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Acessibilidade ruim eleva riscos
DA REPORTAGEM LOCAL
As limitações da própria saúde
e principalmente as condições de
acessibilidade das vias estão entre
as principais razões de os idosos
estarem entre os maiores grupos
de risco em acidentes de trânsito.
José Montal, vice-presidente da
Abramet (Associação Brasileira
de Medicina de Tráfego), diz que
as restrições fisiológicas não são
somente as perdas de cognição,
agilidade, equilíbrio e visibilidade, que se agravam conforme a
idade, mas também a resistência
para suportar impactos -como
uma batida de carro, um atropelamento ou uma queda na calçada.
"O corpo do idoso e do alcoólatra tem um desgaste maior. A recuperação é mais difícil", afirma.
Ele diz que muitas dificuldades
dos idosos também se aplicam às
crianças. O que evita que elas tenham a mesma proporção de
mortes no trânsito é a presença
freqüente de um acompanhante.
Obstáculos
A falta de acessibilidade das
ruas, calçadas e do transporte coletivo chega a ser apontada por especialistas como um agravante
ainda maior para os acidentes
-nas calçadas, buracos, postes e
propagandas; nos ônibus, pisos
altos que dificultam a entrada; nas
ruas, tempos de semáforo insuficientes para a travessia.
"Se os idosos olharem para a direita e para a esquerda, como é a
norma, eles muitas vezes não conseguem chegar ao outro lado da
calçada antes da abertura do sinal
para os carros. O trânsito privilegia os superatletas", afirma Horácio Augusto Figueira, especialista
em engenharia de tráfego.
Na própria avenida Paulista,
cartão-postal de São Paulo, há
cruzamentos em que os intervalos de tempo do vermelho piscante para os pedestres variam de
quatro a cinco segundos.
Quem deparar com essa sinalização depois de ter dado apenas
um primeiro passo na faixa terá
de andar a praticamente três metros por segundo para chegar ao
canteiro central, distante quase 15
metros da calçada, antes da abertura do semáforo para os carros
-a velocidade ideal para a travessia de idosos é um terço dessa.
"Pela legislação, os carros teriam de esperar que os pedestres
terminem a travessia. Mas há um
absoluto desrespeito", afirma
Eduardo Daros, da Abraspe (Associação Brasileira de Pedestres).
"É resultado da cultura da pressa, do mundo do atropelo. É um
problema da sociedade, e não do
idoso, que até costuma dirigir
mais devagar e evita sair à noite",
diz Montal, da Abramet.
Mailla Soares, engenheira civil,
do Instituto Ruaviva da Mobilidade Sustentável, lembra que, por
terem passe livre no transporte
coletivo e mais tempo livre, os
idosos deveriam ser os principais
usuários de ônibus.
"Mas eles não conseguem sair
de casa porque os riscos são grandes, porque a cidade não é adaptada para eles", diz ela.
Uma pesquisa apresentada em
Atlanta (EUA) e publicada neste
ano na revista da Associação Médica Brasileira também apontou,
baseada em dados de 2000, a proporção alta de idosos em acidentes de trânsito no resto do país.
As estatísticas apontavam que
essas ocorrências representavam
27,5% do total de mortes de idosos por causas externas, contra
17,4% na média da população. Os
atropelamentos representavam
praticamente a metade. (AI)
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