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EVENTO
Caderno começou a circular em outubro de 1963; na época, crianças participavam do planejamento das edições
Debate revive quatro décadas de história da Folhinha
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma viagem ao tempo em que
um jornal infantil era mais do que
um produto cultural e educativo.
Era um espaço frequentado e planejado pelos pequenos, em que a
editora, além de cuidar do conteúdo jornalístico, costumava levar crianças ao médico, ouvir suas
queixas familiares e organizar escolinhas de arte, literatura, música e dança.
O ano é 1963, e a editora em
questão é Lenita Miranda de Figueiredo, a "tia Lenita", que projetou e editou a Folhinha por dez
anos. A trajetória do caderno infantil da Folha foi tema de um debate realizado na última segunda-feira, em comemoração aos 40
anos da Folhinha. Participaram
educadores e as jornalistas que
editaram o caderno nas últimas
quatro décadas.
"Era um trabalho educativo e
afetivo. O planejamento era feito
com e para a criança", afirma "tia
Lenita", que comemora neste ano
o seu 80º aniversário. O primeiro
"repórter" do caderno, diz ela, foi
o seu filho, que saiu a campo para
"medir o pescoço da girafa".
Na gestão da segunda editora da
Folhinha, a jornalista Cecília Zioni, a prioridade foi a formação de
novos leitores. Uma de suas marcas foi trazer a produção literária
nacional para o universo do público infanto-juvenil, com a participação de autores como Mario
Quintana, Mario Prata e Luis Fernando Verissimo.
Nesse período, Zioni criou também na Folhinha um espaço voltado às crianças ainda não alfabetizadas -com histórias e quebra-cabeças sem a necessidade de texto. "Recebíamos cartas de crianças reclamando que tinham de ler
o caderno para os irmãos menores", conta.
Para atender também a necessidade do público adolescente, foram criadas seções de poesia, de
troca de correspondências. "Viemos preencher uma lacuna porque não existia um produto para
adolescentes na época", diz Zioni.
Temas tidos como adultos, como a inflação e o buraco na camada de ozônio, passaram a fazer
parte das pautas da Folhinha na
gestão da jornalista Bell Kranz,
atual editora do Equilíbrio e a terceira a editar o caderno infantil.
"Escrever texto jornalístico para
criança é muito mais difícil. Não
dá para ser burocrático e muito
menos superficial", afirmou.
Kranz renovou o repertório gráfico e transformou o caderno em
um "jornal de verdade", com editorial e espaço do leitor.
Nos anos 90, sob comando de
Mônica Rodrigues, atual editora
da Folhinha, que mediou o debate, o caderno abriu espaço para os
problemas da infância brasileira.
Rodrigues é ex-diretora de uma
unidade da Febem para meninas
adolescentes.
Para a psicóloga Cenise Monte
Vicente, especialista em direitos
da criança e consultora do Unicef,
a abordagem dos temas sociais relacionados à infância -trabalho
infantil e violência contra as
crianças, por exemplo- cria
"uma ponte entre uma infância
[crianças das classes média e alta]
e outra [crianças carentes]".
Para Lino de Macedo, professor
titular de psicologia do desenvolvimento do Instituto de Psicologia da USP, tratar de temas sociais, como a miséria e a violência,
é uma forma de levar a criança à
emancipação. "Ela [a criança] se
desenvolve e ganha liberdade para todas as possibilidades", afirma
o educador.
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