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São Paulo, sexta-feira, 14 de fevereiro de 2003

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VIOLÊNCIA

Dois membros da quadrilha de sequestradores ouviram comentários sobre o fazendeiro em um evento em Sabino (SP)

Bertin foi escolhido por ser "dono da cidade"

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O fazendeiro João Bertin, 82, patriarca da família dona de um dos maiores frigoríficos do país, foi escolhido para ser sequestrado por causa de uma inauguração em que foi dito que ele era ""dono de Sabino", um pequeno município do interior de São Paulo, de 5.000 habitantes, onde ele tem uma fazenda.
Bertin passou 155 dias em cativeiro, nas mãos de uma das maiores quadrilhas de sequestradores descobertas no país. O líder do grupo, Pedro Ciechanovicz, 48, está preso e foi indiciado por oito crimes de sequestro.
Ciechanovicz disse à polícia que dois homens da quadrilha estavam presentes no evento, realizado em uma escola de Sabino, ouviram sobre Bertin e o seguiram até em casa, em Lins. Depois passaram a estudar seus hábitos.
Os detalhes do caso e de outras vítimas estão em dez páginas do depoimento que o sequestrador deu aos delegados Ivaney Cayres de Souza e Everardo Tanganelli Júnior, do Denarc, nesta semana.
No dia em que abordaram Bertin na fazenda dele em Sabino, segundo sequestrador, o grupo o seguia desde Lins, a 25 km dali. Na fuga, trocaram de carro três vezes para despistar a polícia.
Agiram em um domingo porque precisariam passar por dentro da cidade de Lins.
Com exceção da cúpula da quadrilha, os demais não se conheciam. ""Quero esclarecer que não sei a identidade dos demais participantes pois em razão do tipo de crime somente se usa codinome", afirmou. Para a polícia, mais um indício das técnicas de guerrilha usadas pela quadrilha.
Segundo Cayres, a quadrilha se dividia em células. Ciechanoviz era da coordenação, havia núcleos que escolhiam as vítimas e outros de carcereiros, que vigiam as vítimas durante o cativeiro.
Em outro sequestro, de mãe e filha ocorrido no Mato Grosso do Sul, o sequestrador disse que costumava falar em espanhol. Queria que elas pensassem que eram um grupo de estrangeiros.
No do empresário Roberto Benito Júnior, da rede Lojas Cem, pegaram a vítima no trajeto entre a casa dele e o trabalho. Mandaram para a família fotos suas com armas apontadas para a cabeça, parte da estratégia para sensibilizar e pressionar familiares.
Mesmo depois do pagamento do resgate, ficaram dois dias com o empresário preso. Queriam contar os dólares que receberam e verificar se não eram falsos, afirmou Ciechanovicz aos delegados.
Ontem, o Denarc encerrou o inquérito sobre quadrilha e o enviou à Justiça. Dos 38 integrantes identificados, 13 estão presos, dois morreram, e os demais estão foragidos. Parte deles pode estar escondida no Paraguai.


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