São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 2005

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HISTÓRIA PAULISTANA

Comércio quer ampliar estacionamento e elevadores, mas terá de preservar imóvel tombado dos anos 20

Shopping compra casarão em Higienópolis

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo que administra o shopping Pátio Higienópolis comprou do governo do Estado o casarão tombado que já foi sede da Secretaria da Segurança Pública.
O imóvel, dos anos 20, é considerado um exemplar das primeiras construções do bairro e abriga atualmente a DAS (Divisão Anti-Seqüestro). O Pátio Higienópolis, que foi o único a concorrer na licitação, pretende utilizar o terreno para ampliar seu estacionamento e o número de elevadores.
O local foi comprado por R$ 19,55 milhões -a oferta mínima era de R$ 19,54 milhões. O preço do terreno com o casarão foi definido com base em uma avaliação do banco Nossa Caixa.
A casa principal não será demolida, mas há outros oito edifícios que podem ser derrubados para concretizar o projeto de ampliação do Pátio Higienópolis.

Uso cultural
Uma das cláusulas do edital é que parte do imóvel (537 m2 do total de 2.463 m2) terá de ser cedida gratuitamente ao Estado para uso cultural por 20 anos.
Segundo o shopping, o casarão de cinco pavimentos, tombado tanto pelo órgão municipal de preservação (Conpresp) quanto pelo conselho estadual (Condephaat), será restaurado e preservado. A Secretaria da Cultura deverá designar que entidade pública ocupará o imóvel e o abrirá à visitação pública depois que as obras de restauração terminarem.
Para atender a esse futuro órgão, 16 vagas de estacionamento, além de uma vaga para carga e descarga, deverão ser cedidas pelo novo proprietário ao governo, também por um período de 20 anos, que pode ser renovado.
Em nota oficial, o shopping afirma que no terreno ao lado do casarão será feito um projeto para novos elevadores e melhoria da área de estacionamento.
Segundo o grupo, qualquer edificação no local obedecerá à altura de 25 metros e a um recuo de 17 metros da via pública, como previa o edital da concorrência.
Segundo o conselheiro do Condephaat Lúcio Gomes Machado, é preciso definir qual será o uso do casarão para depois fazer o projeto de restauração adequado. "Nesse período em que ficou ocupado pela Secretaria da Segurança Pública, o casarão perdeu uma série de medalhões e várias coisas sumiram. Mas achando a documentação histórica pode-se fazer a reconstituição", afirmou Machado, que é também professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo), da USP.
A rede Plaza é a maior acionista do grupo que adquiriu o terreno, com 46%. Além dela, são agora proprietários do casarão a Fundação Conrado Wessel (28,5%) e os empresários Cláudio Bardela (8,5%) e Delfim Jesus Braz (17%). Os demais acionistas deram uma procuração e a rede Plaza assinou como representante do grupo.
Como o terreno é grande -sua área total é de 7.000 m2-, especula-se que pode ser lançado um hotel no local, que seria ligado ao Pátio Higienópolis.
A venda do casarão estava prevista na lei 11.688, de 2004, que criou o regime de PPPs (Parcerias-Público Privadas) no Estado e autorizou a Secretaria da Fazenda a vender imóveis públicos dentro do plano de capitalização da CPP (Companhia Paulista de Parcerias). O casarão da avenida Higienópolis é o primeiro desses bens a ser vendido -a lista congrega outros 71 imóveis.

O bairro
O casarão em que está a unidade anti-seqüestro é um exemplar das primeiras construções de Higienópolis, bairro no centro que surgiu a partir de um empreendimento imobiliário de alto padrão, o Boulevard Burchard, lançado em 1895. Para projetar o novo bairro, Vítor Nothmann e Martinho Burchard tiveram como base o modelo urbanístico adotado na Europa na mesma época, com ruas largas e arborizadas.
Segundo José Geraldo Simões Júnior, coordenador do programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie e ex-diretor do DPH (Departamento de Patrimônio Histórico), muitos casarões de Higienópolis foram demolidos para dar lugar a edifícios modernistas. "Os casarões são tombados não só pela arquitetura, mas por serem o registro de um período."


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