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HISTÓRIA PAULISTANA
Comércio quer ampliar estacionamento e elevadores, mas terá de preservar imóvel tombado dos anos 20
Shopping compra casarão em Higienópolis
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
O grupo que administra o shopping Pátio Higienópolis comprou
do governo do Estado o casarão
tombado que já foi sede da Secretaria da Segurança Pública.
O imóvel, dos anos 20, é considerado um exemplar das primeiras construções do bairro e abriga
atualmente a DAS (Divisão Anti-Seqüestro). O Pátio Higienópolis,
que foi o único a concorrer na licitação, pretende utilizar o terreno
para ampliar seu estacionamento
e o número de elevadores.
O local foi comprado por
R$ 19,55 milhões -a oferta mínima era de R$ 19,54 milhões. O
preço do terreno com o casarão
foi definido com base em uma
avaliação do banco Nossa Caixa.
A casa principal não será demolida, mas há outros oito edifícios
que podem ser derrubados para
concretizar o projeto de ampliação do Pátio Higienópolis.
Uso cultural
Uma das cláusulas do edital é
que parte do imóvel (537 m2 do
total de 2.463 m2) terá de ser cedida gratuitamente ao Estado para
uso cultural por 20 anos.
Segundo o shopping, o casarão
de cinco pavimentos, tombado
tanto pelo órgão municipal de
preservação (Conpresp) quanto
pelo conselho estadual (Condephaat), será restaurado e preservado. A Secretaria da Cultura deverá designar que entidade pública ocupará o imóvel e o abrirá à
visitação pública depois que as
obras de restauração terminarem.
Para atender a esse futuro órgão, 16 vagas de estacionamento,
além de uma vaga para carga e
descarga, deverão ser cedidas pelo
novo proprietário ao governo,
também por um período de 20
anos, que pode ser renovado.
Em nota oficial, o shopping afirma que no terreno ao lado do casarão será feito um projeto para
novos elevadores e melhoria da
área de estacionamento.
Segundo o grupo, qualquer edificação no local obedecerá à altura
de 25 metros e a um recuo de 17
metros da via pública, como previa o edital da concorrência.
Segundo o conselheiro do Condephaat Lúcio Gomes Machado, é
preciso definir qual será o uso do
casarão para depois fazer o projeto de restauração adequado.
"Nesse período em que ficou ocupado pela Secretaria da Segurança
Pública, o casarão perdeu uma série de medalhões e várias coisas
sumiram. Mas achando a documentação histórica pode-se fazer
a reconstituição", afirmou Machado, que é também professor
da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), da USP.
A rede Plaza é a maior acionista
do grupo que adquiriu o terreno,
com 46%. Além dela, são agora
proprietários do casarão a Fundação Conrado Wessel (28,5%) e os
empresários Cláudio Bardela
(8,5%) e Delfim Jesus Braz (17%).
Os demais acionistas deram uma
procuração e a rede Plaza assinou
como representante do grupo.
Como o terreno é grande -sua
área total é de 7.000 m2-, especula-se que pode ser lançado um hotel no local, que seria ligado ao Pátio Higienópolis.
A venda do casarão estava prevista na lei 11.688, de 2004, que
criou o regime de PPPs (Parcerias-Público Privadas) no Estado
e autorizou a Secretaria da Fazenda a vender imóveis públicos dentro do plano de capitalização da
CPP (Companhia Paulista de Parcerias). O casarão da avenida Higienópolis é o primeiro desses
bens a ser vendido -a lista congrega outros 71 imóveis.
O bairro
O casarão em que está a unidade
anti-seqüestro é um exemplar das
primeiras construções de Higienópolis, bairro no centro que surgiu a partir de um empreendimento imobiliário de alto padrão,
o Boulevard Burchard, lançado
em 1895. Para projetar o novo
bairro, Vítor Nothmann e Martinho Burchard tiveram como base
o modelo urbanístico adotado na
Europa na mesma época, com
ruas largas e arborizadas.
Segundo José Geraldo Simões
Júnior, coordenador do programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie
e ex-diretor do DPH (Departamento de Patrimônio Histórico),
muitos casarões de Higienópolis
foram demolidos para dar lugar a
edifícios modernistas. "Os casarões são tombados não só pela arquitetura, mas por serem o registro de um período."
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