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Alunos brigam, depredam escola e apanham da PM
Às 9h20, 30 alunos começaram, sem motivo claro, a destruir colégio-modelo da zona leste
Ocupação da escola Amadeu Amaral pela PM durou 10 minutos; diretora desmaiou durante conflito entre os estudantes
Alex Almeida/Folha Imagem
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Vidros quebrados na escola Amadeu Amaral, na zona leste
LAURA CAPRIGLIONE
LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A estudante T., de 13 anos,
cursa a 7ª série da Escola Estadual Amadeu Amaral, uma das
mais antigas de São Paulo. Às
9h40 de ontem, ela estava escondida na sua sala de aula, no
segundo andar do prédio histórico ocupado pela escola. No
corredor, uns 30 alunos destruíam carteiras e cadeiras,
quebravam vidros, estouravam
portas. Foi quando colegas vieram avisá-la de que sua irmãzinha, F., de dez anos, da 5ª série,
estava jogada no chão de sua
classe, inconsciente. "Desmaiou de medo", T. explica.
A adolescente saiu correndo
para socorrer a caçula. Sentiu o
ardor de uma forte cacetada
nas costas, desferida por uma
policial militar. T. correu, assim mesmo, rumo à classe da irmã. Tomou mais duas borrachadas. No caminho, viu crianças vomitando de medo. Viu a
diretora da escola, Maria Regina de Negreiros, subindo as escadas e gritando: "Não fui eu,
não fui eu", em resposta às perguntas dos alunos sobre se havia sido ela que acionara a PM.
Em seguida, a própria Regina
desmaiou. Durou dez minutos
a ocupação da escola pela PM.
O confronto começou às
9h20, quando, sem motivo claro, 30 alunos começaram a destruir a escola. "Meninos embrulhavam os pulsos em camisetas para estourar os vidros
com socos. Cadeiras foram arremessadas do 2º andar, depois
de arrebentar as janelas", contou uma aluna da 7ª série.
O quadro agravou-se porque,
dez minutos depois de iniciada
a depredação, duas adolescentes, uma de 15 anos e outra de
18 anos, começaram uma briga
violenta de unhadas e puxões
de cabelos. A rivalidade entre
as duas existe desde o início do
ano e piorou quando uma acusou a outra de "prostituta". Enquanto a destruição se propagava por todo o prédio, os professores, com medo, trancaram-se em uma sala de aula.
Não foi a primeira vez que a
Amadeu Amaral viu-se às voltas com cenas de violência. Anteontem mesmo, por causa de
uma excursão a um museu,
quando só uma parte dos alunos foi autorizada a participar
do passeio, os excluídos abordaram a vice-diretora, Denise
Mayumi Cavali, na hora da saída. Um aluno de 15 anos empurrou a professora contra o
portão e xingou-a. Ela teve que
pular um muro para fugir.
Na segunda-feira, as aulas foram encerradas às 11h (o horário normal é às 16h), por causa
de outro surto de vandalismo,
vidros e cadeiras quebrados.
"A PM tratou os alunos como
se fosse uma rebelião da Febem", diz Leandra Firmino, 34,
mãe de quatro filhos, três deles
alunos do Amadeu. "Aqui eles
não voltam, mesmo que percam o ano." Na porta da escola,
após a confusão, os jovens mostravam os machucados. L., 15,
exibia sangue no peito: "Fiquei
trancado em uma sala, me deram soco e golpe de cassetete. A
PM falava que era ela que mandava na escola."
A Folha conversou com 35
alunos presentes durante os
episódios de violência de ontem, incluindo as duas garotas
envolvidas na briga. Todos foram unânimes quanto ao uso
de cassetetes pela PM.
Fundada em 1909 no largo
do Belém, bem em frente à
igreja, a escola ocupa um prédio amplo, tombado pelo patrimônio histórico, mas que hoje
é usado por apenas 277 alunos,
atendidos por 63 professores. É
uma das 500 escolas em que a
Secretaria de Estado da Educação implantou o regime de turno integral. Alunos entram às
7h e saem às 16h.
"Isso aqui é um fracasso como escola", diz Neide Catarina
Nascimento, 46, cozinheira e
mãe de um aluno de 16 anos da
7ª série que "nunca passa de
ano mesmo". "Todo mundo
tenta transferir os filhos para
outra escola, já que nesta ninguém aprende nada."
Pouco depois, o aluno W., de
14 anos, conta como foi expulso
da escola, há três semanas. "Eu
joguei uma cadeira na coordenadora e já bati em vários professores", diz. Como a dicção
do menino é precária, pede-se
que ele escreva o seu nome em
um papel. Ele não consegue.
"Só sei copiar", diz. "Mas sou
uma máquina copiadora."
A sala da menina T., citada
no início deste texto, começou
o ano com 37 alunos -hoje só
tem oito. Na classe de A., 14
anos, 8ª série, a lista de presença cita 24 alunos. Doze ainda
vão. Na classe de J. e U., as brigonas da 7ª série, 24 se matricularam. Hoje, oito assistem às
aulas. Segundo a Secretaria da
Educação, a evasão total neste
ano foi de apenas 19 alunos.
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