São Paulo, sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

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DE NOVO, A CHUVA

Mais de 500 mortos, busca por comida e medo de saque

Tragédia no Rio se agrava com aumento de mortos e colapso de abastecimento nas cidades serranas; Dilma e Cabral culpam ocupação irregular pelo desastre

Fernando Rabelo/Folhapress
Trator abre valas em cemitério municipal de Teresópolis

DO RIO
DOS ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO


O dia seguinte à maior tragédia natural que já atingiu o Rio de Janeiro trouxe para os sobreviventes dos municípios atingidos, na região serrana, além da desolação e da dor, o medo de saques, os cortes no abastecimento de água e de energia elétrica e o risco de falta de alimentos.
Em Nova Friburgo, moradores reviravam o lixo em busca de alimentos e remédios jogados fora por comerciantes que tiveram seus estabelecimentos inundados.
No Vale do Cuiabá, área nobre de Petrópolis, policiais em tratores buscavam saqueadores. O Exército montou acampamentos ra região para ajudar no resgate de vítimas e distribuir água e comida aos desabrigados.
Em Teresópolis, há racionamento de água. Caminhões-pipa foram enviados.
Até as 22h, as defesas civis municipais haviam encontrado 508 corpos. Peritos do IML já tinham identificado 470 deles. Nova Friburgo tinha 225 corpos; Teresópolis, 223; Petrópolis, 39. Cadáveres também foram encontrados em Sumidouro (17) e São José do Vale do Rio Preto (4). Perto de 14 mil pessoas estavam desalojadas.
O temporal de quarta-feira fez mais vítimas do que toda a chuva de 2010 no país, quando 473 pessoas morreram, segundo a Secretaria Nacional de Defesa Civil.

EM BUSCA DE COMIDA
Ainda tomadas pela lama, lojas de Nova Friburgo jogaram em caçambas e nas vias públicas mercadorias sujas que não prestavam mais depois da inundação.
Era lixo, mas passou a ser disputado por moradores, muitos deles desabrigados e desabastecidos. "Pega daqui, tem menos lama", orientava Darli José Nicolau, 68, aposentado que percorria as vias ao lado de parentes.
Nos poucos postos de gasolina abertos, a fila para conseguir combustível durava em média duas horas. Telefones mal funcionavam.
A dificuldade trouxe a solidariedade. No principal abrigo de Teresópolis, 400 pessoas se cadastraram como voluntários. O administrador de empresas Lucas Guimarães, 24, passou mais de 12 horas servindo água, sopa e frutas para famílias de desabrigados.

SAQUES
Uma onda de saques a pousadas de luxo e casas arruinadas fez a polícia ocupar o Vale do Cuiabá, região de Petrópolis mais afetada pela enchente.
Até o final da tarde, ao menos um saqueador havia sido preso com caixas de uísque e de vinho, 15 botijões gás e cinco rodas de carro com pneus e tudo.
Um bloqueio policial foi montado na estrada de acesso ao vale e só carros de ajuda humanitária passavam.
Para proteger a mobília enlameada pela enxurrada, moradores mantêm alguém da família acordado durante toda a madrugada.
"As pessoas estão se aproveitando da desgraça alheia. Os moradores estão revoltados, se pegarem vão matar e jogar o corpo no rio", afirma o sargento Júlio César, da Guarda Municipal.
Em Teresópolis, a demora para o reconhecimento dos mortos torna a identificação cada vez mais difícil por causa da deterioração. Famílias diferentes já chegaram a brigar por um mesmo corpo.
Enterros eram feitos sem que houvesse tempo para velórios. O cemitério local, que faz em média dez enterros por dia, até as 15h de ontem já tinha feito 40.


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