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HABITAÇÃO
Degradado, prédio abriga cerca de 3.000 pessoas; idéia de implosão, defendida pela prefeita, foi descartada
Marta vai comprar e reformar o São Vito
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A prefeita Marta Suplicy (PT)
anuncia hoje a desapropriação e a
reforma do Edifício São Vito, considerado por ela o símbolo do
"pior" que existe na cidade. A prefeitura gastará cerca de R$ 3,1 milhões para desapropriar os 624
apartamentos do prédio de 27 andares na região central. Cada
apartamento vale R$ 5 mil.
Marta e os arquitetos que cuidam da revitalização do parque
Dom Pedro -um projeto que
prevê um novo paisagismo para o
próprio parque, a reforma do
Mercado Municipal e a conversão
do Palácio das Indústrias em Museu da Cidade- preferiam implodir o prédio, inaugurado em
1959. A idéia de Marta não era original. Em 1987, ao ver uma reportagem segundo a qual nem a polícia entrava no prédio, o então prefeito Jânio Quadros (1917-1992),
determinou a um de seus auxiliares: "Imploda-o".
O custo, porém, tornou a vontade de Marta proibitiva. Teriam de
ser implodidos o São Vito e o edifício vizinho, o Mercúrio, e a prefeitura teria de encontrar abrigo
para 3.084 moradores. Estudo feito pela Secretaria da Habitação
mostra que o projeto custaria
mais de R$ 30 milhões.
A engenharia financeira que a
prefeitura encontrou para desapropriar o prédio prevê uma parceria com a Caixa Econômica Federal. A prefeitura quer desapropriar o prédio por meio de uma
ação judicial, na qual o São Vito é
considerado um "bem de interesse social", e revendê-o à Caixa
Econômica Federal.
A Caixa, por sua vez, financiará
os apartamentos para os moradores por meio de um de seus programas habitacionais. O presidente da instituição, Jorge Mattoso, dará detalhes dessa operação
no anúncio que será feito hoje. A
prefeitura não revelou o custo da
reforma do prédio.
Patinho feio
O São Vito virou o patinho feio
de São Paulo porque os proprietários dos apartamentos foram
abandonando o imóvel. A síndica
do prédio, Tânia Maria Martinez
Melino Torrico, 55, contou 150
apartamentos abandonados pelos
seus proprietários quando assumiu o cargo, há cerca de um ano.
Para elevar a arrecadação do
condomínio, ela decidiu colocar
pessoas dentro dos imóveis abandonados, mesmo que não conseguissem pagar aluguel. "Quando
aparecia o dono, a gente negociava." Por causa da degradação e
abandono, o valor do condomínio (R$ 120) supera o do aluguel
(R$ 80). Com essa tática de ocupação à revelia do dono, restam hoje
65 apartamentos vagos.
Os principais problemas do prédio, segundo o secretário de Habitação, Paulo Teixeira, 42, estão na
fachada e na coleta de lixo, já que
os elevadores foram reformados.
A fachada lembra uma boca banguela, na qual há mais vidros quebrados do que inteiros, e as proteções de amianto estão esfareladas.
O lixo, apesar dos esforços da
síndica para coletá-lo entre 20h e
22h, continua sendo atirado sobre
a marquise. Na visita que fez ontem ao São Vito, Teixeira pulou
uma janela para chegar à marquise e mostrar a degradação da fachada; assim que deixou o local,
um saco de lixo se espatifou a cerca de um metro de onde estava.
As declarações da prefeita de
que o São Vito é "um acinte à moradia popular" (é "moradia triste,
perigosa e não-qualificada") e que
o melhor seria implodi-lo só pioraram a situação financeira do
condomínio, segundo a síndica.
Até junho, o prédio arrecadava
entre R$ 25 mil e R$ 30 mil por
mês, insuficientes para cobrir os
gastos mensais de R$ 50 mil, ainda segundo a síndica. Após a declaração de Marta em junho, a arrecadação caiu para R$ 7 mil, suficientes para pagar os salários dos
22 funcionários do prédio.
"A declaração de Marta foi um
desastre, foi horrível. Tivemos um
prejuízo enorme. As pessoas
achavam que a prefeitura ia dar
casa de graça para elas e pararam
de pagar condomínio. Marta não
tem conhecimento interno do
prédio para dizer essas coisas",
afirma a síndica.
O secretário Teixeira diz que o
objetivo da parceria com a Caixa
Econômica Federal é tornar o
prédio "auto-sustentável". O valor da prestação do financiamento não deve ultrapassar os R$ 200
que um morador gasta hoje com
aluguel e condomínio.
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