São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2006

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DANUZA LEÃO

Um 5 estrelas será sempre um 5 estrelas

Cadeia para os ricos. Por que não pensar em construir algumas maravilhosas para os futuros hóspedes?

ENTRE AS grandes novidades que estão surgindo no mundo dos negócios, há no Brasil um filão a ser explorado: cadeias para os ricos. Parece que nos EUA já existem, mas como não sabemos como funcionam, podemos dar asas à nossa imaginação -que não é pouca- para imaginar este que pode ser o grande investimento do século 21.
É evidente que pessoas ricas e de nobres famílias não podem se misturar a criminosos comuns, mesmo que não tenham curso superior -basta lembrar seus imponentes sobrenomes; e como vai ser difícil ver de novo a cor do dinheiro que eles, com a maior competência, fizeram desaparecer, essa seria uma forma de ver algum de volta.
Imagine alguém que tenha dado um belo rombo na praça -um banqueiro, por exemplo- e que seja preso, mesmo tendo bilhões depositados fora do país.
Mas preso mesmo, numa daquelas penitenciárias que só se vê na televisão quando existe uma fuga, numa cela com pessoas de origem desconhecida, comendo em prato de alumínio, com banheiro dentro da cela; o quanto não daria ele para ter um pouco mais de conforto e privacidade? Tudo, imagina-se. Pois é aí que entra o empresário moderno, para construir uma cadeia -o trocadilho é irresistível- de hotéis cinco estrelas para um público dirigido.
Até onde se sabe, a lei condena o réu a ficar preso -mas não especifica em que condições; e já que se fala em privatizar as prisões, por que não pensar em construir algumas maravilhosas, com todo o conforto, para seus futuros hóspedes? Nesse, digamos assim, hotel, o conforto seria total: nos quartos, telefone, banheiro com direito a Jacuzzi, TV a cabo, frigobar. E mais: piscina, campo de golfe, cinema, academia de ginástica e mais tudo o que um cinco estrelas pode oferecer. Coffee-shop, churrascaria e um grande restaurante francês comandado por um chef importado diretamente de Lyon -fora o sushi-bar, claro. Bebidas alcoólicas só nos fins de semana, quando serão permitidas as visitas, da noite de sexta-feira até a noite de domingo.
Os guardas não se vestiriam como guardas, mas como seguranças -de muito boa aparência- de gente rica: terno azul-marinho, gravata preta e sapatos pretos muito bem engraxados. Chamariam os hóspedes de doutor e poderiam até fazer pequenos serviços externos, que viriam cobrados na conta.
A conta: agora é que vai ficar bom. Os preços dessa "hospedagem" seriam absurdamente caros -caríssimos; pelo menos sob o ponto de vista do comum dos mortais.
Como, para esses ex-empresários e banqueiros, pagar uma média de US$ 800 de diária nos grandes hotéis de Nova York ou Paris sempre foi normal, nada mais justo do que acrescentar um zerinho, só um: US$ 8.000 por dia. E se acharem caro, penitenciária normal para eles -e de camburão.
E não é só: tudo, absolutamente tudo, que consumissem viria com um zero a mais. Uma Coca-Cola, US$ 10; um jantar no japonês, US$ 500, no restaurante francês, US$ 2.000; aula de ginástica, US$ 1.500 por mês -e por aí vai. Como esses cavalheiros têm dinheiro para isso e muito mais, pagariam sem relutar, e o lucro seria dividido entre o dono do estabelecimento e o Estado. Assim, pelo menos parte do dinheiro roubado voltaria ao país. Está aí um negócio que pode dar muito lucro, e da mais alta moralidade.
Quem se habilita?


danuza.leao@uol.com.br

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