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VIOLÊNCIA
Dois membros da quadrilha de sequestradores ouviram comentários sobre o fazendeiro em um evento em Sabino (SP)
Bertin foi escolhido por ser "dono da cidade"
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
O fazendeiro João Bertin, 82,
patriarca da família dona de um
dos maiores frigoríficos do país,
foi escolhido para ser sequestrado
por causa de uma inauguração
em que foi dito que ele era ""dono
de Sabino", um pequeno município do interior de São Paulo, de
5.000 habitantes, onde ele tem
uma fazenda.
Bertin passou 155 dias em cativeiro, nas mãos de uma das maiores quadrilhas de sequestradores
descobertas no país. O líder do
grupo, Pedro Ciechanovicz, 48,
está preso e foi indiciado por oito
crimes de sequestro.
Ciechanovicz disse à polícia que
dois homens da quadrilha estavam presentes no evento, realizado em uma escola de Sabino, ouviram sobre Bertin e o seguiram
até em casa, em Lins. Depois passaram a estudar seus hábitos.
Os detalhes do caso e de outras
vítimas estão em dez páginas do
depoimento que o sequestrador
deu aos delegados Ivaney Cayres
de Souza e Everardo Tanganelli
Júnior, do Denarc, nesta semana.
No dia em que abordaram Bertin na fazenda dele em Sabino, segundo sequestrador, o grupo o seguia desde Lins, a 25 km dali. Na
fuga, trocaram de carro três vezes
para despistar a polícia.
Agiram em um domingo porque precisariam passar por dentro da cidade de Lins.
Com exceção da cúpula da quadrilha, os demais não se conheciam. ""Quero esclarecer que não
sei a identidade dos demais participantes pois em razão do tipo de
crime somente se usa codinome",
afirmou. Para a polícia, mais um
indício das técnicas de guerrilha
usadas pela quadrilha.
Segundo Cayres, a quadrilha se
dividia em células. Ciechanoviz
era da coordenação, havia núcleos que escolhiam as vítimas e
outros de carcereiros, que vigiam
as vítimas durante o cativeiro.
Em outro sequestro, de mãe e filha ocorrido no Mato Grosso do
Sul, o sequestrador disse que costumava falar em espanhol. Queria
que elas pensassem que eram um
grupo de estrangeiros.
No do empresário Roberto Benito Júnior, da rede Lojas Cem,
pegaram a vítima no trajeto entre
a casa dele e o trabalho. Mandaram para a família fotos suas com
armas apontadas para a cabeça,
parte da estratégia para sensibilizar e pressionar familiares.
Mesmo depois do pagamento
do resgate, ficaram dois dias com
o empresário preso. Queriam
contar os dólares que receberam e
verificar se não eram falsos, afirmou Ciechanovicz aos delegados.
Ontem, o Denarc encerrou o inquérito sobre quadrilha e o enviou à Justiça. Dos 38 integrantes
identificados, 13 estão presos,
dois morreram, e os demais estão
foragidos. Parte deles pode estar
escondida no Paraguai.
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