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Anvisa sabia que bactéria era resistente desde 2007
Alerta da agência sobre micobactéria, porém, só foi dado na última sexta-feira
Bactéria responsável pela maioria das infecções no país resistiu a 10 h de exposição a produto para desinfecção de equipamentos hospitalares
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Há pelo menos um ano a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem informações de que um dos produtos
mais usados na desinfecção de
equipamentos hospitalares não
está sendo eficaz no combate
ao tipo de micobactéria responsável pela maioria das infecções que ocorrem no país.
O principal estudo que trata
do tema foi feito pela UFRJ
(Universidade Federal do Rio
de Janeiro) e mostrou que,
mesmo após dez horas de exposição ao saneante (tempo recomendado pelo fabricante), o
glutaraldeído a 2% não foi capaz de eliminar as cepas da bactéria M. massiliense. O produto
destruiu duas cepas da micobactéria (bovis e smegmatis).
O alerta, porém, só foi dado
na última sexta-feira. Em nota
técnica, a Anvisa relata que há
"indícios de resistência" da micobactéria massiliense em relação ao glutaraldeído a 2% e
sugere que as unidades de saúde, por medida cautelar, esterilizem seus equipamentos com
outros métodos.
Ontem à noite, o presidente
da Anvisa, Dirceu Raposo de
Mello, confirmou à Folha que
a agência teve conhecimento
desses estudos anteriormente,
mas disse que não podia precisar a data porque está no Uruguai e só voltaria ao Brasil hoje.
Indagado se não houve demora da Anvisa no alerta e na
falta de providências sobre a
resistência da bactéria, Mello
disse: "Não posso dizer se demorou ou não. Preciso chegar,
sentar com a minha equipe, saber o que aconteceu e por que
providências que poderiam ter
sido tomadas não foram".
Na opinião de Mello, ainda
que uma das cepas da bactéria
permaneça resistente ao saneante, as investigações da Anvisa apontam que, nos locais
dos surtos de infecção, houve
falhas nos processos de limpeza, desinfecção e esterilização
dos equipamentos.
Ontem, o ministro José Gomes Temporão (Saúde) classificou as infecções por micobactéria no país como "situações
muito específicas, num contexto de milhões de cirurgias que o
Brasil realiza no momento".
Na nota da última sexta, a situação foi descrita pela Anvisa
como "emergência epidemiológica" nunca vista.
Até agora, há 2.025 casos de
infecções por micobactérias-
que causam perda de tecidos,
nódulos e feridas que não cicatrizam- em 14 Estados brasileiros, a maioria após videocirurgias. Neste ano, foram 76
novos casos. Outros 153 estão
sob investigação na Anvisa.
A Anvisa confirmou ontem
que as três mulheres suspeitas
de contraírem infecção por micobactéria após preenchimento de rugas eram pacientes de
uma mesma clínica estética em
Minas Gerais. Na avaliação de
médicos, isso reforça a hipótese de que a contaminação tenha ocorrido na clínica, e não
esteja relacionada ao produto.
Chamado Scupltra, o produto é fabricado pelo laboratório
francês Sanofi-Aventis. A substância (ácido lático), um pó estéril, precisa ser dissolvida em
água destilada e, depois, aplicada por meio de injeções na pele. O procedimento é feito em
consultório médico.
Os casos surpreenderam médicos e pacientes porque foram
os primeiros do país associados
a esse procedimento, de amplo
uso na medicina estética. Antes, a Anvisa havia registrado
40 casos de micobactéria relacionados à mesoterapia, procedimento que também envolve
injeções no corpo, mas para
dissolver gordura localizada.
Hipóteses
Para os médicos ouvidos pela
Folha, quatro hipóteses explicariam a infecção durante os
procedimentos estéticos: reúso
de seringas para aspirar o produto do frasco e depois aplicá-lo na paciente, a utilização de
um mesmo frasco do produto
em várias pacientes, qualidade
da água usada na diluição do
produto ou falta de limpeza.
"É um caso isolado. Trabalho
há mais de dez com essa substância e desconheço qualquer
problema", afirmou Aloizio Faria Souza, presidente da SBME
(Sociedade Brasileira de Medicina Estética).
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