São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2010

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"Vale-presente" pode ser negativo, dizem educadores

Professores veem chance de aluno forçar nota ruim para ganhar o dinheiro; outros elogiam incentivo à frequência

"Parece que está sendo dado um brinde aos que vão mal", diz professora da Unicamp sobre o termo "vale-presente"

DE SÃO PAULO

Educadores ouvidos pela reportagem tiveram avaliações diversas em relação à iniciativa de dar dinheiro ao estudante com notas baixas que participe do reforço.
Pesquisador do Insper (ex-Ibmec SP), Eduardo Andrade diz que o projeto de tutoria é "interessante", mas o pagamento aos alunos pode ter um "efeito colateral": os não escolhidos terão incentivo a não irem bem nas provas, para poder ganhar o dinheiro.
"Seria interessante que os pupilos, para ganhar o pagamento, comprovassem algo adicional além da frequência nas tutorias, como por exemplo a realização de exercícios de reforço", diz Andrade.
Para a professora Angela Soligo, da Faculdade de Educação da Unicamp, os alunos mais pobres poderão, de fato, forçarem notas baixas para ganhar os R$ 50. "Mas essa não deve ser a regra."
Ela critica apenas o fato de o pagamento ser chamado de "vale-presente" pelo governo. "Dessa forma, parece que está sendo dado um brinde aos que vão mal."
A coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp, Maria Marcia Malavazi, disse ver no projeto um sério risco de fracasso porque utilizará alunos e professores não treinados suficientemente.
Além disso, o projeto ataca a periferia e não a questão central do problema de qualidade de ensino. São, para ela, medidas paliativas e distantes de um investimento correto para a melhora de qualidade -como aulas em período integral.
"Remunerar o aluno para ele frequentar o reforço significa constatar que os nossos alunos não são motivados para as salas de aulas. Significa dizer que o problema é muito mais grave. Não podemos pensar que essa seja uma forma ideal de trazer o aluno para sala de aula com uma remuneração de R$ 50. É lamentável", afirmou ela.
A presidente da Apeoesp (sindicato dos professores), Maria Isabel Noronha, diz que o projeto como um todo é ruim porque a questão principal do problema não está sendo combatida.
Uma delas é oferecer uma remuneração adequada para os professores e, com isso, estimular a procura à carreira de profissionais de qualidade, principalmente de matemática, em deficit na rede.
"O Bolsa Família tenta combater o trabalho infantil, é uma outra discussão. Mas pagar para um aluno ter aulas é uma coisa que eu nunca vi", afirmou ela que diz ver um "caráter eleitoreiro".
(FÁBIO TAKAHASHI e ROGÉRIO PAGNAN)


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