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DEPOIMENTO
Viagem até município isolado tem barco encalhado e piloto perdido
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAAPIRANGA (AM)
Uma viagem de barco pelos rios
secos do Amazonas exige paciência e provoca sustos.
A reportagem demorou 11 horas para fazer o percurso entre
Manaus e o município de Caapiranga (222 km a oeste da capital
amazonense). A viagem começou
às 9h, partindo pelo Solimões em
um veículo transportado por balsa. A viagem entre Manacapuru e
Caapiranga leva cerca de três horas, de barco, com o rio cheio. As
embarcações saem às 15h e chegam por volta das 18h.
Como preparativo para a viagem, compramos 12 litros de água
mineral, biscoitos, castanha-do-pará e barras de cereais.
A primeira parada foi na zona
rural de Manacapuru. De lá, eu e o
repórter-fotográfico Lalo de Almeida percorreremos mais 80 km
por estrada até o porto do rio, que
dá nome à cidade.
Quem quer chegar a Caapiranga tem de fazer o trajeto em lancha de alumínio com motor, chamada de jatinho, que parece mais
um ônibus. O rio é a estrada.
Entramos em um desses ônibus-barco às 15h30 com mais 50
pessoas, as mercadorias e a tripulação. Inicialmente, a viagem parecia prazerosa.
Na vazante, o rio Manacapuru
fica reluzente com o pôr-do-sol, o
vôo das garças e os saltos dos botos. Mas enfrentamos os outros
100 km até Caapiranga embaixo
de uma tempestade de verão
-que foi a primeira grande chuva desde agosto na região.
Dentro do barco, o marinheiro
teve que descer o toldo das janelas
para não inundar a embarcação.
Os mais religiosos clamavam a
Deus a todo instante. O céu ficou
escuro. Os peixes pulavam para
dentro da embarcação. O repórter-fotográfico emprestou a sua
lanterna para o marinheiro localizar a chave da iluminação.
Com a luz, o temor começou a
aumentar. É que o pescador Francisco Andrade Pereira, 55, e a mulher dele, Maria do Patrocínio,
notaram que o piloto do barco,
identificado como Denis, não conhecia os canais do Manacapuru.
"Valha-me, Deus! Francisco, vai
ajudar o homem a encontrar a
mãe do rio [o canal]", dizia ela.
Pé na lama
Pereira se posicionou ao lado de
Denis e começou a guiá-lo. Ficamos por quatro vezes atolados no
rio Manacapuru. Essa agonia durou umas quatro horas, até enxergarmos a luz na comunidade do
Membeca, onde o barco aportou,
já em Caapiranga.
"Agora se prepara para colocar
o pé na lama para pegar o ônibus", dizia Maria do Patrocínio. É
que faltavam mais 32 km para
chegarmos à sede de Caapiranga.
Para alcançar o ônibus, enfrentamos, debaixo de chuva, uma ladeira de 100 m coberta de lama.
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