|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Novas técnicas prometem melhorar taxa de gravidez
Clínicas de reprodução assistida adotam métodos inovadores na seleção de esperma, como superlentes que aumentam o gameta em 8.000 vezes e marcadores de proteína
Alterações no DNA dos espermatozóides dificultam a gestação e aumentam as chances de abortamento, segundo os especialistas
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
A seleção do espermatozóide
por meio de supermicroscópios
e de técnicas que permitem
avaliar melhor os danos no seu
DNA é a mais nova arma das
clínicas de reprodução para
tentar aumentar as taxas de
gestação e diminuir os índices
de abortos após tratamentos.
Uma das técnicas já disponíveis em ao menos dez clínicas
brasileiras é uma variação da
ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozóides), tratamento indicado quando o homem tem má qualidade ou
pouca quantidade de esperma.
A novidade é que o espermatozóide, até então, só podia ser visualizado por lentes que o aumentavam em 400 vezes. Agora, as superlentes conseguem
ampliar a imagem do gameta de
6.000 a 8.000 vezes. Chamada
IMSI (Intracytoplasmic Morfologically Select Sperm Injection), a técnica já ganhou o apelido de "Super-ICSI".
Segundo os médicos, ao enxergar melhor os espermatozóides usados na fertilização,
evita-se usar no tratamento os
que tenham danos no DNA. Essas alterações estão diretamente relacionadas à presença de
vacúolos (irregularidades) na
cabeça dos espermatozóides. O
gameta defeituoso pode fertilizar o óvulo, mas, ao ser formado, o embrião tem qualidade
ruim, o que pode dificultar a
implantação no útero ou levar
ao aborto.
"Se temos recursos técnicos
para selecionar melhor o espermatozóide, não há mais razão
para não adotar a Super-ICSI
como rotina. Estamos confiantes de que ela pode aumentar as
taxas de gestação e diminuir o
número de abortamentos",
afirma o ginecologista Ricardo
Baruffi, do Centro de Reprodução Humana Franco Júnior,
em Ribeirão Preto (SP).
O urologista Edson Borges
Júnior, da clínica Fertility, considera a técnica "promissora" e
diz que, pelos resultados iniciais, as chances de fertilização
aumentaram cerca de 20% nos
casos de homens com grande
alteração seminal. "Mas ainda
não estamos seguros de que esse aumento nas taxas de fertilização vá levar a um aumento
nas chances de gravidez ou
mesmo a uma diminuição nos
índices de aborto."
Em agosto último, a revista
científica "Human Reproduction" publicou um estudo de
um grupo canadense que constatou a correlação entre o dano
do DNA dos espermatozóides e
o número de abortos.
Foram avaliados 1.500 ciclos
de tratamento de fertilização
(FIV e ICSI). A diferença entre
a ICSI e a FIV (fertilização in
vitro) é que, na última, os óvulos e os espermatozóides são
colocados juntos em um meio
de cultura, no laboratório, e a
fertilização ocorre "naturalmente". Na ICSI, um único espermatozóide é introduzido no
óvulo por meio de uma injeção.
Segundo os pesquisadores, a
taxa de abortamento dobrou
no grupo de pacientes que possuía alterações no DNA dos espermatozóides em relação aos
que tinham esperma normal.
Casos selecionados
Para o ginecologista Artur
Dzik, do serviço de reprodução
do Hospital Pérola Byington, a
técnica deve ser utilizada apenas em casos selecionados. Casos de falhas de implantação,
homens com mais de 30% dos
espermatozóides com danos no
DNA e abortamento de repetição pós-FIV seriam algumas
dessas indicações.
Segundo ele, a técnica demanda investimento laboratorial (novo microscópio com novas lentes), o que pode levar a
um aumento do custo do tratamento. Além disso, demora-se
mais para selecionar os melhores espermatozóides a serem
injetados. "Como toda técnica
nova e pouco difundida, ela necessita de estudos multicêntricos que realmente comprovem
seu eventual benefício."
Baruffi concorda que o tempo de seleção seja maior. "Antes, demorávamos cinco minutos para escolher os espermatozóides de um caso. Agora, levamos de uma a duas horas." As
clínicas ouvidas pela reportagem afirmam que o investimento para a técnica não foi repassado às pacientes.
Proteínas
Algumas clínicas de reprodução assistida também têm testado, de forma ainda experimental, uma técnica que pretende selecionar de forma mais
elaborada o espermatozóide
ideal para a fertilização.
Segundo a embriologista Vanessa Rawe, pesquisadora da
Universidade Harvard e consultora da clínica Roger Abdelmassih (SP), os espermatozóides com DNA danificado possuem uma proteína específica
em sua membrana que pode ser
reconhecida por uma outra capaz de se "ligar" a ela, por meio
de pequenas bolinhas de metal.
"Passamos essa amostra, que
tem os espermatozóides e essas
bolinhas adicionadas, por um
magneto de maneira que os espermatozóides danificados sejam atraídos para ele. Dessa
forma, conseguimos selecionar
os espermatozóides sadios."
Rawe explica que ainda são
necessários estudos demonstrando que os espermatozóides
supostamente sadios não sofrem outros tipos de dano nesse processo de seleção.
"Temos que ter total segurança de que as bolinhas [de
metal] não vão grudar no espermatozóide sadio. Não sabemos quais poderiam ser as conseqüências se isso acontecesse", diz a pesquisadora.
60%
FOI A TAXA DE GESTAÇÃO
COM SUPER-ICSI EM ESTUDOS QUE COMPARARAM AS DUAS TÉCNICAS.
NO ICSI ANTIGO, O ÍNDICE DE GRAVIDADE FOI DE 25%
Texto Anterior: João Batista Melo (1933-2008): A onipresença rosa dos supermercados
Próximo Texto: Frase Índice
|