São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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TRAGÉDIA EM OSASCO
Negligência seria motivo inicial; polícia procura outros responsáveis
Bispo deve ser indiciado

CRISPIM ALVES
da Reportagem Local

Já está quase certo para a Polícia Civil de Osasco (Grande São Paulo) que integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus deverão ser incriminados como responsáveis pelo trágico acidente que provocou, até o momento, a morte de 25 evangélicos.
A polícia está analisando os poucos documentos apresentados para tentar definir se outras pessoas, como o dono do imóvel, também poderão ser responsabilizados.
Na madrugada do último sábado, parte do telhado da sede regional da igreja -localizada no centro da cidade- desabou. Além das mortes, mais de 400 fiéis ficaram feridos, alguns permanecem internados em estado grave.
No mínimo, pastores e o bispo Reinaldo Santos Suisso, responsável pela sede regional da Universal, poderão ser indiciados sob a acusação de negligência. Suisso estava à frente da vigília no momento do desabamento.
Isso porque, segundo admitiu o próprio bispo à polícia, partes do forro acústico -ou do telhado, ainda não se sabe ao certo- despencaram pelo menos uma hora antes de o teto vir abaixo.
Apesar dos sinais -foram pelo menos três nesse espaço de tempo-, o culto prosseguiu como se nada tivesse acontecido.
"Tá amarrado", teria dito um pastor ou Suisso no momento da queda da suposta placa de lã de vidro, segundo afirmou em depoimento o desempregado Renato Silva Conceição, fiel da Universal há quatro meses. "Amarrado", segundo o jargão dos seguidores da Universal, significa "presença de maus espíritos".
"Depois, a gente começou a cantar e a orar", disse Conceição. Dois deputados -um estadual e outro federal-, ligados à igreja e candidatos à reeleição, estavam presentes ao culto. Um deles também teria dito "tá amarrado".
Além disso, já está quase comprovado que algumas das saídas do templo estavam fechadas. Os peritos do IC (Instituto de Criminalística) de São Paulo constataram o rompimento do cadeado que trancava a entrada principal do prédio. Apesar de a Universal negar esse fato, fiéis ouvidos pela Folha confirmaram a informação.
O advogado da Universal, Antonio Roberto Barbosa, disse que não fará comentários sobre as investigações antes de o IC concluir seu laudo (leia texto nesta página).



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