São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Saulo atribui ataques a divulgação de lista

Secretário da Segurança afirma que publicação de "falsa" relação com detentos que iriam para prisão federal inspirou ações

Ele afirmou que não haverá bandeira branca para os criminosos e que o governo estadual não ficará refém da situação gerada pelo PCC


LUÍSA BRITO
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, disse, em entrevista coletiva ontem, que a nova onda de ataques do PCC ocorreu em razão da publicação de uma "falsa lista" com o nome de 40 presos que seriam transferidos para o presídio federal de Catanduvas (PR).
"A publicação de uma lista de nomes gerou, vamos dizer, inspirou esse movimento. Como se fosse uma forma de [o preso] dizer "ou isso pára ou não se remove ou vai ter um recrudescimento'", afirmou o secretário. "Eu, de pronto, tenho a dizer que essa lista não existe. Ela é falsa, ela é mentirosa."
A lista foi publicada pela Folha na edição de ontem, após o início dos ataques do PCC. Sem citar nominalmente o jornal, Saulo afirmou que a publicação foi "um desserviço à segurança pública e à sociedade".
Questionado sobre o fato de a lista ter sido publicada na manhã de ontem, enquanto os ataques começaram às 22h30 da noite anterior, o secretário disse que o "jornal deve ter rodado ontem [anteontem], não hoje [ontem] de manhã".
Minutos depois, outro jornalista repetiu a pergunta. Ele respondeu, então, que os presos já estavam na expectativa de uma remoção, pois sabiam da inauguração do presídio federal. "Esse assunto ficou no ar. Então, os presos estavam nervosos ou com uma falsa expectativa. Se vamos [para Catanduvas] ou não vamos."
E continuou: "Não estou dizendo que a imprensa ou alguém chegou para os presos e telefonou dizendo: "Olha, você vai ser removido", mas criou uma expectativa e concretude [com a publicação da lista]. Mas tem telefonemas, inclusive, de órgãos de imprensa para dentro do presídio, conversa com bandido, "olha, parece que tem aí uma lista que tá rolando".
A reportagem da Folha não ouviu presidiários sobre a lista ou sobre a possível transferência. A veracidade dela foi confirmada por três autoridades. O próprio governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), disse, durante um evento anteontem em Campinas, que o governo estava elaborando uma relação de presos que seriam levados para a prisão federal de Catanduvas (PR).
De acordo com Saulo, conversas telefônicas grampeadas pela polícia mostram que os presos falaram sobre a lista durante a madrugada de ontem.
Ontem à tarde, a Folha pediu à assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública, por e-mail, cópia do grampo telefônico que Saulo disse existir com a conversa de presos ligados ao PCC sobre a lista.
De acordo com o assessor de imprensa Ênio Lucciola Lopes Gonçalves, o secretário não pode divulgar o grampo porque não teve acesso ainda ao seu teor e porque isso dependeria de uma autorização judicial.
Em três dos ataques, os responsáveis deixaram cartazes com mensagens contra "a opressão carcerária".
Na entrevista, Saulo admitiu a possibilidade de que a situação pela qual passam os presos nas unidades de Araraquara e de Itirapina -destruídas por rebeliões- pode também ter motivado os ataques.
O secretário da Administração Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto, que também participou da entrevista, afirmou que não havia feito nenhuma lista e que a relação poderia ser "futurologia de quem estava na secretaria".
Ferreira Pinto afirmou ainda que chegou a pedir 40 vagas no presídio de Catanduvas, mas disse que o governo federal ainda não respondeu se o Estado terá direito a todas essas transferências. O secretário afirmou que os advogados dos detentos serão avisados caso o Estado solicite a remoção à Justiça.
O ex-secretário da Administração Penitenciária Nagashi Furukawa rebateu a declaração de Ferreira Pinto, seu sucessor. "Saí no dia 26 de maio e a penitenciária foi inaugurada no dia 20 de junho. Não faz sentido imaginar que eu tenha feito uma lista sem a penitenciária sequer ter sido inaugurada."
Questionado sobre a afirmação do governador -que declarou anteontem que o PCC não exercia mais comando nas prisões-, Saulo disse que Lembo não havia feito a afirmação no contexto publicado na imprensa. "Não ouvi essa declaração do governador. Na minha leitura ele está contestando a questão. Evidente que o governador não daria uma declaração dessa sem meditar a respeito."
O secretário tentou ainda minimizar os ataques dizendo que, dessa vez, morreram menos pessoas e que as ações foram mais direcionadas a prédios privados. "Se você comparar [a situação de maio] com o que está acontecendo, houve regresso. Há uma continuidade, mas não em intensidade. Isso simboliza que as pessoas não estão obedecendo cegamente, que a tal liderança começou a ser questionada, e, na hora em que começa a ser questionada, a liderança perde a força. Perdendo a força, acabou."
Ele admitiu ainda que, como o governo não consegue evitar a entrada de celulares nas unidades prisionais, a estratégia policial é tentar reverter isso com escutas. "Uma boa parte delas [conversas] nos interessa ouvir. Quando você recebe informação de investigação, percebe que isso serviu."
O secretário também disse que o Estado conta com outra fonte importante de dados sobre o PCC, os delatores, a quem se referiu como "os traidores da facção". "Boa parte da massa carcerária começa a entender que entrou em uma fria [ao seguir ordens do PCC]."
Sobre o combate à facção, Saulo disse que, "uma vez declarada a guerra, você precisa pensar como sair dessa guerra. Só tem uma saída: é vencer. Não tem bandeira branca", em referência à acusação de que o Estado fez acordo, em 14 de maio, para parar os atentados. "À medida que você [Estado] estanca, começa a colocar rigidez, eles têm que dar demonstrações de força, porque os associados começam a falar "puxa vida, não foi um bom negócio"."
Indagado se a situação estava sob controle, Saulo afirmou: "Na visão técnica policial, está". Também voltou a dizer que bandido que enfrentar a polícia pode ser morto ou preso. "Centenas já foram presos, alguns mortos em confronto. Vai ter confronto e eles vão se dar mal, não há hipótese de ganhar", afirmou. "Nós não vamos ficar reféns dessa situação."


Texto Anterior: 4 ex-policiais fazem parte da organização
Próximo Texto: TJ acata denúncia de abuso de poder contra secretário
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.