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SAÚDE
Para vice-prefeito de São Paulo, interrupção da gravidez não deveria ser permitida nem em caso de estupro ou de anencefalia
Debate sobre aborto é inoportuno, diz Bicudo
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
A discussão sobre a descriminalização do aborto já foi feita e nem
deveria ser retomada. Essa é a opinião do vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, 82.
Na semana passada, a ministra
Nilcéa Freire (Secretaria Especial
de Políticas para as Mulheres)
anunciou que o governo federal
irá formar um grupo com o objetivo de propor alterações na legislação sobre o assunto.
Para o vice-prefeito, uma eventual mudança iria de encontro à
Constituição, que garante "a inviolabilidade do direito à vida".
Bicudo afirma que nem em casos de estupro o aborto deve ser liberado -diferentemente do que
prescreve o artigo 128 do Código
Penal, que autoriza a interrupção
de gravidez decorrente de violência sexual. Para o vice-prefeito, o
direito à vida, protegido pelo artigo 5º da Constituição, se sobrepõe
ao código.
Leia abaixo trechos da entrevista concedida à Folha, por telefone, anteontem.
Folha - O que o sr. acha da intenção de mudar a lei sobre o aborto?
Hélio Bicudo - Em primeiro lugar, vamos falar, em vez do aborto, do direito à vida, que é o direito fundamental estabelecido pela
Constituição. Tudo aquilo que é
contrário à vida não é admitido.
Acho que é uma discussão extemporânea, talvez interesse às causas
feministas, mas não interessa à
sociedade como um todo.
Folha - Com base nisso, o sr. acha
que nem as vítimas de estupro podem interromper a gravidez?
Bicudo - Você só tem um caso de
aborto na legislação brasileira,
que é para preservar a vida da paciente quando ela está sofrendo
uma grave ameaça de morte.
Folha - Se o sr. for consultado pelo grupo que estuda o assunto, o
que irá dizer?
Bicudo - Essa é uma discussão
que vem de tempos em tempos.
Há alguns anos, quando fui deputado federal, essa discussão foi feita na Câmara com toda a amplitude e se chegou à conclusão de que
não é possível atropelar o próprio
fundamento da Constituição para
instituir o direito ao aborto.
Folha - A descriminalização não
poderia dar mais segurança às mulheres que escolhem abortar, uma
vez que atualmente elas precisam
fazê-lo de forma clandestina?
Bicudo - Isso seria regularizar
um crime.
Folha - E a segurança da mãe?
Bicudo - Tenho de pensar no direito à vida, não na segurança da
mãe. Você não pode sacrificar
uma vida pelo interesse de outra
pessoa.
Folha - E o aborto nos casos de
anencefalia [fetos sem cérebro]?
Bicudo - Sou absolutamente
contra. Você não sabe o que vai
acontecer depois. A vida não é
propriedade nem da mãe nem do
pai. É da pessoa que está vivendo.
Folha - Uma das idéias é dar atendimento qualificado às mulheres,
até mesmo assistência às que fizerem o aborto em condições inseguras. O que sr. acha disso?
Bicudo - O problema do aborto
inseguro é abrir a fresta da porta.
Aberta a fresta, a porta está aberta
de maneira total. É uma maneira
velada de legalizar o aborto.
Folha - As posições do sr. estão ligadas à religião?
Bicudo - Não, ao direito à vida,
que é o direito fundamental e do
qual decorrem todos os outros direitos. E que está previsto na
Constituição.
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