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São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2003

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Produtores afirmam que formação do lago os empobreceu

DA AGÊNCIA FOLHA,

EM GUAÍRA E SANTA HELENA

Produtores nos extremos do lago de Itaipu e com propriedades de tamanhos diferentes, Edgar Villi Gerke, 59, e Adill Fochezatto, 59, têm em comum, além da idade, desesperança e mágoa com a Itaipu Binacional. Eles alegam que só "empobreceram" após a formação do lago, em 1983.
Proprietário de 310 hectares em Guaíra, no extremo norte do lago, Gerke afirma que comprou seu último trator novo em 1984, a última colheitadeira em 1987 e o último carro em 1988. "Gente com menos terra que eu, fora dos limites do lago, ampliou propriedades, troca de carro e eu pago as contas", afirma Gerke.
Para ele, o espelho-d'água do lago, que reflete em suas lavouras, é o vilão no seu baixo desempenho como produtor. Gerke avalia que nos últimos 20 anos perdeu o equivalente a R$ 4,8 milhões. Segundo ele, se levar em conta a desvalorização de suas terras, esse valor sobe para a R$ 6 milhões.
Segundo Gerke, a menos de 10 mil metros de sua propriedade e fora dos efeitos microclimáticos do lago, propriedades com solo da mesma qualidade valem hoje o dobro do que a sua.
A mágoa de Fochezatto com Itaipu é provocada pelo que chama de desagregação familiar. Os Fochezatto, pai e cinco irmãos, produziam coletivamente, apesar de possuir lotes individuais, até a formação do lago, no município de Santa Helena (ao sul do lago).
"O lago desagregou a família, ficaram eu e um irmão. Os outros e meu pai tiveram suas terras inundadas", afirma Fochezatto. Sucessivas colheitas frustradas levaram Adill Fochezatto a ficar menor como produtor. No final de 1989, teve de vender nove hectares para "ficar limpo no banco".
Com 31 hectares, ele reclama da falta de recursos para reformar a casa e o galpão onde guarda suas máquinas agrícolas. "Antes eu era produtor modelo, agora será que desaprendi a plantar?", questiona.
Ele afirma também ter perdido um pouco de sua identidade, já que o bairro rural em que vive foi quase totalmente engolido pelo lago. O local era antes conhecido como Linha Fochezatto, em homenagem ao pioneirismo de seu pai. "Hoje a Linha Fochezatto está debaixo da água, Nem sei se meus filhos irão ficar na lavoura", diz


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