São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 2008

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VERA LÚCIA FLORES LEITE (1948-2008)

Flores para Vera, uma mãe de Acari

ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL

Foram 18 anos de uma inquebrantável persistência. Nesse tempo, não houve nada que arrancasse de Vera Lúcia Flores a esperança de achar a filha desaparecida.
Cristiane tinha 16 anos em 1990. Bonita, chegou a miss nos bailes de Acari, na zona norte do Rio. Em julho daquele ano, ela e mais dez foram seqüestrados por um grupo de extermínio num sítio em Magé (RJ). Os responsáveis nunca vieram à tona.
A partir daquele ano, Vera, trabalhadora doméstica, moradora de uma humilde casa de dois quartos no subúrbio da cidade e líder comunitária, usou todas as forças que tinha para solucionar o caso.
Dominou a linguagem jurídica, peitou polícia, Promotoria e políticos. Nas palavras de Carlos Nobre, autor do livro "Mães de Acari", Vera era o arquétipo da personagem Antígona, de Sófocles [dramaturgo grego], privada de enterrar um ente querido.
Anos depois, juntou-se à novelista Glória Perez -após a morte da atriz Daniella Perez, em 1992- em prol de mudanças no Código Penal.
A convite da ex-primeira-dama francesa Danielle Miterrand, foi a Paris falar de sua luta. Em 2003, disse à Folha: "Talvez eu morra sem ter notícias da minha filha".
Após a morte de um neto no começo do ano, teve dois AVCs (acidente vascular cerebral). Sofria também de diabetes. Morreu no sábado, aos 59, após uma crise de pressão alta. Deixa quatro filhos e quatro netos. Os 11 de Acari nunca foram achados.

obituario@folhasp.com.br


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