São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2006

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SAÚDE/GASTROENTEROLOGIA

Pancreatite leva à morte em até 20% dos casos

Inflamação pode ser causada por cálculos na vesícula biliar ou abuso do álcool

Manter uma alimentação saudável, com menos gordura, e buscar ajuda médica rapidamente são formas de combater doença


CONSTANÇA TATSCH
DA REPORTAGEM LOCAL

A morte do ator Irving São Paulo, 41, em decorrência de uma pancreatite e a retirada da vesícula biliar da apresentadora Glória Maria, 56, na última semana, levantaram dúvidas sobre o funcionamento dessa parte do sistema digestivo.
A pancreatite é a inflamação do pâncreas e pode ter diferentes causas, mas, segundo médicos, a maioria decorre de pedras na vesícula biliar. Cerca de 80% das pancreatites são leves e as outras 20%, graves.
"Não tem nada pior no abdômen de um paciente do que uma pancreatite aguda necro-hemorrágica [estágio avançado da doença]. É um quadro dramático", afirma o gastro-cirurgião do Hospital das Clínicas Marcelo Ribeiro Júnior.
A apresentadora retirou a vesícula após sofrer uma crise de pancreatite aguda leve. Isso porque a principal causa da doença é a presença de cálculos na vesícula biliar, a chamada microlitíase. Microcálculos escapam da vesícula e migram por um canal de 3 mm de diâmetro. Essas pedrinhas entopem a confluência entre esse canal e outro, que leva o suco pancreático para o intestino.
Com isso, as enzimas começam a atacar o pâncreas. "A secreção que produz digere o próprio órgão. Como ela não é excretada, começa um processo autodestrutivo", explica.
O tratamento da pancreatite, em um primeiro momento, é composto por jejum, soro e, muitas vezes, antibióticos. O paciente precisa ficar internado para fazer uma série de exames. O primeiro objetivo é tentar verificar se foram cálculos que desencadearam a crise. Depois, é preciso descobrir se o microcálculo ainda está obstruindo o canal. Se estiver, uma endoscopia libera a passagem.
Especialistas dizem que a operação do pâncreas é adiada pois é preciso repetir até dez vezes a cirurgia, na qual a cavidade é lavada e drenada -partes necrosadas são retiradas. "Às vezes, é preciso fazer inúmeras cirurgias. Hoje, cerca de 20% dos pacientes com pancreatite morrem da necro-hemorrágica", diz Ilka Boin, professora da Unicamp.
Além da necrose, há o risco de que a doença se espalhe. "Os órgãos que mais sofrem são os rins e pulmões. Se não houver resposta ao tratamento, pode ocorrer uma falência múltipla", afirma o chefe do Grupo de Fígado, Vias Biliares e Pâncreas da Unifesp, Edson José Lobo.

Causas
Além do cálculo na vesícula, o canal também pode ser obstruído por um tumor.
A segunda causa mais freqüente da doença é o consumo excessivo e prolongado de álcool, que afeta o metabolismo da glândula. "O pâncreas vai, devagarinho, sofrendo alterações. O álcool faz com ele trabalhe demais. Nesses casos, ocorre a pancreatite crônica", diz Ribeiro Júnior. Outras causas, menos comuns, são: medicamentos, excesso de triglicéries, lesão, caxumba e até vermes.
A prevenção da doença é feita por meio de uma alimentação balanceada. É preciso evitar alimentos gordurosos e com muito açúcar. Outro conselho importante é não demorar para buscar auxílio médico quando houver suspeita da doença. Segundo Ilka Boin, a partir do início da dor, o quadro se agrava intensamente. "É um processo rápido, questão de horas", diz.


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