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São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2003

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HABITAÇÃO

Degradado, prédio abriga cerca de 3.000 pessoas; idéia de implosão, defendida pela prefeita, foi descartada

Marta vai comprar e reformar o São Vito

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A prefeita Marta Suplicy (PT) anuncia hoje a desapropriação e a reforma do Edifício São Vito, considerado por ela o símbolo do "pior" que existe na cidade. A prefeitura gastará cerca de R$ 3,1 milhões para desapropriar os 624 apartamentos do prédio de 27 andares na região central. Cada apartamento vale R$ 5 mil.
Marta e os arquitetos que cuidam da revitalização do parque Dom Pedro -um projeto que prevê um novo paisagismo para o próprio parque, a reforma do Mercado Municipal e a conversão do Palácio das Indústrias em Museu da Cidade- preferiam implodir o prédio, inaugurado em 1959. A idéia de Marta não era original. Em 1987, ao ver uma reportagem segundo a qual nem a polícia entrava no prédio, o então prefeito Jânio Quadros (1917-1992), determinou a um de seus auxiliares: "Imploda-o".
O custo, porém, tornou a vontade de Marta proibitiva. Teriam de ser implodidos o São Vito e o edifício vizinho, o Mercúrio, e a prefeitura teria de encontrar abrigo para 3.084 moradores. Estudo feito pela Secretaria da Habitação mostra que o projeto custaria mais de R$ 30 milhões.
A engenharia financeira que a prefeitura encontrou para desapropriar o prédio prevê uma parceria com a Caixa Econômica Federal. A prefeitura quer desapropriar o prédio por meio de uma ação judicial, na qual o São Vito é considerado um "bem de interesse social", e revendê-o à Caixa Econômica Federal.
A Caixa, por sua vez, financiará os apartamentos para os moradores por meio de um de seus programas habitacionais. O presidente da instituição, Jorge Mattoso, dará detalhes dessa operação no anúncio que será feito hoje. A prefeitura não revelou o custo da reforma do prédio.

Patinho feio
O São Vito virou o patinho feio de São Paulo porque os proprietários dos apartamentos foram abandonando o imóvel. A síndica do prédio, Tânia Maria Martinez Melino Torrico, 55, contou 150 apartamentos abandonados pelos seus proprietários quando assumiu o cargo, há cerca de um ano.
Para elevar a arrecadação do condomínio, ela decidiu colocar pessoas dentro dos imóveis abandonados, mesmo que não conseguissem pagar aluguel. "Quando aparecia o dono, a gente negociava." Por causa da degradação e abandono, o valor do condomínio (R$ 120) supera o do aluguel (R$ 80). Com essa tática de ocupação à revelia do dono, restam hoje 65 apartamentos vagos.
Os principais problemas do prédio, segundo o secretário de Habitação, Paulo Teixeira, 42, estão na fachada e na coleta de lixo, já que os elevadores foram reformados. A fachada lembra uma boca banguela, na qual há mais vidros quebrados do que inteiros, e as proteções de amianto estão esfareladas.
O lixo, apesar dos esforços da síndica para coletá-lo entre 20h e 22h, continua sendo atirado sobre a marquise. Na visita que fez ontem ao São Vito, Teixeira pulou uma janela para chegar à marquise e mostrar a degradação da fachada; assim que deixou o local, um saco de lixo se espatifou a cerca de um metro de onde estava.
As declarações da prefeita de que o São Vito é "um acinte à moradia popular" (é "moradia triste, perigosa e não-qualificada") e que o melhor seria implodi-lo só pioraram a situação financeira do condomínio, segundo a síndica.
Até junho, o prédio arrecadava entre R$ 25 mil e R$ 30 mil por mês, insuficientes para cobrir os gastos mensais de R$ 50 mil, ainda segundo a síndica. Após a declaração de Marta em junho, a arrecadação caiu para R$ 7 mil, suficientes para pagar os salários dos 22 funcionários do prédio.
"A declaração de Marta foi um desastre, foi horrível. Tivemos um prejuízo enorme. As pessoas achavam que a prefeitura ia dar casa de graça para elas e pararam de pagar condomínio. Marta não tem conhecimento interno do prédio para dizer essas coisas", afirma a síndica.
O secretário Teixeira diz que o objetivo da parceria com a Caixa Econômica Federal é tornar o prédio "auto-sustentável". O valor da prestação do financiamento não deve ultrapassar os R$ 200 que um morador gasta hoje com aluguel e condomínio.


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