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DANUZA LEÃO
Um 5 estrelas será sempre um 5 estrelas
Cadeia para os ricos. Por que não pensar em construir algumas maravilhosas
para os futuros hóspedes?
ENTRE AS grandes novidades
que estão surgindo no mundo
dos negócios, há no Brasil um
filão a ser explorado: cadeias para os
ricos. Parece que nos EUA já existem, mas como não sabemos como
funcionam, podemos dar asas à nossa imaginação -que não é pouca-
para imaginar este que pode ser o
grande investimento do século 21.
É evidente que pessoas ricas e de
nobres famílias não podem se misturar a criminosos comuns, mesmo
que não tenham curso superior
-basta lembrar seus imponentes
sobrenomes; e como vai ser difícil
ver de novo a cor do dinheiro que
eles, com a maior competência, fizeram desaparecer, essa seria uma forma de ver algum de volta.
Imagine alguém que tenha dado
um belo rombo na praça -um banqueiro, por exemplo- e que seja
preso, mesmo tendo bilhões depositados fora do país.
Mas preso mesmo, numa daquelas penitenciárias que só se vê na televisão quando existe uma fuga, numa cela com pessoas de origem desconhecida, comendo em prato de
alumínio, com banheiro dentro da
cela; o quanto não daria ele para ter
um pouco mais de conforto e privacidade? Tudo, imagina-se. Pois é aí
que entra o empresário moderno,
para construir uma cadeia -o trocadilho é irresistível- de hotéis cinco
estrelas para um público dirigido.
Até onde se sabe, a lei condena o
réu a ficar preso -mas não especifica em que condições; e já que se fala
em privatizar as prisões, por que não
pensar em construir algumas maravilhosas, com todo o conforto, para
seus futuros hóspedes? Nesse, digamos assim, hotel, o conforto seria total: nos quartos, telefone, banheiro
com direito a Jacuzzi, TV a cabo, frigobar. E mais: piscina, campo de golfe, cinema, academia de ginástica e
mais tudo o que um cinco estrelas
pode oferecer. Coffee-shop, churrascaria e um grande restaurante
francês comandado por um chef importado diretamente de Lyon -fora
o sushi-bar, claro. Bebidas alcoólicas
só nos fins de semana, quando serão
permitidas as visitas, da noite de
sexta-feira até a noite de domingo.
Os guardas não se vestiriam como
guardas, mas como seguranças -de
muito boa aparência- de gente rica:
terno azul-marinho, gravata preta e
sapatos pretos muito bem engraxados. Chamariam os hóspedes de
doutor e poderiam até fazer pequenos serviços externos, que viriam
cobrados na conta.
A conta: agora é que vai ficar bom.
Os preços dessa "hospedagem" seriam absurdamente caros -caríssimos; pelo menos sob o ponto de vista do comum dos mortais.
Como, para esses ex-empresários
e banqueiros, pagar uma média de
US$ 800 de diária nos grandes hotéis de Nova York ou Paris sempre
foi normal, nada mais justo do que
acrescentar um zerinho, só um: US$
8.000 por dia. E se acharem caro, penitenciária normal para eles -e de
camburão.
E não é só: tudo, absolutamente
tudo, que consumissem viria com
um zero a mais. Uma Coca-Cola,
US$ 10; um jantar no japonês, US$
500, no restaurante francês, US$
2.000; aula de ginástica, US$ 1.500
por mês -e por aí vai. Como esses
cavalheiros têm dinheiro para isso e
muito mais, pagariam sem relutar, e
o lucro seria dividido entre o dono
do estabelecimento e o Estado. Assim, pelo menos parte do dinheiro
roubado voltaria ao país. Está aí um
negócio que pode dar muito lucro, e
da mais alta moralidade.
Quem se habilita?
danuza.leao@uol.com.br
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