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Infectologista defende vacina obrigatória
Para Vicente Amato Neto, o governo deveria exigir certificado de vacinação contra febre amarela a quem for a regiões endêmicas
"Ninguém pode dizer que não existe risco [de febre amarela urbana] quando doentes vêm de áreas silvestres para lugares com "Aedes"
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O médico Vicente Amato Neto, 80, um dos infectologistas
mais renomados do país, defende que o governo federal exija o
certificado de vacinação a
quem for a trabalho ou a passeio em regiões endêmicas de
febre amarela como forma de
evitar a proliferação da doença.
De acordo com o Ministério
da Saúde, entre 1996 e 2007, o
país registrou 349 casos de febre amarela em pessoas que entraram nas matas e não tinham
sido previamente imunizadas.
Professor aposentado pela
USP e pesquisador do Instituto
de Medicina Tropical da mesma universidade, ele diz que o
momento é de preocupação
porque a infestação do mosquito "Aedes aegypti" (que transmite dengue e febre amarela) é
alta em áreas urbanas do país, o
que pode facilitar o aparecimento da doença na cidade.
"Rezemos para que isso não
aconteça." A seguir, trechos da
entrevista concedida à Folha.
FOLHA - Não falta uma divulgação
maior sobre a necessidade de vacinação contra a febre amarela para
quem vai a regiões endêmicas ou
mesmo uma exigência das autoridades de saúde?
VICENTE AMATO NETO - Para ir para o exterior é obrigatório. Se
não estiver vacinado, não viaja.
Aqui não é obrigatório. Evidentemente que nós sabemos que
tem que ser assim: viajou para
áreas endêmicas e de transição,
tem que vacinar, mas isso não é
respeitado. Os casos estão aí. É
um perigo, uma preocupação,
que os casos de febre amarela
silvestre estejam acontecendo
dessa maneira.
FOLHA - O país não deveria tornar
obrigatória a vacina para quem vai a
áreas endêmicas e de transição?
AMATO NETO - Essa é uma atitude que precisa ser revista, mas
eu penso que a exigência deva
existir. É um problema que está
em foco hoje. Proibir ou não, é o
governo que, diante do que está
acontecendo, vai tentar considerar essa questão como prioritária. De qualquer forma, sem
dúvida é preciso intensificar a
divulgação da necessidade da
vacina para quem vai para essas
regiões endêmicas.
FOLHA - O sr. acredita na possibilidade de uma epidemia urbana da
doença, causada pelo "Aedes"?
AMATO NETO - Pois é, de repente
vemos uma situação como essa,
que sempre foi motivo de preocupação. Temos "Aedes" sobrando no Brasil, uma disseminação enorme. É um temor que sempre tivemos, pacientes que
adquiriram a doença em lugares silvestres, que viessem a ser
tratados em uma área urbana
onde existe o "Aedes". Temos
esse caso em São Paulo. Deve
haver um isolamento muito rigoroso da paciente. Vamos almejar que esse caso fique por
aí. Mas não podemos dizer que
esse risco [febre amarela urbana] não exista. Ninguém pode
dizer que não existe risco [de
febre amarela urbana] em uma
situação em que doentes vêm
de áreas silvestres e vão para lugares com "Aedes". Rezemos
para que isso não aconteça.
FOLHA - Com esse aumento de casos, não é preciso voltar à discussão
sobre a vacinação em massa?
AMATO NETO - É um assunto que
deve entrar em cogitação agora.
O ministro da Saúde, com toda
cautela, diz que não há motivo
para temor. Tudo bem que essa
é a posição dele para não causar
alarde. É algo que precisa ser
considerado agora. Mas será
necessária uma porção de coisas, como por exemplo, uma
maior produção de vacinas. Temos que esperar um pouquinho mais para ver, como fica a
situação atual, se tem evolução.
FOLHA - O que tem que ser feito
para evitar mais casos da doença?
AMATO NETO - Combater mosquitos em área silvestre é impossível. Por isso é fundamental o diagnóstico precoce. Começou a morrer macacos, é importante fazer o diagnóstico de
febre amarela bem depressa.
Tenho visto um pouco de demora nos diagnósticos. O que
tem que fazer é brecar a entrada em áreas silvestres sem proteção. Na área urbana, também
é muito difícil a erradicação do
"Aedes", quase impossível.
FOLHA - A rede de saúde brasileira
está preparada para atender a doença, cuja letalidade é de 50%?
AMATO NETO - Os médicos precisam estar muito bem alertados para o diagnóstico bem rápido de febre amarela. É preciso saber tratar de verdade porque é uma doença muito grave.
Os que são salvos, em geral, o
são porque há uma assistência
adequada. O Ministério da Saúde divulga como deve ser feito o
tratamento, mas, infelizmente,
há regiões em que isso não
acontece. Nos hospitais é absolutamente necessário que existam sistemas de isolamentos
rigorosos. Essa é uma deficiência no país. Quando há necessidade de isolar pacientes, em
um grande número de hospitais, há uma improvisação.
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