvas (PR).
"A publicação de uma lista de
nomes gerou, vamos dizer, inspirou esse movimento. Como
se fosse uma forma de [o preso]
dizer "ou isso pára ou não se remove ou vai ter um recrudescimento'", afirmou o secretário.
"Eu, de pronto, tenho a dizer
que essa lista não existe. Ela é
falsa, ela é mentirosa."
A lista foi publicada pela Folha na edição de ontem, após o
início dos ataques do PCC. Sem
citar nominalmente o jornal,
Saulo afirmou que a publicação
foi "um desserviço à segurança
pública e à sociedade".
Questionado sobre o fato de a
lista ter sido publicada na manhã de ontem, enquanto os ataques começaram às 22h30 da
noite anterior, o secretário disse que o "jornal deve ter rodado
ontem [anteontem], não hoje
[ontem] de manhã".
Minutos depois, outro jornalista repetiu a pergunta. Ele
respondeu, então, que os presos já estavam na expectativa
de uma remoção, pois sabiam
da inauguração do presídio federal. "Esse assunto ficou no ar.
Então, os presos estavam nervosos ou com uma falsa expectativa. Se vamos [para Catanduvas] ou não vamos."
E continuou: "Não estou dizendo que a imprensa ou alguém chegou para os presos e
telefonou dizendo: "Olha, você
vai ser removido", mas criou
uma expectativa e concretude
[com a publicação da lista]. Mas
tem telefonemas, inclusive, de
órgãos de imprensa para dentro do presídio, conversa com
bandido, "olha, parece que tem
aí uma lista que tá rolando".
A reportagem da Folha não
ouviu presidiários sobre a lista
ou sobre a possível transferência. A veracidade dela foi confirmada por três autoridades. O
próprio governador de São
Paulo, Cláudio Lembo (PFL),
disse, durante um evento anteontem em Campinas, que o
governo estava elaborando
uma relação de presos que seriam levados para a prisão federal de Catanduvas (PR).
De acordo com Saulo, conversas telefônicas grampeadas
pela polícia mostram que os
presos falaram sobre a lista durante a madrugada de ontem.
Ontem à tarde, a Folha pediu à assessoria de imprensa da
Secretaria da Segurança Pública, por e-mail, cópia do grampo
telefônico que Saulo disse existir com a conversa de presos ligados ao PCC sobre a lista.
De acordo com o assessor de
imprensa Ênio Lucciola Lopes
Gonçalves, o secretário não pode divulgar o grampo porque
não teve acesso ainda ao seu
teor e porque isso dependeria
de uma autorização judicial.
Em três dos ataques, os responsáveis deixaram cartazes
com mensagens contra "a
opressão carcerária".
Na entrevista, Saulo admitiu
a possibilidade de que a situação pela qual passam os presos
nas unidades de Araraquara e
de Itirapina -destruídas por
rebeliões- pode também ter
motivado os ataques.
O secretário da Administração Penitenciária, Antonio
Ferreira Pinto, que também
participou da entrevista, afirmou que não havia feito nenhuma lista e que a relação poderia ser "futurologia de quem
estava na secretaria".
Ferreira Pinto afirmou ainda
que chegou a pedir 40 vagas no
presídio de Catanduvas, mas
disse que o governo federal ainda não respondeu se o Estado
terá direito a todas essas transferências. O secretário afirmou
que os advogados dos detentos
serão avisados caso o Estado
solicite a remoção à Justiça.
O ex-secretário da Administração Penitenciária Nagashi
Furukawa rebateu a declaração
de Ferreira Pinto, seu sucessor.
"Saí no dia 26 de maio e a penitenciária foi inaugurada no dia
20 de junho. Não faz sentido
imaginar que eu tenha feito
uma lista sem a penitenciária
sequer ter sido inaugurada."
Questionado sobre a afirmação do governador -que declarou anteontem que o PCC não
exercia mais comando nas prisões-, Saulo disse que Lembo
não havia feito a afirmação no
contexto publicado na imprensa. "Não ouvi essa declaração
do governador. Na minha leitura ele está contestando a questão. Evidente que o governador
não daria uma declaração dessa sem meditar a respeito."
O secretário tentou ainda
minimizar os ataques dizendo
que, dessa vez, morreram menos pessoas e que as ações foram mais direcionadas a prédios privados. "Se você comparar [a situação de maio] com o
que está acontecendo, houve
regresso. Há uma continuidade, mas não em intensidade. Isso simboliza que as pessoas não
estão obedecendo cegamente,
que a tal liderança começou a
ser questionada, e, na hora em
que começa a ser questionada,
a liderança perde a força. Perdendo a força, acabou."
Ele admitiu ainda que, como
o governo não consegue evitar
a entrada de celulares nas unidades prisionais, a estratégia
policial é tentar reverter isso
com escutas. "Uma boa parte
delas [conversas] nos interessa
ouvir. Quando você recebe informação de investigação, percebe que isso serviu."
O secretário também disse
que o Estado conta com outra
fonte importante de dados sobre o PCC, os delatores, a quem
se referiu como "os traidores
da facção". "Boa parte da massa
carcerária começa a entender
que entrou em uma fria [ao seguir ordens do PCC]."
Sobre o combate à facção,
Saulo disse que, "uma vez declarada a guerra, você precisa
pensar como sair dessa guerra.
Só tem uma saída: é vencer.
Não tem bandeira branca", em
referência à acusação de que o
Estado fez acordo, em 14 de
maio, para parar os atentados.
"À medida que você [Estado]
estanca, começa a colocar rigidez, eles têm que dar demonstrações de força, porque os associados começam a falar "puxa
vida, não foi um bom negócio"."
Indagado se a situação estava
sob controle, Saulo afirmou:
"Na visão técnica policial, está". Também voltou a dizer que
bandido que enfrentar a polícia
pode ser morto ou preso. "Centenas já foram presos, alguns
mortos em confronto. Vai ter
confronto e eles vão se dar mal,
não há hipótese de ganhar",
afirmou. "Nós não vamos ficar
reféns dessa situação."
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