São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

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Acessibilidade ruim eleva riscos

DA REPORTAGEM LOCAL

As limitações da própria saúde e principalmente as condições de acessibilidade das vias estão entre as principais razões de os idosos estarem entre os maiores grupos de risco em acidentes de trânsito.
José Montal, vice-presidente da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), diz que as restrições fisiológicas não são somente as perdas de cognição, agilidade, equilíbrio e visibilidade, que se agravam conforme a idade, mas também a resistência para suportar impactos -como uma batida de carro, um atropelamento ou uma queda na calçada.
"O corpo do idoso e do alcoólatra tem um desgaste maior. A recuperação é mais difícil", afirma. Ele diz que muitas dificuldades dos idosos também se aplicam às crianças. O que evita que elas tenham a mesma proporção de mortes no trânsito é a presença freqüente de um acompanhante.

Obstáculos
A falta de acessibilidade das ruas, calçadas e do transporte coletivo chega a ser apontada por especialistas como um agravante ainda maior para os acidentes -nas calçadas, buracos, postes e propagandas; nos ônibus, pisos altos que dificultam a entrada; nas ruas, tempos de semáforo insuficientes para a travessia.
"Se os idosos olharem para a direita e para a esquerda, como é a norma, eles muitas vezes não conseguem chegar ao outro lado da calçada antes da abertura do sinal para os carros. O trânsito privilegia os superatletas", afirma Horácio Augusto Figueira, especialista em engenharia de tráfego.
Na própria avenida Paulista, cartão-postal de São Paulo, há cruzamentos em que os intervalos de tempo do vermelho piscante para os pedestres variam de quatro a cinco segundos.
Quem deparar com essa sinalização depois de ter dado apenas um primeiro passo na faixa terá de andar a praticamente três metros por segundo para chegar ao canteiro central, distante quase 15 metros da calçada, antes da abertura do semáforo para os carros -a velocidade ideal para a travessia de idosos é um terço dessa.
"Pela legislação, os carros teriam de esperar que os pedestres terminem a travessia. Mas há um absoluto desrespeito", afirma Eduardo Daros, da Abraspe (Associação Brasileira de Pedestres).
"É resultado da cultura da pressa, do mundo do atropelo. É um problema da sociedade, e não do idoso, que até costuma dirigir mais devagar e evita sair à noite", diz Montal, da Abramet.
Mailla Soares, engenheira civil, do Instituto Ruaviva da Mobilidade Sustentável, lembra que, por terem passe livre no transporte coletivo e mais tempo livre, os idosos deveriam ser os principais usuários de ônibus.
"Mas eles não conseguem sair de casa porque os riscos são grandes, porque a cidade não é adaptada para eles", diz ela.
Uma pesquisa apresentada em Atlanta (EUA) e publicada neste ano na revista da Associação Médica Brasileira também apontou, baseada em dados de 2000, a proporção alta de idosos em acidentes de trânsito no resto do país.
As estatísticas apontavam que essas ocorrências representavam 27,5% do total de mortes de idosos por causas externas, contra 17,4% na média da população. Os atropelamentos representavam praticamente a metade. (AI)

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