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OCUPAÇÃO ILEGAL
Área responsável por fornecer água a 3,7 milhões de pessoas é alvo de construções em local de preservação
Guarapiranga recebe 64 moradores por dia, diz ONG
FABIO SCHIVARTCHE
DA REPORTAGEM LOCAL
Responsável pelo abastecimento de água a 3,7 milhões de paulistas, a represa de Guarapiranga está sendo invadida por uma multidão. A cada dia há 64 novos moradores instalados na região da bacia, a imensa maioria em casas
construídas ilegalmente em áreas
de preservação e muitas sem rede
de saneamento. É um adensamento populacional que contribui para a piora da qualidade da
água distribuída pelo Estado.
O diagnóstico foi divulgado ontem pela organização não-governamental ISA (Instituto Socioambiental), depois de analisar por
um ano dados oficiais do governo
e fotos de satélites e ir a campo
conferir as imagens. Em 2000, havia 766 mil pessoas vivendo na
área da bacia, que engloba a zona
sul da capital paulista e outros seis
municípios. É um crescimento de
37,7% em relação ao dado de 1991.
Esse aumento populacional foi
muito maior do que o da cidade
de São Paulo na mesma década,
de 8,2%. A pesquisa avalia que os
novos habitantes dessa região de
mananciais não são fruto só do
crescimento vegetativo, mas sim
de novas invasões a áreas que deveriam ser protegidas.
"As invasões continuam e essas
pessoas não dispõem de uma rede
adequada de saneamento básico.
Logo, o esgoto dessa multidão vai
direto para a água da represa, sem
o tratamento necessário", diz Marussia Whately, coordenadora do
Programa Mananciais do ISA.
Com base em medições feitas
nos reservatórios da Sabesp e no
rio Embu-Guaçu (numa escala
que vai de 10 a 100), o relatório
aponta uma piora na qualidade
da água que é captada e distribuída à população -num dos pontos o nível de classificação "ruim"
foi ultrapassado em 2004.
Nos últimos cinco anos não
houve censo do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), mas a avaliação dos pesquisadores do ISA é que a ocupação
manteve-se no mesmo patamar
-elevando a população da área
da represa para mais de 800 mil
pessoas nos dias de hoje.
O governo do Estado de São
Paulo aponta um incremento de
290 mil novos habitantes na região entre 1991 e 2000, mas a área
estudada não coincide com a do
estudo divulgado ontem.
Outro lado
A Secretaria de Estado dos Recursos Hídricos disse que não comentaria o relatório porque não
teve acesso a ele. Mas ressaltou
que estão em andamento as obras
de um interceptor que levará o esgoto de parte dos moradores da
área da represa Guarapiranga para uma estação de tratamento em
Barueri, na Grande São Paulo. A
obra deve ficar pronta em 2006.
A bacia da represa Guarapiranga será cortada pelo trecho sul do
Rodoanel, um anel viário metropolitano projetado pelo governo
do Estado que, quando estiver totalmente pronto, interligará as
principais rodovias paulistas.
Ambientalistas têm criticado o
traçado do trecho sul, dizendo
que poderá ter impactos na fauna
e na flora dos mananciais. O governo diz estar tomando todas as
precauções necessárias para evitar impactos negativos.
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