São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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Sindicatos dizem que policiais civis entram em greve às 8h de hoje

Entidades afirmam que vão suspender investigações e registros de acidentes e crimes como roubos e furtos; a PM não vai parar

Justiça determinou ontem a manutenção de 80% do efetivo; categoria é formada por 35 mil policiais, incluindo delegados e investigadores

DA REPORTAGEM LOCAL

Os 19 sindicatos de policiais civis de São Paulo -entre os quais o de delegados, investigadores, escrivães, peritos e carcereiros -decidiram entrar em greve a partir das 8h de hoje por tempo indeterminado.
De acordo com o comitê organizador do movimento, os policiais vão paralisar as investigações e deixar de registrar acidentes de trânsito e crimes como roubos, furtos e ameaças.
O comitê sindical diz que o boletim de ocorrência será feito só nas situações em que haja prisão em flagrante e em "casos graves", o que significa, por exemplo, homicídios e seqüestros, embora a definição do que é caso grave dependerá do "bom senso" de cada policial. À noite, a Justiça determinou a manutenção de 80% do efetivo.
Os policiais militares, que fazem o policiamento de rua, não aderiram à greve e continuam a trabalhar normalmente.
Em nota oficial, a Secretaria da Segurança Pública se diz "otimista" sobre as negociações e apela para o "bom senso" dos policiais. Na tarde de ontem, no entanto, não houve sucesso na negociação feita pela Secretaria de Gestão Pública com o sindicato dos delegados.
A Folha apurou que o governo José Serra (PSDB) acredita que o movimento é liderado basicamente por aposentados e terá baixa adesão, que será maior entre os investigadores e com mais impacto no interior. O governo já decidiu que, se houver paralisação, as negociações serão interrompidas.
Quem for vítima de um crime deverá ligar para o distrito policial da região a fim de saber se a unidade está atendendo ou se aderiu ao movimento.
A categoria é formada por cerca 35 mil policiais civis. Um delegado em início de carreira recebe hoje R$ 3.708, incluindo gratificações. Um investigador iniciante ganha R$ 1.757.
O comitê organizador da greve apresentou ao governo uma lista com pelo menos oito reivindicações. A principal é um aumento que varia de 58% a 200%, dependendo da categoria -o governo do Estado diz concordar em discutir uma reestruturação das carreiras, o que provocaria um aumento imediato para os policiais, mas com índices bem menores.
Mas há também exigências que o governo qualifica como "irrealistas, impertinentes e inconstitucionais" como eleição direta para escolha do delegado-geral (hoje é por nomeação) e o direito à "inamovibilidade", ou seja, os policiais só poderiam ser transferidos de unidade por vontade própria ou em caso de promoção, como ocorre com promotores e juízes.
De acordo com o governo estadual, se todos os pedidos fossem atendidos, a folha de pagamento da Secretaria da Segurança Pública passaria de R$ 7 bilhões para R$ 15 bilhões.

Cartilha
Segundo cartilha divulgada pela Adpesp (Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo), só 30% do efetivo irá trabalhar, e apenas para atender os casos urgentes.
À noite, porém, a desembargadora Dora Vaz Treviño, do Tribunal Regional do Trabalho, determinou que os policiais civis deverão manter 80% do efetivo, "sem interrupção total de qualquer tipo de atividade". Ela fixou multa diária de R$ 200 mil ao dia, em caso de descumprimento da ordem.
O presidente do Sipesp (Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo), João Batista Rebouças da Silva Neto, disse que, para não desrespeitar a ordem judicial, a categoria vai manter 100% dos policiais nos distritos policiais, mas irá atender só com 30%, como prevê a lei.
A desembargadora marcou audiência de conciliação para as 13h de hoje.
(ROGÉRIO PAGNAN, LUIS KAWAGUTI, ANDRÉ CARAMANTE e CATIA SEABRA)


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