São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2008 |
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Cadastro de adoção pode unir mãe do RJ a crianças de Recife
Novo sistema unifica dados de pretendentes e crianças que podem ser adotadas no país
CÍNTIA ACAYABA THIAGO REIS DA AGÊNCIA FOLHA A arquiteta Guila Hayon, 35, tenta, há um ano e meio, adotar uma criança no Rio de Janeiro. Até o mês passado, porém, não havia conhecido nenhuma que se encaixasse no perfil desejado. A preferência dela era por um bebê de até dois anos. Sem sucesso, passou a aceitar uma criança um pouco mais velha e até irmãos. Não adiantou. Já sem esperança, achou, com o advento do Cadastro Nacional de Adoção, uma solução a 2.338 km de distância. O cadastro, lançado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), unificou e cruzou os dados de pretendentes e crianças de todos os Estados -que ainda estão colocando os dados no sistema. O prazo para ele estar completo é novembro, mas já está em funcionamento. Há uma semana, Hayon recebeu uma ligação de Recife que pode dar fim a sua busca. Dois irmãos, um menino de quatro anos e uma menina de três, aguardam a visita dela. Ela poderá se transformar na primeira mãe do país a adotar um filho em outro Estado por meio do cadastro. Uma outra mãe de Recife também está em processo de adoção de duas crianças em Natal (RN). A expectativa, diz Hayon, é grande. "Meus amigos todos estão prontos para serem titios. Meu irmão, que acabou de comprar um apartamento, já até separou o quarto dos sobrinhos e diz que vai ser a maior farra na piscina do prédio." A arquiteta decidiu adotar uma criança em razão de uma doença que a fazia abortar a cada tentativa de engravidar. Edineide Silva, coordenadora do núcleo de adoção da 2ª Vara da Infância e da Juventude de Recife, que acompanha os casos de adoção, diz que, chegando na segunda, Hayon já poderá levar as crianças na terça. Segundo Silva, após a adoção haverá um estágio de convivência, que pode durar 30 dias, com avaliação, visitas e entrevistas com as crianças. Os irmãos, que podem conhecer a nova mãe nesta semana, são uma exceção em um país em que, só em abrigos, há cerca de 80 mil crianças e adolescentes. Hoje, no cadastro, há apenas 2.240 crianças -o número pode ser maior, já que o cadastro não está completo. Especialistas, porém, dizem que o número de aptos a adoção é ínfimo se comparado ao de abrigados. "O fato de uma criança ter vínculos familiares -60% das abrigadas- não quer dizer que a família tenha tirado essa criança do abrigo e dado a ela o direito de viver em família. É um direito que está sendo sonegado", diz o promotor Sávio Bittencourt, presidente da Angaad (Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção). Para Bittencourt, os outros 40% -sem vínculo com a família biológica e que não estão disponíveis para adoção- estão "abandonados". "São vítimas de um sistema injusto, lento e demagógico. Se a sociedade civil quiser saber por que tais crianças estão há dois, três anos, quatro anos no abrigo, ela não tem como saber, porque é segredo de Justiça. Na verdade, é um segredo contra a criança." Não dá para dizer que todas as crianças em abrigos irão para a adoção, afirma a psicóloga Edineide Silva. "Algumas ainda têm possibilidade de voltar para as famílias." Para ela, o processo tem de ser mais ágil. Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Cadastro único deve agilizar processo Índice |
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