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Políticas ultrapassadas contribuem para enchentes
CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Imagine um túnel entre o rio
Tietê e o porto de Santos só para escoar água. Na década de
1920, políticos imaginaram que
esta poderia ser uma solução
para o problema das enchentes
em São Paulo. Não sabiam o
que resultaria disso, mas outras
políticas implementadas desde
o início do século passado contribuem até hoje para inundar a
cidade, segundo arquitetos e
urbanistas ouvidos pela Folha.
Quem consolidou os projetos
de urbanização da cidade foi
Prestes Maia, prefeito entre
1938 e 1945. Ele criou e implementou o "Plano de Avenidas",
que promoveu a canalização de
córregos e construção de avenidas nos fundos de seus vales.
"Ele não tinha condição de
entender que um dia toda essa
região ficaria impermeabilizada por causa da pavimentação e
dos loteamentos e, portanto, os
fundos de vale receberiam a
água muito rapidamente", diz o
arquiteto e urbanista Jorge Wilheim. "O fundo do vale teria
que ter tido parte reservada para absorver a água".
Para Regina Meyer, professora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
USP), o modelo sobrecarregou
os rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí, "porque a canalização faz com que a água dos córregos chegue mais depressa aos
grandes rios". Ela acredita que
a canalização tenha sido feita
de forma "aleatória", sem
abranger todos os trechos, empurrando as enchentes para
outros pontos. O professor da
FAU Candido Malta Campos
Filho concorda: "Eliminam as
microenchentes e agravam as
macroenchentes."
Já o professor de planejamento urbano da Escola Politécnica da USP Witold Zmitrowicz acredita que a canalização
não seria um problema se as
áreas às margens dos rios não
tivessem sido loteadas e habitadas tão rapidamente. Em
1945, São Paulo tinha 1,6 milhão de habitantes, número
que dobrou nos 15 anos seguintes. Construções para abrigar
essa população impermeabilizaram o solo.
O plano de Prestes Maia de
tornar o Tietê mais reto, seus
afluentes canalizados e as margens livres para construção de
casas encontrou resistência de
outro engenheiro, Anhaia Mello. Ambos lecionavam na Escola Politécnica, e Mello acabaria fundando a FAU.
Candido Malta, que foi aluno
de Mello, conta que ele defendia a existência de lagoas e parques ao longo dos canais, para
reterem a água, a partir de um
projeto elaborado por Saturnino de Brito. Chegou a colocar
em prática suas ideias quando
foi prefeito, por alguns meses
(1930-1931). "Era uma disputa
entre duas linhas: São Paulo
não pode parar e São Paulo deve crescer de forma controlada.
Prestes Maia venceu" -e Mello
foi tirado do cargo.
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