São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BARBARA GANCIA

Eleição com cara de Copa da África


Barbudos sensação: Maradona e Lula não precisam entrar em campo para ser a atração do jogo

POR MAIS aguçado que seja seu espírito cívico, sou capaz de apostar que você aproveitou o debate entre candidatos a governador para puxar um ronco amigo na frente da TV.
Boris Casoy que me desculpe, mas prefiro lutar com uma onça a ver Geraldo Alckmin parlamentar com Aloizio Mercadante. E escolho, a qualquer hora do dia, ser atropelada por um rolo compressor a ouvir o "socialista" Paulo Skaf medir propostas com Celso Russomanno.
Não estou dizendo que encaro as eleições como show, que queira ver o circo pegar fogo ou que pretenda ser entretida a cada eleição pelo Enéas da vez, nada disso.
Eleições não devem divertir. Mas um pouco mais de empolgação por parte dos candidatos adicionaria ao combate. Afinal, o que se quer é envolver o eleitor na conversa e ampliar o debate político. Ou não?
Está certo que o horário eleitoral não começou, mas, a esta altura, os candidatos estão mais sem graça do que os jogadores do Dunga naquele segundo tempo contra a Holanda. Ou será que alguém se deixou cativar pelo que andou vendo e ouvindo deles nos últimos dias?
Veja: eu não posso compactuar com uma candidata que, por mais moderna que se apresente, seja contra o avanço da ciência. E a outra, que pretende ser minha mãe? Mãe, a gente gosta do tipo que enche de beijos. Essa parece ser daquelas que deixa o filho de castigo no quarto escuro. Lá na Sibéria.
No Dia dos Pais, o candidato da oposição abriu as portas de casa para as câmeras, pensando, imagino, em mostrar-se como contraponto: quis ser ele o verdadeiro paizão.
Bem, a mim não convenceu. Candidato que pensa pequeno não me serve. Especialmente do tipo que pratica bullying contra a coitada da Bolívia para mostrar ser quem não é, uma coisa meio viúva Porcina demais para o meu gosto, sabe?
Neste momento, em que o Brasil assume o papel que lhe é de direito, a gente fica morrendo de curiosidade para saber como a oposição pretende enfrentar as grandes batalhas da infraestrutura, do pré-sal e das reformas todas que nunca chegam a termo. E cruza os dedos para que ela nos garanta que suas grandes conquistas, como o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal, não estejam todas no passado. Mas não. Em vez de propostas, vemos a simples escolha do vice ser transformada em novela.
Na Copa da África do Sul, a figura de Maradona na beira do campo serviu para lembrar que já tínhamos visto coisa melhor em matéria de campeonato do mundo.
Nesta eleição, outro barrigudo, barbudo, fora de forma, também causa sensação mesmo não estando em campo.
Lula é o Maradona da eleição presidencial. Ele não nos deixa esquecer que, há não muito, assistimos a uma disputa entre titãs.
Não querendo desmerecer Serra, Dilma e Marina, que são, sem dúvida, o nosso o "créme-de-la-créme" político, se a atual eleição lembra o anticlímax da Copa da África, as finais entre FHC x Lula foram a Copa de 70. Uma qualidade e um carisma difíceis de replicar.

barbara@uol.com.br

@barbaragancia

www.barbaragancia.com.br


Texto Anterior: Entrevista: Para docente da USP, "dinheiro pode ser estímulo"
Próximo Texto: Há 50 Anos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.