São Paulo, segunda-feira, 13 de dezembro de 2004

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ENSINO SUPERIOR

Universidades que reservam vagas por cor e renda dizem que alunos requerem ajuda financeira para concluir curso

Com boa nota, cotista precisa de recursos

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

No momento em que o Congresso está perto de votar a adoção de cotas em universidades federais, três instituições estaduais já têm resultados práticos para avaliar erros e acertos da política.
Na conta dos acertos, o desempenho dos aprovados por cotas na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense) e Uneb (Universidade do Estado da Bahia) indica que o desastre temido por muitos não ocorreu. Eles tiveram notas muito próximas às dos demais alunos.
Na conta dos erros, há a preocupação de que esse resultado vá por água abaixo por falta de apoio financeiro. Sem bolsas ou políticas de ajuda, as reitorias das três instituições temem que muitos abandonem a universidade.
Há dois anos, Uerj, Uenf e Uneb instituíram sistema de cotas no vestibular. A Justiça manteve a prática, negando ações contrárias.
A Uneb, com 22 mil alunos, reservou em 2003 40% das vagas para negros. Pesquisa da reitoria mostrou que, após um ano, esses estudantes tiveram nota média 7,7; os demais tiveram média 7,9.
Urbanismo teve a maior diferença: 6,9 de cotistas e 8,1 dos demais. Em literatura portuguesa, foi o inverso: 8,8 dos cotistas, ante 8,2. "Não há desnível", diz o pró-reitor de ensino e graduação da Uneb, Luiz Carlos dos Santos.
Tem resultados muito parecidos a Uenf, com 1.800 graduandos em Campos (RJ). No primeiro ano, 50% das vagas foram para alunos da rede pública e 40%, para negros e pardos. No ano seguinte, os índices caíram e foi exigida comprovação de pobreza. A primeira turma de cotistas da Uenf teve média 6,8, e os demais, 7,2. Na segunda, foi 6,7 ante 7,1.
Sem média, a análise dos dados da Uerj (22 mil alunos) é mais difícil, mas a distância não é grande. A Uerj separou os alunos em faixas. Na média zero (abandonaram o curso), o dado para cotistas é de 7%, ante 14% dos demais.
Para a pró-reitora de graduação da Uerj, Raquel Villardi, a tendência é a distância acabar: "Na formatura, ninguém distinguirá quem entrou por cota". Ela diz que a diferença é pequena em parte porque a Uerj ajuda alunos com dificuldade, independentemente de terem entrado por cota.
Apesar dos bons resultados, Villardi diz ter notado diferença da primeira turma de cotas (que não comprovou carência) para a segunda. "Os problemas de permanência se agudizaram. Professores citaram alunos que desmaiaram na sala porque não tinham se alimentado. A universidade está preparada para manter a qualidade, desde que o dinheiro venha."
Santos, da Uneb, concorda: "Alguns alunos já revelam sua incapacidade de seguir o curso por razões exclusivamente financeiras".
Almy Júnior de Carvalho, pró-reitor de ensino e graduação da Uenf, diz que a universidade precisa dar alternativas aos carentes. "É preciso oferecer alojamento, transporte e restaurante universitário e aumentar o valor das bolsas [hoje de R$ 190/mês]."
Segundo o subsecretário de Ensino Superior da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio, Luiz Henrique Almeida, o governo quer aumentar a oferta de bolsas de iniciação científica, já que a bolsa de R$ 190 por mês é concedida por apenas um ano.
Ele diz também que o governo investirá R$ 1,8 milhão em laboratórios, na biblioteca e na compra de materiais mais caros.


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