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ENSINO SUPERIOR
Universidades que reservam vagas por cor e renda dizem que alunos requerem ajuda financeira para concluir curso
Com boa nota, cotista precisa de recursos
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
No momento em que o Congresso está perto de votar a adoção de cotas em universidades federais, três instituições estaduais
já têm resultados práticos para
avaliar erros e acertos da política.
Na conta dos acertos, o desempenho dos aprovados por cotas
na Uerj (Universidade do Estado
do Rio de Janeiro), Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense) e Uneb (Universidade do
Estado da Bahia) indica que o desastre temido por muitos não
ocorreu. Eles tiveram notas muito
próximas às dos demais alunos.
Na conta dos erros, há a preocupação de que esse resultado vá
por água abaixo por falta de apoio
financeiro. Sem bolsas ou políticas de ajuda, as reitorias das três
instituições temem que muitos
abandonem a universidade.
Há dois anos, Uerj, Uenf e Uneb
instituíram sistema de cotas no
vestibular. A Justiça manteve a
prática, negando ações contrárias.
A Uneb, com 22 mil alunos, reservou em 2003 40% das vagas para negros. Pesquisa da reitoria
mostrou que, após um ano, esses
estudantes tiveram nota média
7,7; os demais tiveram média 7,9.
Urbanismo teve a maior diferença: 6,9 de cotistas e 8,1 dos demais. Em literatura portuguesa,
foi o inverso: 8,8 dos cotistas, ante
8,2. "Não há desnível", diz o pró-reitor de ensino e graduação da
Uneb, Luiz Carlos dos Santos.
Tem resultados muito parecidos a Uenf, com 1.800 graduandos
em Campos (RJ). No primeiro
ano, 50% das vagas foram para
alunos da rede pública e 40%, para negros e pardos. No ano seguinte, os índices caíram e foi exigida comprovação de pobreza. A
primeira turma de cotistas da
Uenf teve média 6,8, e os demais,
7,2. Na segunda, foi 6,7 ante 7,1.
Sem média, a análise dos dados
da Uerj (22 mil alunos) é mais difícil, mas a distância não é grande.
A Uerj separou os alunos em faixas. Na média zero (abandonaram o curso), o dado para cotistas
é de 7%, ante 14% dos demais.
Para a pró-reitora de graduação
da Uerj, Raquel Villardi, a tendência é a distância acabar: "Na formatura, ninguém distinguirá
quem entrou por cota". Ela diz
que a diferença é pequena em parte porque a Uerj ajuda alunos com
dificuldade, independentemente
de terem entrado por cota.
Apesar dos bons resultados, Villardi diz ter notado diferença da
primeira turma de cotas (que não
comprovou carência) para a segunda. "Os problemas de permanência se agudizaram. Professores citaram alunos que desmaiaram na sala porque não tinham se
alimentado. A universidade está
preparada para manter a qualidade, desde que o dinheiro venha."
Santos, da Uneb, concorda: "Alguns alunos já revelam sua incapacidade de seguir o curso por razões exclusivamente financeiras".
Almy Júnior de Carvalho, pró-reitor de ensino e graduação da
Uenf, diz que a universidade precisa dar alternativas aos carentes.
"É preciso oferecer alojamento,
transporte e restaurante universitário e aumentar o valor das bolsas [hoje de R$ 190/mês]."
Segundo o subsecretário de Ensino Superior da Secretaria de
Ciência e Tecnologia do Estado
do Rio, Luiz Henrique Almeida, o
governo quer aumentar a oferta
de bolsas de iniciação científica, já
que a bolsa de R$ 190 por mês é
concedida por apenas um ano.
Ele diz também que o governo
investirá R$ 1,8 milhão em laboratórios, na biblioteca e na compra
de materiais mais caros.
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