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São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2003

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EVENTO

Caderno começou a circular em outubro de 1963; na época, crianças participavam do planejamento das edições

Debate revive quatro décadas de história da Folhinha

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma viagem ao tempo em que um jornal infantil era mais do que um produto cultural e educativo. Era um espaço frequentado e planejado pelos pequenos, em que a editora, além de cuidar do conteúdo jornalístico, costumava levar crianças ao médico, ouvir suas queixas familiares e organizar escolinhas de arte, literatura, música e dança.
O ano é 1963, e a editora em questão é Lenita Miranda de Figueiredo, a "tia Lenita", que projetou e editou a Folhinha por dez anos. A trajetória do caderno infantil da Folha foi tema de um debate realizado na última segunda-feira, em comemoração aos 40 anos da Folhinha. Participaram educadores e as jornalistas que editaram o caderno nas últimas quatro décadas.
"Era um trabalho educativo e afetivo. O planejamento era feito com e para a criança", afirma "tia Lenita", que comemora neste ano o seu 80º aniversário. O primeiro "repórter" do caderno, diz ela, foi o seu filho, que saiu a campo para "medir o pescoço da girafa".
Na gestão da segunda editora da Folhinha, a jornalista Cecília Zioni, a prioridade foi a formação de novos leitores. Uma de suas marcas foi trazer a produção literária nacional para o universo do público infanto-juvenil, com a participação de autores como Mario Quintana, Mario Prata e Luis Fernando Verissimo.
Nesse período, Zioni criou também na Folhinha um espaço voltado às crianças ainda não alfabetizadas -com histórias e quebra-cabeças sem a necessidade de texto. "Recebíamos cartas de crianças reclamando que tinham de ler o caderno para os irmãos menores", conta.
Para atender também a necessidade do público adolescente, foram criadas seções de poesia, de troca de correspondências. "Viemos preencher uma lacuna porque não existia um produto para adolescentes na época", diz Zioni.
Temas tidos como adultos, como a inflação e o buraco na camada de ozônio, passaram a fazer parte das pautas da Folhinha na gestão da jornalista Bell Kranz, atual editora do Equilíbrio e a terceira a editar o caderno infantil. "Escrever texto jornalístico para criança é muito mais difícil. Não dá para ser burocrático e muito menos superficial", afirmou.
Kranz renovou o repertório gráfico e transformou o caderno em um "jornal de verdade", com editorial e espaço do leitor.
Nos anos 90, sob comando de Mônica Rodrigues, atual editora da Folhinha, que mediou o debate, o caderno abriu espaço para os problemas da infância brasileira. Rodrigues é ex-diretora de uma unidade da Febem para meninas adolescentes.
Para a psicóloga Cenise Monte Vicente, especialista em direitos da criança e consultora do Unicef, a abordagem dos temas sociais relacionados à infância -trabalho infantil e violência contra as crianças, por exemplo- cria "uma ponte entre uma infância [crianças das classes média e alta] e outra [crianças carentes]".
Para Lino de Macedo, professor titular de psicologia do desenvolvimento do Instituto de Psicologia da USP, tratar de temas sociais, como a miséria e a violência, é uma forma de levar a criança à emancipação. "Ela [a criança] se desenvolve e ganha liberdade para todas as possibilidades", afirma o educador.


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