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VIOLÊNCIA
Na zona leste, assaltos fazem motorista parar a 2 km do ponto final; Marta diz que grupos cobram até pedágios de empresa
Ladrões obrigam ônibus a mudar itinerário
DA REPORTAGEM LOCAL
O motorista do ônibus da linha
3070 (Jardim Limoeiro-Terminal
São Mateus), na zona leste de São
Paulo, para surpresa dos passageiros, muda o trajeto original e
estaciona a dois quilômetros de
seu ponto final. O motivo: o número de assaltos seguidos, sempre na última parada, registrados
pela empresa que explora o transporte coletivo na região.
A cena de poucos dias atrás, que
se repete em outras regiões da cidade, mostra em parte o que integrantes de uma quadrilha de ladrões, apresentada ontem, vinha
fazendo na capital. Pelo menos 32
roubos a ônibus nessa área, ocorridos nos últimos 17 dias, são atribuídos ao grupo.
Segundo o delegado Roberto
Gonçalves, 39, do 54º DP (Cidade
Tiradentes), os ladrões chegavam
a conferir a planilha de passageiros que embarcaram no dia para
exigir os valores correspondentes
em dinheiro e passes. Em cada
ação, recolhiam de R$ 200 a R$
500. Em um dia, chegaram a roubar quatros ônibus em seguida.
Com medo, 13 cobradores e
motoristas pediram transferência
da linha 3070, que, diariamente,
transporta cerca de 3.500 pessoas.
"Trabalho em transporte coletivo
desde 81 e nunca tinha visto um
negócio desse", afirma o chefe de
fiscalização da SPBus Transportes
Urbanos S/A, Jesiel Pereira, 38,
responsável pela linha 3070.
A ousadia do grupo chegou a tal
ponto que, após a prisão de três de
seus membros em 26 de dezembro passado, passaram a ligar para a viação, avisando que iriam
roubar mais coletivos -alegando
que precisavam pagar advogados
para os detidos- e ameaçando
para que as ocorrências não fossem mais registradas no 54º DP,
que fizera as prisões.
No ano passado, de acordo com
a SPBus, a mesma quadrilha tentou fechar, por telefone, um
"acordo" que previa o pagamento
de um salário mínimo por mês
(R$ 240), mais cesta básica e um
roubo a ônibus por dia.
A história da linha 3070 coincide com a da linha 3703 (Jardim
Vitória-Metrô Carrão), no Jardim
Conquista, também na região de
São Mateus. "O problema aqui,
pelo que me disseram [funcionários e moradores], é a falta de segurança. A ação do narcotráfico
amedronta a população e a linha
sofreu até alterações em função
disso", afirmou a prefeita Marta
Suplicy (PT), ontem de manhã,
em visita ao lugar. Segundo ela,
estariam ocorrendo depredações
e até cobrança de pedágio. Em um
desses ataques, afirmou, um ônibus foi metralhado no último dia
24. Ninguém saiu ferido.
No mesmo dia, o secretário da
Segurança Pública do Estado,
Saulo de Castro Abreu Filho, que
pode enfrentar Marta Suplicy nas
eleições municipais deste ano pelo PSDB, deu entrevista rebatendo as críticas. "Não se pode dizer
que não está sendo feito nada",
disse, ao comentar sobre a prisão
da quadrilha da linha 3070, feita
um dia antes pelo 54º DP e mencionando o número de operações
realizadas pela Polícia Militar na
região (veja texto nesta página).
Segundo números da SPTrans
(São Paulo Transporte), empresa
municipal que gerencia o transporte coletivo na capital, o número de roubos a ônibus no ano passado -15.240- bateu recorde,
sendo o maior em cinco anos.
Nesse período, o crescimento
do número de assaltos foi de 35%,
apesar de a frota média em circulação ter sido reduzida em 17,5%
-de 10,1 mil para 8,3 mil.
O secretário da Segurança questiona os dados sobre assaltos
apresentados pela SPTrans. É a
primeira vez que isso ocorre. De
acordo com ele, o número de roubos a coletivos registrados pela
polícia na capital, incluindo as lotações, passou de 12.388, em 2002,
para 12.502, em 2003, um aumento de 0,9%. "Não teve aumento
significativo no período", disse.
Os quatro homens detidos anteontem -Edson Ferreira, 27, o
Tiririca, Alex Idalino Alves, 25, o
Leo, José Evandro dos Santos, 26,
o Xiboquinha, e José Ramiro da
Silva, 26, conhecido como Ramiro- disseram em depoimento
que falarão apenas em juízo.
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