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VERA LÚCIA FLORES LEITE (1948-2008)
Flores para Vera, uma mãe de Acari
ESTÊVÃO BERTONI
DA REPORTAGEM LOCAL
Foram 18 anos de uma inquebrantável persistência.
Nesse tempo, não houve nada que arrancasse de Vera
Lúcia Flores a esperança de
achar a filha desaparecida.
Cristiane tinha 16 anos em
1990. Bonita, chegou a miss
nos bailes de Acari, na zona
norte do Rio. Em julho daquele ano, ela e mais dez foram seqüestrados por um
grupo de extermínio num sítio em Magé (RJ). Os responsáveis nunca vieram à tona.
A partir daquele ano, Vera,
trabalhadora doméstica, moradora de uma humilde casa
de dois quartos no subúrbio
da cidade e líder comunitária, usou todas as forças que
tinha para solucionar o caso.
Dominou a linguagem jurídica, peitou polícia, Promotoria e políticos. Nas palavras
de Carlos Nobre, autor do livro "Mães de Acari", Vera era
o arquétipo da personagem
Antígona, de Sófocles [dramaturgo grego], privada de
enterrar um ente querido.
Anos depois, juntou-se à
novelista Glória Perez -após
a morte da atriz Daniella Perez, em 1992- em prol de
mudanças no Código Penal.
A convite da ex-primeira-dama francesa Danielle Miterrand, foi a Paris falar de
sua luta. Em 2003, disse à
Folha: "Talvez eu morra sem
ter notícias da minha filha".
Após a morte de um neto
no começo do ano, teve dois
AVCs (acidente vascular cerebral). Sofria também de
diabetes. Morreu no sábado,
aos 59, após uma crise de
pressão alta. Deixa quatro filhos e quatro netos. Os 11 de
Acari nunca foram achados.
obituario@folhasp.com.br
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