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Produtores afirmam que formação do lago os empobreceu
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM GUAÍRA E SANTA HELENA
Produtores nos extremos do lago de Itaipu e com propriedades
de tamanhos diferentes, Edgar
Villi Gerke, 59, e Adill Fochezatto,
59, têm em comum, além da idade, desesperança e mágoa com a
Itaipu Binacional. Eles alegam
que só "empobreceram" após a
formação do lago, em 1983.
Proprietário de 310 hectares em
Guaíra, no extremo norte do lago,
Gerke afirma que comprou seu
último trator novo em 1984, a última colheitadeira em 1987 e o último carro em 1988. "Gente com
menos terra que eu, fora dos limites do lago, ampliou propriedades, troca de carro e eu pago as
contas", afirma Gerke.
Para ele, o espelho-d'água do lago, que reflete em suas lavouras, é
o vilão no seu baixo desempenho
como produtor. Gerke avalia que
nos últimos 20 anos perdeu o
equivalente a R$ 4,8 milhões. Segundo ele, se levar em conta a desvalorização de suas terras, esse valor sobe para a R$ 6 milhões.
Segundo Gerke, a menos de 10
mil metros de sua propriedade e
fora dos efeitos microclimáticos
do lago, propriedades com solo
da mesma qualidade valem hoje o
dobro do que a sua.
A mágoa de Fochezatto com
Itaipu é provocada pelo que chama de desagregação familiar. Os
Fochezatto, pai e cinco irmãos,
produziam coletivamente, apesar
de possuir lotes individuais, até a
formação do lago, no município
de Santa Helena (ao sul do lago).
"O lago desagregou a família, ficaram eu e um irmão. Os outros e
meu pai tiveram suas terras inundadas", afirma Fochezatto. Sucessivas colheitas frustradas levaram
Adill Fochezatto a ficar menor como produtor. No final de 1989, teve de vender nove hectares para
"ficar limpo no banco".
Com 31 hectares, ele reclama da
falta de recursos para reformar a
casa e o galpão onde guarda suas
máquinas agrícolas. "Antes eu era
produtor modelo, agora será que
desaprendi a plantar?", questiona.
Ele afirma também ter perdido
um pouco de sua identidade, já
que o bairro rural em que vive foi
quase totalmente engolido pelo
lago. O local era antes conhecido
como Linha Fochezatto, em homenagem ao pioneirismo de seu
pai. "Hoje a Linha Fochezatto está
debaixo da água, Nem sei se meus
filhos irão ficar na lavoura", diz
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