São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 2005

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DEPOIMENTO

Viagem até município isolado tem barco encalhado e piloto perdido

KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAAPIRANGA (AM)

Uma viagem de barco pelos rios secos do Amazonas exige paciência e provoca sustos.
A reportagem demorou 11 horas para fazer o percurso entre Manaus e o município de Caapiranga (222 km a oeste da capital amazonense). A viagem começou às 9h, partindo pelo Solimões em um veículo transportado por balsa. A viagem entre Manacapuru e Caapiranga leva cerca de três horas, de barco, com o rio cheio. As embarcações saem às 15h e chegam por volta das 18h.
Como preparativo para a viagem, compramos 12 litros de água mineral, biscoitos, castanha-do-pará e barras de cereais.
A primeira parada foi na zona rural de Manacapuru. De lá, eu e o repórter-fotográfico Lalo de Almeida percorreremos mais 80 km por estrada até o porto do rio, que dá nome à cidade.
Quem quer chegar a Caapiranga tem de fazer o trajeto em lancha de alumínio com motor, chamada de jatinho, que parece mais um ônibus. O rio é a estrada.
Entramos em um desses ônibus-barco às 15h30 com mais 50 pessoas, as mercadorias e a tripulação. Inicialmente, a viagem parecia prazerosa.
Na vazante, o rio Manacapuru fica reluzente com o pôr-do-sol, o vôo das garças e os saltos dos botos. Mas enfrentamos os outros 100 km até Caapiranga embaixo de uma tempestade de verão -que foi a primeira grande chuva desde agosto na região.
Dentro do barco, o marinheiro teve que descer o toldo das janelas para não inundar a embarcação.
Os mais religiosos clamavam a Deus a todo instante. O céu ficou escuro. Os peixes pulavam para dentro da embarcação. O repórter-fotográfico emprestou a sua lanterna para o marinheiro localizar a chave da iluminação.
Com a luz, o temor começou a aumentar. É que o pescador Francisco Andrade Pereira, 55, e a mulher dele, Maria do Patrocínio, notaram que o piloto do barco, identificado como Denis, não conhecia os canais do Manacapuru.
"Valha-me, Deus! Francisco, vai ajudar o homem a encontrar a mãe do rio [o canal]", dizia ela.

Pé na lama
Pereira se posicionou ao lado de Denis e começou a guiá-lo. Ficamos por quatro vezes atolados no rio Manacapuru. Essa agonia durou umas quatro horas, até enxergarmos a luz na comunidade do Membeca, onde o barco aportou, já em Caapiranga.
"Agora se prepara para colocar o pé na lama para pegar o ônibus", dizia Maria do Patrocínio. É que faltavam mais 32 km para chegarmos à sede de Caapiranga. Para alcançar o ônibus, enfrentamos, debaixo de chuva, uma ladeira de 100 m coberta de lama.


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