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"Vale-presente" pode ser negativo, dizem educadores
Professores veem chance de aluno forçar nota ruim para ganhar o dinheiro; outros elogiam incentivo à frequência
"Parece que está sendo dado um brinde aos que vão mal", diz professora da Unicamp sobre o termo "vale-presente"
DE SÃO PAULO
Educadores ouvidos pela
reportagem tiveram avaliações diversas em relação à
iniciativa de dar dinheiro ao
estudante com notas baixas
que participe do reforço.
Pesquisador do Insper (ex-Ibmec SP), Eduardo Andrade
diz que o projeto de tutoria é
"interessante", mas o pagamento aos alunos pode ter
um "efeito colateral": os não
escolhidos terão incentivo a
não irem bem nas provas, para poder ganhar o dinheiro.
"Seria interessante que os
pupilos, para ganhar o pagamento, comprovassem algo
adicional além da frequência
nas tutorias, como por exemplo a realização de exercícios
de reforço", diz Andrade.
Para a professora Angela
Soligo, da Faculdade de Educação da Unicamp, os alunos
mais pobres poderão, de fato, forçarem notas baixas para ganhar os R$ 50. "Mas essa
não deve ser a regra."
Ela critica apenas o fato de
o pagamento ser chamado de
"vale-presente" pelo governo. "Dessa forma, parece que
está sendo dado um brinde
aos que vão mal."
A coordenadora do curso
de pedagogia da Unicamp,
Maria Marcia Malavazi, disse
ver no projeto um sério risco
de fracasso porque utilizará
alunos e professores não treinados suficientemente.
Além disso, o projeto ataca
a periferia e não a questão
central do problema de qualidade de ensino. São, para
ela, medidas paliativas e distantes de um investimento
correto para a melhora de
qualidade -como aulas em
período integral.
"Remunerar o aluno para
ele frequentar o reforço significa constatar que os nossos
alunos não são motivados
para as salas de aulas. Significa dizer que o problema é
muito mais grave. Não podemos pensar que essa seja
uma forma ideal de trazer o
aluno para sala de aula com
uma remuneração de R$ 50.
É lamentável", afirmou ela.
A presidente da Apeoesp
(sindicato dos professores),
Maria Isabel Noronha, diz
que o projeto como um todo é
ruim porque a questão principal do problema não está
sendo combatida.
Uma delas é oferecer uma
remuneração adequada para
os professores e, com isso, estimular a procura à carreira
de profissionais de qualidade, principalmente de matemática, em deficit na rede.
"O Bolsa Família tenta
combater o trabalho infantil,
é uma outra discussão. Mas
pagar para um aluno ter aulas é uma coisa que eu nunca
vi", afirmou ela que diz ver
um "caráter eleitoreiro".
(FÁBIO TAKAHASHI e ROGÉRIO PAGNAN)
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